Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Notícias da violência

 

Ganha destaque nas edições de quinta-feira (26/4) dos jornais paulistas a notícia dando conta de que a incidência de crimes violentos aumentou escandalosamente em todo o estado de São Paulo nos últimos doze meses, com maior incidência na capital. Os indicadores de homicídios dolosos – quando há intenção de matar – subiram 79,25% na região metropolitana de São Paulo, voltando a atingir níveis considerados epidêmicos.

Os números do primeiro trimestre de 2012 indicam que não se trata de um ciclo isolado: entre janeiro e março deste ano 1.137 pessoas foram assassinadas em todo o estado, em 1.073 ocorrências – algumas delas consideradas chacinas. No trimestre, o mês de março foi especialmente desastroso, com um aumento de 80% em relação ao mesmo mês do ano passado.

A incidência concentrada na capital, onde foi anotado um crescimento de 14% dos casos no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o primeiro trimestre de 2011, puxa as estatísticas preocupantes para cima e indica a necessidade de algumas reflexões. A mais evidente é a constatação de que a estratégia do governo, muito comemorada pela imprensa no final do ano passado, não apresenta um resultado sistêmico.

Fora  da curva

Segundo uma socióloga citada pela Folha de S.Paulo, não se pode dar crédito às ações da polícia no combate ao homicídio, porque mesmo os períodos de redução relativa na violência se devem menos à eficiência do sistema público de segurança do que ao controle exercido pela principal organização criminosa em atuação no estado.

Assim, o número de crimes violentos pode oscilar conforme a estratégia do crime organizado – que em São Paulo responde pela sigla PCC (Primeiro Comando da Capital) –, que não tem interesse em chamar atenção, por exemplo, para as zonas onde pratica o tráfico de drogas.

A queda no número de latrocínios – roubo seguido de morte – é um dos indicadores desse fenômeno que estaria apontando a influência do interesse do crime organizado em evitar chamar a atenção da polícia para suas atividades mais lucrativas. Esse indicador também pode ser observado na comparação com o fato de que dispararam as ocorrências de roubo de carros.

Os jornais evitam analisar mais profundamente esse fenômeno, no qual os crimes que dão lucro ao PCC se tornam mais frequentes, porque correriam o risco de ter que afirmar que o governo depende do crime organizado para manter sob controle a violência.

Observados num prazo mais longo, os indicadores apontam uma grande oscilação nos volumes de ocorrências por período, o que significa que a estratégia de segurança pública não inibe a cultura da violência, que persiste latente e pode explodir sob qualquer motivação. Em março de 2010, por exemplo, tinha havido uma explosão no número de homicídios, com 407 casos no estado, nível semelhante ao dos 393 assassinatos de março deste ano.

Uma das autoridades ouvidas pelos jornais chega a afirmar que esses são indicadores pontuais, “fora da curva”, argumentando que os homicídios podem estar associados a situações imprevisíveis e até às condições climáticas, como dias mais quentes e menos chuvosos, quando as pessoas passam mais tempo fora de casa e bebem mais. Mas a “explicação” baseada em causas aleatórias não pode ser engolida passivamente pelos jornais.

Outra São Paulo

Os indicadores mostram que houve também um grande aumento em outros tipos de violência, como no caso dos estupros, que apresentaram uma assustadora elevação de 13,91% na capital e 13,49% no estado no primeiro trimestre do ano.

Outras formas de atentados, associadas, mostram um quadro preocupante: houve um crescimento geral de todo tipo de violência contra a pessoa, embora a violência associada a ações que rendem dividendos para os criminosos esteja diminuindo de forma consistente.

Aparentemente, o crime está sob controle no estado de São Paulo. Sob controle dos criminosos.

Mas nem tudo são más notícias. A Folha de S.Paulo relata, por exemplo, que o prefeito da capital, Gilberto Kassab, e a cúpula do sistema policial do estado foram homenageados na quarta-feira (25) pela associação de moradores AME Jardins, no Museu Brasileiro da Escultura.

Liderados pelo empresário e apresentador de TV João Dória Jr., moradores ilustres do Jardim Europa, bairro que lidera o ranking de preços de imóveis, agradeceram solenemente a queda de 11% no número de furtos e de 35% nos casos de roubos, além da ação eficiente da prefeitura na remoção de camelôs, na arborização, na melhoria da iluminação pública e na manutenção do asfalto das ruas.

“Mobilização tamanha das autoridades não se viu em 2010, por exemplo, quando o Jardim Pantanal (zona leste) afundou nas águas imundas do rio Tietê, deixando milhares sem casa”, observa a reportagem.

Os índices de violência no outro país chamado São Paulo foram divulgados apenas horas depois da festa nos Jardins.