Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O fim de três anos de silêncio

Caro Carlos Aranha, faz mais de dois anos você noticiou minha demissão da CBN relacionando-a com pressões de [Paulo] Maluf. Sua análise rapidamente repercutiu, seguindo-se noticiários no Comunique-se e no Observatório da Imprensa, revista Imprensa, mais os telegramas de Walter Salles e Frei Beto e o grande número de jornalistas que assinaram e apoiaram um manifesto em meu favor.

Hoje à noite, fazendo uma pesquisa sobre Maluf no site da televisão suíça TSR, encontrei um despacho do correspondente dessa televisão em São Paulo naquela época, no qual Maluf citava o jornal Tribuna de Genebra e acusava esse jornal de ter ligações com um representante da esquerda brasileira. Era esse o elo que me faltava na compreensão de minha demissão – o representante da esquerda brasileira, segundo o artigo, era eu. Pena eu não ter lido, naquela época, esse noticiário, pois teria entendido melhor minha demissão.

É verdade que, em outubro de 2001, numa viagem ao Brasil fui alertado cordialmente por um colega, que na verdade teria sido um homem de recados, para suspender meus boletins sobre as contas de Maluf. Respondi também cordialmente que não tivera medo da ditadura e não teria de Maluf.

E, então, logo depois de meu retorno à Suíça, no dia 25 de fevereiro 2002, fui demitido, sob pretexto de economia, logo refutado pelo site Comunique-se, que falava em contratações.

Como afirmei a Comunique-se, como lhe escrevi no meu e-mail para ‘Essas Coisas’ e como falei numa entrevista à Rádio Nederland, nunca tive elementos para provar ter sido uma demissão política. É verdade que, em conversa telefônica com outros colegas, me afirmaram ter havido participação direta de Heródoto Barbeiro nessa demissão. Chegaram a me contar que, depois de um de meus boletins sobre as contas de Maluf, o ex-prefeito de São Paulo, que estava na linha ao vivo, respondeu aos brados de ‘mentiroso, mentiroso’, sem que eu pudesse responder, pois minha ligação tinha sido cortada depois de ter dado minha assinatura – Rui Martins, direto da Europa para a CBN.

Reconfortado pelos colegas, que se manifestaram em meu favor pelo site Comunique-se, e pela corrente de ouvintes que se formou e divulgou um manifesto, cujos textos de introdução eram do cineasta Walter Salles, de Frei Beto e o seu artigo ‘O caso Rui Martins’, publicado no Correio da Paraíba, evitei até hoje qualquer pronunciamento a respeito.

Ora, nesses três anos que se passaram (meus primeiros boletins sobre as contas de Maluf foram de agosto de 2001, que deram origem a reportagens de meu colega suíço Jean-Noel Cuenod, na Tribuna de Genebra, uma delas, com meu nome, citada e mostrada no primeiro Fórum Social de Porto Alegre pelo prefeito de Genebra Manuel Tornare; não se pode esquecer que foi a Tribuna de Genebra quem deu credibilidade às denúncias junto à Justiça suíça) minhas informações se mostraram verdadeiras e, neste último ano, acabaram sendo repercutidas por toda a imprensa. Entende-se: Maluf perdera sua importância, o quadro político mudara e mesmo seus antigos protetores participaram da malhação geral.

Decidi sair hoje do longo silêncio, depois da exclusão forçada que me privou do acesso a milhões de ouvintes e de um salário, para que, enfim, a história mal contada de minha demissão seja tirada a limpo. Punido por ter contado a verdade, desejo apenas uma coisa – ser reabilitado e ser a pedra de escândalo para os que me silenciaram.

(*) Jornalista, ex-CBN



Resposta da CBN

Mariza Tavares

Agradeço a oportunidade deste espaço para esclarecer, mais uma vez (e espero que definitivamente), o único motivo do afastamento do jornalista Rui Martins da equipe de colaboradores da CBN. Em 2002, a emissora atravessava dificuldades e a diretoria decidiu fazer ajustes no orçamento de todas as áreas para enfrentar a crise. Uma destas ações foi o afastamento de Rui Martins. Logo em seguida, iniciamos a parceria com a BBC Brasil, que se tornou a maior responsável pelo fornecimento de conteúdo internacional para a CBN. Portanto, a decisão teve cunho apenas administrativo, e não político. A CBN é uma emissora reconhecidamente isenta, que dá espaço à pluralidade de opiniões e não faz concessões a pressões política ou econômicas. Heródoto Barbeiro, âncora da CBN desde a sua criação, é a personificação deste conceito que exercitamos diariamente, e a interpretação do jornalista Rui Martins carece de qualquer consistência.

(*) Diretora-executiva da CBN