Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Morte e ameaças a jornalista no Vale do Paraíba

Há alguns meses, o empresário Fernando B. Costa foi assassinado com 12 tiros, às 10 horas, na frente de várias pessoas, no Jardim Aquarius, em São José dos Campos (SP). O crime continua sem solução. Pistoleiros de aluguel estão por toda parte e costumam decretar a lei do silêncio e exigir o fechamento de estabelecimentos comerciais. Uma violência que as autoridades não conseguem conter.

O banditismo forte e organizado é denunciado pelo radialista João Carlos Alckmin Barbosa nas manhãs de sábado pela rádio Piratininga, quando entram no ar também os jornalistas Percival de Souza e Carlos Brickmann.

No começo da noite da quinta-feira (5/7), a bala de uma pistola Magnum 357, destinada a João Alckmin, atingiu o pescoço do advogado Rodrigo Duenhas. O pistoleiro, de mais ou menos 1,70 de altura, ficou de tocaia por algum tempo, na rua Leopoldo Roni, Jardim Esplanada, em São José dos Campos, perto do escritório da advogada Tânia Lis Nogueira, esposa do radialista, com quem o advogado baleado trabalha. Quando as duas pessoas entraram no carro, o marginal, imaginando que poderia matar João Alckmin, se aproximou, atirou e atingiu no pescoço de Duenhas, que havia pedido uma carona. Ele foi socorrido pela Polícia Militar e passa bem após ser internado na Santa Casa local.

Fomos à Rádio Piratininga na manhã de sábado (7/07) e conversamos com João Carlos Alckmin. Aqui, a sua versão sobre os fatos.

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Como você vê esse incidente, acha que o atentado era dirigido a você?

João Alckmin – Não acho, tenho absoluta certeza disso pelo combate que venho dando às máquinas caça-níqueis e à banda podre da polícia civil de São José dos Campos. Temos bons policiais, mas existe uma banda podre extremamente perigosa e, com certeza, partiu dela o atentado contra mim. Não existe motivo para terem feito isso com o dr. Rodrigo, pois ele não advoga no crime, é uma pessoa tranqüila, um jovem estudante que pretende prestar concurso à magistratura.

O bandido que disparou estava atocaiado, próximo ao escritório?

JA – Estava, sim, inclusive deixou várias bitucas de cigarros, provas que a polícia não recolheu. Digamos que a investigação foi um tanto quanto desleixada.

Quem foi o delegado encarregado pela ocorrência?

JA – No momento, foi o dr. Fábio Carvalho Joaquim, mas o problema foi o grande número de policiais presentes ao local, aproximadamente uns 40 ou 50, talvez pela comoção, e isso pode prejudicar as investigações, já que muita coisa pode ter sido deixada de lado.

Sabendo de sua campanha contra as máquinas caça-níqueis, acha que pode ter relação com o crime?

JA – Eu comecei com a campanha há uns quatro anos, quando estava na Rádio Planeta. O Antônio Leite foi ameaçado por policiais e pediu que eu saísse da emissora. Vim para a rádio Piratininga onde o dono, Seme de Neme Jorge, também foi ameaçado, mas agüentou o tranco e mantém o programa no ar.

Na época o Grupo de Repressão ao Crime Organizado (Gaerco) denunciou vários policiais. Como foi isso?

JA – Isso mesmo, os promotores denunciaram vários delegados, o dr. Roberto Monteiro, o dr. Agnaldo Fracarolli, o dr. Sérgio Lisboa e os investigadores Marcelo Biga, Ishizaki e outros policiais que estariam arrecadando em torno de 600 mil reais mensais em São José dos Campos. As máquinas eram identificadas por um selo da corrupção colado em cada uma.

Foi a partir daí que começou a perseguição com você?

JA – Com as denúncias no ar, comecei a receber cartas anônimas, jogaram uma língua bovina no escritório da minha mulher. Eu e o jornalista Lincoln Brasil fomos ameaçados por supostos policiais do Deic para que parássemos de falar dos caça-níqueis. Foi o começo e agora tivemos esse atentado contra o advogado Rodrigo Duenhas. Com certeza, o visado era eu.

Como você vê as máquinas funcionando, apesar da proibição?

JA – Estão retirando as máquinas do centro da cidade, mas nos bairros elas continuam funcionando e a polícia faz que não vê. Eu faço a pergunta: se a Polícia Militar tem também a obrigação de apreender as máquinas, por que não faz isso? Será que os militares não andam na periferia, no Campo dos Alemães, no Interlagos?

O pessoal não tem alvará municipal para o funcionamento dos caça-níqueis e a prefeitura não fala nada. Como é que fica?

JA – O prefeito é omisso, está prevaricando. Temos uma lei municipal proibindo o funcionamento das máquinas caça-níqueis em bares, padarias e similares e o prefeito municipal, Eduardo Cury, nunca faz nada para coibir.

E isso se estende às barracas que têm alvará destinado à venda de artesanato e comercializam CDs piratas e contrabando?

JA – Exatamente, prevaricação da autoridade pública.

Você está em São José dos Campos desde quando?

JA – Há 23 anos. Fiz muito rádio na década de 60, na Rádio Difusora e na Excelsior. Comecei com o Antônio Celso, o criador do famoso slogan: ‘Viaje com a Excelsior, a Máquina do Som’. Em São José, passei por algumas emissoras, como a Grande Vale, a Universal e a Planeta. Estive em São Paulo, no Sistema American Sat de Rádio. Estou novamente na Piratininga, aqui em São José, uma terra de que gosto. Minhas filhas nasceram aqui.

Veio de onde?

JA – Vim de São Paulo, capital. Sou filho de desembargador. Poderia ter feito direito, mas preferi enveredar pelo jornalismo. Vem daí a minha ligação com o Percival de Souza, Carlos Brickmann, James Wackel e outros. Durante a minha juventude, respondi a trinta e cinco variados processos, inclusive políticos. A polícia civil de São José chegou ao cúmulo de pesquisar os meus antecedentes, envelopar e mandar para várias pessoas.

O dr. Godofredo Bittencourt, quando chegou a São José, declarou tolerância zero aos caça-níqueis. As máquinas continuam funcionando. Como vê isso?

JA – Das duas uma: ou o dr. Bittencourt não manda, ou ele perdeu a autoridade. Acho que ninguém mais segue as suas determinações. Ele mesmo decretou tolerância zero e estamos vendo que é mentira. A nossa viatura de externa está nas ruas denunciando que São José dos Campos está infestada de caça-níqueis.

Então a organização criminosa dona das máquinas é mais forte do que a polícia civil?

JA – Deve ser. Tenho informações que na capital a arrecadação mensal é em torno de 600 milhões de reais. Em São José é de 600 mil reais e é difícil acabar com isso.

Consta que a mídia joseense é atrelada e comprometida. O que acha disso?

JA – Não há o que discutir, é verdade. A mídia é omissa, as rádios e jornais recebem verbas da prefeitura. No meu caso, não tenho e não aceito verba oficial. Tenho o meu patrocinador, que é uma fábrica de pneus BS Colway. Sou amigo do dono. Faço rádio com prazer.

E como vê a sua esposa envolvida nisso tudo?

JA – Resumo numa frase: a Tânia é uma rocha. Pode até vergar, mas não quebra.

Se o atentado era para acontecer com você, como se sente quanto à sua proteção pessoal?

JA – Continuo levando a vida da mesma forma. Acho que esses vagabundos desclassificados que moram nas sombras devem ficar lá. Volto a dizer: não tem macho nessa banda podre para me matar. A Polícia Federal não vai se envolver porque o crime não foi contra a União. A polícia civil não tem gente suficiente e não é essa a função da polícia militar. Então, terei que me virar pelos meus próprios meios.

E o programa vai continuar na mesma linha?

JA – Não tenha a menor dúvida. O que me dá alento são os colegas da imprensa. Continuo no Show Time normalmente, batendo, nos sábados a partir das 10 horas da manhã.

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Depois de ter sido assaltada quatro vezes, a filha mais velha de João Alckmin e Tânia foi estudar nos Estados Unidos e a mais nova está morando com parentes em outra cidade. O vice-presidente da OAB de São José dos Campos, Sérgio Bacha, afirmou que todas as providências estão sendo tomadas no sentido de exigir a elucidação desse crime, ainda mais por envolver um advogado.

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Jornalista, São José dos Campos, SP