Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Não acredite em nós

O eleitor roraimense deve ficar muito atento para o que começou a ser divulgado e massificado pelos veículos de comunicação. Sabe-se, infelizmente não é novidade, do atrelamento político da imprensa local (impresso, rádio e televisão) principalmente nessa época do ano. Não falo aqui como jornalista, mas como um cidadão qualquer que sonha com um país mais justo. Por isso, mesmo comprando briga com os ‘paus-mandados’ e donos desses jornais, achei por bem escrever este artigo para alertar o roraimense enquanto há tempo, meses antes das eleições.


O caro leitor deve pensar: ‘Esse cara é louco? Só pode estar querendo perder o emprego. Em tempo de campanha vai falar da linha editorial dos jornais? Vai bater de frente com gente ‘grande’. Pirou! Viajou na maionese. Tá arrebentado!’ Corro o risco consciente, mas o momento é propício para o alerta. Eis então o motivo que me levou a tocar novamente na ferida dos ‘doutores’ da informação: infelizmente, ainda existe gente que acredita em tudo o que vê, escuta e lê. São verdadeiras ‘Maria vai com as outras’.


Dia desses, vejam só, um senhor batia boca com outro ao balcão de uma panificadora. Seu argumento tinha como base uma matéria que lera num periódico local. Não suportando tamanha ilusão, vendo os dois discutindo por uma informação ‘plantada’, me meti na conversa e aos poucos fui mostrando que toda aquela discussão não valia a pena. Ao fim do bate-boca, quando consegui convencer os dois de que o determinado jornal trabalhava para o político fulano de tal, ambos me olharam e não acreditaram no que haviam escutado. ‘É mesmo?’, disse espantado um dos senhores.


– É, meu amigo… Aqui é assim. Cada político tem seu veículo de comunicação e o usa como bem entende. Portanto, não se deixe enganar tão fácil. De agora em diante tome muito cuidado com o que você lê, escuta e assiste – alertei.


Dinheiro sujo


Os mais desprovidos de senso crítico ainda acreditam nas notícias veiculadas no impresso, na rádio e na TV do candidato fulano de tal. Esse público, que é a grande maioria, não consegue enxergar o que há por trás da informação, ou qual a verdadeira intenção da notícia. Observe que em tempo de eleição tudo é ‘maquiado’ com um único propósito: conseguir seu voto. Para isso, os candidatos usam seus jornais para ‘detonar’ adversários e grupos políticos. E, nessa hora, o que menos importa é você, ouvinte, leitor ou telespectador. O desrespeito é total.


Já que estou tocando no assunto, vou confessar uma coisa aos leitores: me deu vontade de rir quando soube que a Justiça fiscalizaria a atuação desses veículos de comunicação, em cumprimento a uma série de determinações previstas no pacote de medidas eleitorais. Pronto! Vão fechar tudo… Então, o que está faltando? Será que os homens de preto não assistem televisão, não escutam rádio ou não lêem jornais?


Qualquer roraimense sabe a quem pertence o jornal tal, a TV tal ou a rádio tal, quem são os testas-de-ferro, de onde vem o dinheiro que sustenta esses veículos etc… Aqui, observamos com nitidez os jornais defenderem patrões e atacarem seus adversários com freqüência. Estou mentindo? Portanto, caro leitor, ouvinte ou telespectador, não acredite em nós. Saiba que estamos aqui apenas para satisfazer a vontade do patrão. Se ele mandar bater, a gente bate, se ele mandar falar bem, a gente fala. É assim que funciona o jornalismo roraimense em tempo de eleição, infelizmente. Ora, bolas! Nosso salário também é pago com dinheiro sujo. Recebemos apenas para escrever o que os ‘doutores’ mandam, caso contrário ficamos desempregados, como agora estou.

******

Jornalista, Boa Vista, RR