Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O Estado de S. Paulo

ANOREXIA & AMNÉSIA
Fabiana Cimieri e Valéria França

Quando a ditadura da moda fica insuportável

‘Figurar entre as mulheres mais lindas, elegantes e famosas da moda significa sujeitar-se às rígidas exigências do setor: é necessário ter mais de 1,70 metro de altura e menos de 90 centímetros de largura de quadril. Portanto, uma modelo com 1,80 metro veste calça tamanho 36. ‘Esse é o perfil da passarela e, se a modelo engordar, não tem jeito, ela não desfila’, diz Eli Haddid, dono da agência Mega.

No mercado há 25 anos, Haddid compara a pressão do mundo da moda à enfrentada por craques como Ronaldo. ‘Muito gente achou que ele sofreu com a pressão para emagrecer na época da Copa’, diz. ‘Mas era o jeito para ele jogar um bolão. O mesmo acontece com as modelos nas passarelas.’

Há quem não suporte. Camila Bueno, de 26 anos, largou a profissão há seis meses. ‘Eu me sentia como mamão na feira’, diz. ‘Todo mundo olha, apalpa, diz se está bom ou ruim.’ Com 1,80 de altura, 62 quilos e 93 centímetros de quadril, ela escutou várias vezes em testes que não servia e era gorda. ‘Não ligava, mas as garotas mais novas, às vezes, piram.’

Camila foi descoberta por um caça-talentos quando passeava no Shopping Santa Cruz, depois de um plantão no Hospital São Paulo, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo – ela é fisioterapeuta. ‘Vestia jaleco branco e não usava nenhuma maquiagem.’ Na época, Camila estava com 24 anos, mas parecia ter 18. Foi contratada imediatamente.

A pressão que fez Camila desistir não vem de hoje. A advogada Sandra Daniela Vieira, fora das passarelas há dez anos, conta que, na sua época, a obsessão com a magreza já era insuportável. ‘Estava com 20 quilos abaixo do considerado normal para minha altura e mesmo assim achavam que tinha de emagrecer’, afirmou. ‘Eu tinha 16 anos e não agüentei a pressão.’

Quando ainda era modelo, Rosane Hawke, hoje bióloga com 30 anos, cedeu à obsessão pelos padrões das passarelas. Acabou anoréxica. Por mais que emagrecesse, ainda se achava gorda. Desenvolveu o que os médicos chamam de distorção de imagem. Na verdade, seu maior problema, este irreversível, era a altura. Baixinha para uma modelo, mede 1,66 m. ‘Mesmo assim achava que não conseguia fazer sucesso por estar gorda. Cheguei a pesar 45 quilos.’

Recuperada, Rosane veste tamanho 38. ‘A anorexia é aparentemente inofensiva, mas progride silenciosamente e o doente nunca quer se tratar’, diz ela.

‘Como tenho mais idade que a média das garotas que trabalham, sempre tive mais equilíbrio e estabeleci quais eram os meus limites’, diz Camila. As new faces (novatas) começam aos 13 anos de idade. ‘Elas vêm do interior, são inseguras e despreparadas’, diz Mauro Fisberg, pediatra, que atende modelos das principais agências.

Encaradas como cabides elegantes, elas têm de se adaptar ao produto da vez. ‘Precisam lidar com o fato de que sempre vão ter um defeito, ora o biotipo, ora o tamanho do quadril’, diz Camila. ‘O jeito é levar com bom humor. Ou cair fora.’’



INTERNET & DEMOCRACIA
Paulo Moreira Leite

Site rastreia contas do governo

‘Num pequeno escritório em Brasília trabalham quatro estagiários, um engenheiro de informática e um economista com diploma da PUC do Rio de Janeiro que simbolizam uma mudança notável na maneira de o cidadão brasileiro acompanhar a atuação do governo. Eles fazem o portal Contas Abertas (www.contasabertas.com.br), especializado em acompanhar o movimento daquela mercadoria que funciona como principal termômetro para avaliar uma administração e suas prioridades – o dinheiro.

Com uma respeitável marca de 250 mil acessos mensais, o Contas Abertas esteve por trás de boa parte das revelações que ajudaram os brasileiros a conhecer as decisões de Brasília. A partir de dados capturados no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), o portal demonstrou que o governo só gastou 35% das verbas destinadas a segurança de vôo que poderiam ter impedido o caos nos aeroportos. O Contas Abertas também rastreou convênios assinados pelo governo Lula para pavimentar a reeleição e ainda revelou que uma entidade ligada ao Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST), que participou de deprimentes cenas de baderna no Congresso, recebeu benefícios públicos da ordem de R$ 5,7 milhões.

Embora produza informações de maior utilidade para a oposição, o que é esperado em toda atividade que fiscaliza o governo, durante a campanha presidencial Lula chegou a usar seus dados – e citar a fonte – para defender-se da acusação de que gastava muito dinheiro com viagens. Usando uma série histórica do Contas Abertas, Lula mostrou que, levando em conta a inflação, os gastos de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, foram mais altos.

Lançado em dezembro do ano passado, o Contas Abertas é a encarnação mais vistosa de uma mudança de costumes que a internet está produzindo no cotidiano político, como aponta o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ). ‘Nem o Bill Gates sabe todas as mudanças que a internet vai trazer para o mundo’, afirma Miro Teixeira. ‘Mas de uma coisa nós já sabemos: ela tornou mais difícil mentir ou dizer bobagem.’

O Contas Abertas não é o único exemplo. O site Transparência Brasil, que levantou a folha corrida de parlamentares candidatos à reeleição, faz parte do mesmo fenômeno. No esforço para atrair um público mais amplo – sua platéia equivale a um quinto daquela conseguida pelo Contas Abertas -, o Portal da Transparência, criado pela Controladoria-Geral da União, anuncia um conjunto de novidades a serem implantadas em 8 de dezembro, Dia Mundial de Combate à Corrupção.

As mudanças anunciadas são três: o usuário poderá chegar ao nome de qualquer beneficiário de uma ordem de pagamento do governo a partir de seu nome completo ou registro na Fazenda, seja o CPF ou CNPJ. Também se promete acesso imediato aos gastos em viagem de qualquer funcionário – e até consultas por ordem alfabética.

O Contas Abertas ocupa um lugar especial como fiscal do governo e nasceu pelo casamento de duas distorções. O portal é uma ONG que tem uma senha nível 9 – a mais ampla da legislação brasileira, mais elevada que a de um ministro de Estado. O documento é exclusivo de deputados e senadores, já que envolve acesso a informações que não são de acesso público. Só que o portal foi criado por Augusto Carvalho (PPS-DF), então deputado distrital. O cargo não lhe dava direito à senha, mas ele pegou emprestada a que pertence ao senador Roberto Freire (PE), colega de partido. Para fazer pesquisas em áreas mais sofisticadas do Siafi, o portal ganhou direito a uma mesa de trabalho no gabinete do deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) – pois o acesso a esses arquivos só é possível para os computadores instalados dentro do Congresso.

O site definiu em seu estatuto que não recebe verba de nenhum governo e tem aceito parcerias privadas. Uma delas foi com o Unicef, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, que o contratou para monitorar gastos do governo com crianças carentes. Outra foi com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), para quem faz levantamentos de interesse dos empresários, como obras de infra-estrutura e logística. Dois deputados, Fernando Gabeira (PV-RJ) e Sérgio Miranda (PDT-MG), também ofereceram suas senhas para serem usadas, em caso de necessidade. Mais de 90% das pesquisas atendem a pedidos de jornalistas.

É curioso que um parlamentar distrital – equivalente a estadual – tenha feito mais pela divulgação dos dados do Siafi do que os federais, enquanto muitos parlamentares até perdem a senha por falta de uso. Ex-líder sindical, antigo militante do PCB, Carvalho é um velho caçador de irregularidades em governos federais. Durante o governo Fernando Henrique, uma de suas revelações derrubou 12 assessores do então ministro Pelé em menos de 24 horas. Uma ministra caiu depois que o deputado divulgou ordens de pagamento agendadas pelo marido dela. A partir de fevereiro, Carvalho assume uma cadeira de deputado federal, para a qual foi eleito como o quarto deputado mais votado do Distrito Federal.

‘A forma mais politizada de discutir os atos de um governo é mostrar para onde vai o dinheiro’, afirma Carvalho. ‘Mais transparência gera mais controle social, que gera mais legalidade e qualidade nos gastos púbicos’, diz o economista Gil Castello Branco, que dirige as pesquisas no portal e, há mais de uma década, se habituou a discutir orçamentos em diversos ministérios.’



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Acesso a dados ainda é muito difícil para leigos

‘Raro parlamentar habituado a viajar pelos arquivos do Siafi, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) acha que os portais institucionais terão um papel ampliado quando puderem oferecer ‘uma linguagem amigável’ a quem tenta fazer uma consulta. ‘Isso fará toda a diferença.’

Para o cidadão comum, encontrar um dado de interesse relevante no Contas Abertas exige um conjunto de seis operações que não são simples para quem é leigo na terminologia da administração pública. Muitos dados surgem de forma isolada na tela e sua importância se revela apenas quando se consegue fazer conexão entre vários números – com freqüência, isso depende de um pedido direto ao site, que responde após vários dias de espera, por causa da falta de braços para a lavoura.

Graças a um esforço da equipe de informática, o portal criado pelo deputado Augusto Carvalho (PPS-DF) atualiza a maioria das informações no prazo de 24 horas. É uma ginástica dos tempos modernos, em que a palavra parece ter virado número. Os algarismos surgem na tela em série, em que cada grupo pode representar seres variados – seja uma unidade do governo ou uma ordem de pagamento. A Câmara dos Deputados tem um portal que oferece dados com uma defasagem de dois ou três dias. O mesmo ocorre com o Senado.

O Portal da Transparência tem uma atualização mais lenta. A explicação é que, trabalhando com dados mensais, depois de conferidos e chancelados em cada órgão, só pode divulgar informações num prazo mais demorado, que pode chegar a um mês e meio.

‘Nosso portal mostra, para qualquer usuário, quem foi favorecido por qualquer ordem de pagamento do governo’, afirma José Geraldo Loureiro, diretor de sistema de informações da CGU, responsável pelo Portal Transparência. Até os beneficiários do Bolsa-Família são relacionados, nome a nome – e esse dado é usado pelas prefeituras. Mas as informações estão organizadas pela arquitetura dos órgãos públicos, que têm nomes e codinomes que o cidadão comum ignora. Embora muitos gastos governamentais sejam mantidos sob a rubrica secreto – o que sempre atiça a curiosidade -, Loureiro garante que ‘não se conhece nenhum governo, em parte alguma do mundo, que ofereça informações sobre seus gastos com tanta transparência’.

‘Enquanto não for acessível para todos, sem dificuldade, a sociedade não poderá controlar o que se gasta’, diz Miro. ‘É preciso conhecer para poder cobrar.’

Mas até lá é possível fazer sondagens instrutivas. Investigando despesas para prevenção de acidentes e gastos com desastres naturais em 2006, o Contas Abertas chegou a uma descoberta fantástica. O governo tinha uma verba de R$ 112 milhões para prevenir desastres naturais. Preferiu economizar e só gastou R$ 21 milhões. Acabou gastando mais dinheiro. As tragédias ocorreram e, para remediá-las, foi preciso desembolsar R$ 101 milhões. Ou seja, R$ 10 milhões a mais.’



TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Ethevaldo Siqueira

A importância estratégica do armazenamento

‘‘No mundo moderno, todas as informações são reduzidas a bits. Esse processo de digitalização, aliado ao desenvolvimento das tecnologias de armazenamento de massa (mass storage), tem revolucionado a gestão empresarial. As corporações passam a depender cada dia mais de meios seguros e confiáveis de armazenamento e recuperação de dados. Até o usuário individual já ganha consciência da necessidade de assegurar backups ou redundância confiável de todos os seus dados profissionais ou pessoais. Imagine-se, então, a atenção que deve merecer o armazenamento seguro dos dados da vida de cada empresa. Storage, na expressão internacional, se transformou em condição essencial para o progresso e a competitividade não apenas das grandes corporações, mas também das pequenas e médias empresas.’

Essa é a visão de David E. Roberson, presidente e CEO da Hitachi Data Systems Corp. (HDS), empresa baseada em Santa Clara, no coração do Vale do Silício. Enfrentando gigantes como a IBM, a EMC2 e a Sun Microsystems, entre outras, a HDS integra o grupo japonês Hitachi, que fatura US$ 84,4 bilhões por ano e investe mais de US$ 3 bilhões em pesquisa.

O grupo Hitachi, ressalta David Roberson, adota uma filosofia de pesquisa e desenvolvimento bastante diferenciada, com elevados investimentos em pesquisa básica, coisa rara entre as grandes corporações, atualmente.

Por que as empresas deixaram de investir nesse campo de grande significado para o futuro da tecnologia? A resposta de David Roberson é clara e direta: ‘Em geral, isso acontece por falta de recursos. As grandes empresas não estão dispostas a pagar pelo custo mais elevado e pelos riscos da pesquisa básica. Mas é ela que garante o futuro a longo prazo e que nos permite a verdadeira inovação, a descoberta de novas tecnologias e novos caminhos, não apenas para o armazenamento mas para todas as formas de processos digitais.’

POR QUE ARMAZENAR?

Para o presidente da HDS, o armazenamento se tornou elemento estratégico na economia moderna: ‘No mercado atual, os negócios dependem fundamentalmente das informações, como recurso para gerar competitividade. A disponibilidade e a confiabilidade dessas informações, por sua vez, dependem de uma infra-estrutura de armazenamento capaz de assegurar o acesso, a garantia e a proteção dos dados. É nesse mundo que atua a HDS, cuja estratégia se volta agora para a inclusão do maior número de pequenas e médias empresas’.

A tecnologia de armazenamento está evoluindo rapidamente. Embora tudo indique uma evolução de sistemas móveis como hard disks (HDs) e fitas para sistemas fixos e sólidos do tipo flash, todas essas tecnologias ainda deverão ser utilizadas por muito tempo, em função das vantagens de cada uma, seja nos custos, na velocidade de acesso ou de transferência de dados.

Na realidade, o armazenamento digital se baseia essencialmente em processos de virtualização, ou seja, no conjunto de técnicas para ocultar as características físicas dos recursos de computação. O objeto virtual se opõe ao real ou efetivo, da mesma maneira que uma imagem em espelho se diferencia da imagem real de um objeto. Tudo que se armazena é, em última instância, bits. Logo, a virtualização é uma decorrência do processo de digitalização da informação (voz, dados e imagens).

Os produtos utilizados pelas corporações são, na realidade, softwares e hardwares capazes de oferecer soluções confiáveis para o armazenamento, a segurança, a confiabilidade e a recuperação de dados e informações. No caso da HDS, seus produtos específicos são denominados Business Continuity, Gestão de Área de Armazenamento (SAM) e Gestão de Ciclo de Vida das Informações. Esses recursos tecnológicos estão disponíveis na América Latina e no Brasil, onde a HDS atua desde 1993 e tem clientes como o Banco do Brasil, Banco Central, HSBC, Unibanco, Bradesco, Petrobrás, Serpro, Nossa Caixa, Telemig, Claro, Vivo e Embraer.

DIGITALIZAÇÃO

O processo de digitalização consiste, em última instância, em transformar todas as informações em bits – ou seja, em unidades binárias de informação. Para o computador, só existem dois dígitos: o zero (0) e o um (1). As palavras ou bytes são combinações infinitas de zeros e uns (1001011001010…).

Para o usuário comum, parece algo misterioso que todo o funcionamento dos equipamentos e serviços de telecomunicações, tecnologia da informação ou de eletrônica de consumo se baseie nessa estranha linguagem de zeros e uns. No entanto, é exatamente isso que acontece com o conteúdo do celular, do computador, da internet, da fotografia digital, do DVD e, em breve, do rádio e da televisão. Por isso, dizemos, o mundo da comunicação e da informação se transformou num gigantesco aglomerado de bits.

Mais interessante ainda é o processo de pacotização que se desenvolve a partir da expansão avassaladora da internet. Os bits se agrupam em pacotes, com o protocolo IP (de internet protocol), e se tornam uma segunda linguagem digital. É esse processo que vivemos hoje.’



TELEVISÃO
O Estado de S. Paulo

Record enfia o pé na jaca

‘Rede não se acanha em iniciar sua próxima novela na mesma semana da estréia da trama da Globo e busca quebrar a hegemonia da rival na teledramaturgia

Dezenas de atores – alguns conhecidos e outros, nem tanto – se acomodaram em um dos estúdios do Recnov, o complexo de estúdios da Record em Jacarepaguá, no Rio, para a coletiva de imprensa da novela Vidas Opostas, de Marcílio Moraes, que estréia terça-feira, às 22 horas. A empolgação, às vezes exagerada, parece freqüentar os estúdios da Record. Desde a sua inauguração, há 1 ano e meio, os ânimos estão em alta. Segundo um funcionário da casa, vindo da Globo, as pessoas lá trabalham felizes, porque há estímulo e bons salários, sem o estrelismo global.

Hora de passar o clipe da novela. Alguns atores se sentaram no chão – não por falta de lugar, pois havia cadeiras vazias. Buscavam um bom ângulo para enxergar o telão e para sair bem nas fotos, já que ganharam destaque dos fotógrafos. A cada cena, aplausos; a cada palavra do diretor de Teledramaturgia da Record, Hiran Silveira, mais aplausos e gritinhos, por vezes histéricos. Todo mundo parecia feliz e integrado, no maior clima de ‘já ganhou’, como dizem no jargão futebolístico. A aposta da Record no sucesso de seus três horários de novelas – promessa já feita pelo SBT e nunca cumprida – é grande. E contagia todos os 1.100 funcionários do Recnov. Tudo correu bem demais, fora o barraco protagonizado pela atriz Ana Ferraz, namorada de Marcelo Serrado e ex-mulher de Ângelo Paes Leme, que também estão no elenco de Vidas Opostas. A moça, que provavelmente perderá seu papel na novela, arremessou um copo de refrigerante no ex-marido, após levar um gelo de seu atual namorado.

Marcelo Serrado saiu cedo da coletiva, a atriz Tássia Camargo não queria falar com os jornalistas. Nem Jussara Freire nem Márcio Garcia apareceram por lá. Já atores nem tão conhecidos estavam loucos para colaborar com a imprensa. Nesse bloco estavam a ex-Big Brother Juliana Lopes e os protagonistas Leo Rosa, e Maytê Piragibe. O casal contracenará com nomes experientes como Cecil Thiré, Lucinha Lins e Íris Bruzzi.

Apesar de contar com ilustres desconhecidos, a trama amealhou bons atores como Heitor Martinez Corrêa, Leandro Firmino e Phellipe Haagensen – os dois últimos, com Cidade de Deus, filme de Fernando Meirelles, no currículo. A melhoria faz parte da estratégia do canal para fazer frente à Globo. ‘Foram dois anos de implantação para estabelecer os horários que a gente pretendia estabelecer – com três novelas na grade, o que todo mundo prometeu fazer e ninguém conseguiu’, fala o diretor de Programação da Record, Hélio Vargas. ‘O segredo agora é melhorar o conteúdo das produções, manter os horários e melhorar as histórias, os elencos, a qualidade e o nível dos diretores.’

Atenção diluída

Segundo o diretor, a estratégia da Record na teledramaturgia foi traçada para se tornar competitiva em quatro anos. ‘Nós estabelecemos projeto de crescimento de audiência de quatro anos e estamos na metade do caminho’, conta Vargas. ‘Competir diretamente com as novelas da Globo é um outro estágio. A gente quer dar oportunidade para o telespectador ver o trabalho. Ele já tem uma afinidade com as novelas da TV Globo e a gente quer dar a alternativa para que ele veja um outro trabalho, no mesmo nível.’ A idéia é partir para a competição, assim que essa primeira etapa esteja concluída.

Vidas Opostas não concorrerá com a nova novela das 7 da Globo no ar, mas, ao estrear na mesma semana de uma produção da líder, repleta de grifes no elenco, a novela da Record se submete ao risco de perder espaço editorial nos jornais e revistas dedicados às novidades televisivas – sem falar na inevitável diluição de atenção do público entre duas estréias e na tendência de se memorizar mais o produto do canal onde a audiência é maior.

O autor de Vidas Opostas diz que é coincidência. Na emissora, ninguém parece preocupado com isso. ‘Agora há muitas novelas (a Band estreou na semana passada sua ‘Paixões Proibidas’) e isso é bom para a gente’, diz Moraes, ex-funcionário da Globo. ‘Acho que à medida que a gente for fazendo boas novelas, o público vai se acostumar a assistir novela na Record. O horário está bom. Seria interessante brigar de cara com a Globo, mas a novela é polêmica e, nesse horário, dá para ir mais fundo.’

Globo X Record

Vidas Opostas conta uma história com personagens que mostram a realidade brasileira já retratada no cinema, com a exclusão social, a corrupção policial e a violência urbana. Pé na Jaca se passa em uma cidade fictícia e traz a comédia de Carlos Lombardi em uma trama que envolve personagens que sofreram um baque na vida e tiveram de começar do zero. Em comum, os enredos têm um elemento: a esperança.

A emissora dos Marinho não ignora completamente o avanço da Record. Segundo Carlos Lombardi, a Globo não pressiona a equipe por causa da concorrência, mas cobra ‘mais atenção’. ‘Tanto (não há pressão) que estou fazendo uma novela sob vários aspectos experimental e tudo bem’, fala o autor.

Mas Marcílio Moraes conta que saiu da Globo após quase 20 anos de empresa, justamente porque não podia experimentar. ‘Estava insatisfeito’, desabafa. ‘O que eu queria fazer, eles não queriam. Apresentei vários projetos lá. O que eles queriam que eu fizesse, eu não queria.’ Para Marcílio, a troca foi valiosa. ‘Foi bom entrar na Record porque me abriu caminhos. Na Globo eu estava muito fechado.’

Apesar de terem tido tratamento diferenciado na Globo, os autores concordam que a competição é saudável para a teledramaturgia. Para Lombardi, a briga por audiência é boa, mesmo que implique ver uma fórmula sua na trama da emissora concorrente como no caso de Bicho do Mato, que abusa dos descamisados e tem uma pitada de Uga Uga – folhetim de Lombardi – no enredo. ‘A competição é fundamental. E não acho isso clonagem. Acho isso trabalhar dentro dos parâmetros de linguagem da telenovela brasileira. A Globo clonou a Excelsior e a Tupi quando começou? Não, contratou vários de seus profissionais. Isso não é clonar, é trabalhar. Precisamos de alternativas de trabalho’, defende Lombardi. O autor não informa se foi sondado para integrar o casting da Record, mas afirma que tem contrato com a Globo até 2010.

Marcílio Moraes fechou acordo com a Record até 2008. Vidas Opostas é sua segunda novela na rede. A primeira foi Essas Mulheres (2005). De lá para cá, diz o autor, a Record mudou muito estruturalmente. ‘O investimento cresceu muito’, afirma. ‘Essas Mulheres foi feita em São Paulo, em estúdio pequeno; quase não podíamos fazer externas. Hoje é um mundo. A diferença é essa. Tem recurso que não tinha antes.’ No Recnov, complexo de estúdios da Record em Jacarepaguá, a vida de autor, diretor e equipe técnica foi facilitada e o Rio oferece paisagem sem igual. ‘O Rio tem essa vocação de novela. É uma cidade bonita.’

Onde está meu ator?

Com tantas produções de teledramaturgia no ar – são quatro na Globo, três na Record, uma na Band e uma em produção no SBT – autores e diretores sofrem na hora de escalar seus atores. Moraes não abre se queria escolher algum ator já comprometido com outras produções da casa ou de outras emissoras, mas Lombardi não se acanha. ‘Há vários. Inúmeros’, diz. ‘Escalar uma novela é trabalhar dentro do possível. Temos uma ótima escalação. O que não quer dizer que não tenhamos tido que improvisar, ousar, procurar, ouvir vários ‘nãos’ – como também ver muitas pessoas que estavam na nossa lista serem absorvidas por outras produções, principalmente da própria Globo’, fala Lombardi. E continua: ‘Faz anos que tento trabalhar com (Antônio)Fagundes, mas no fim renovaram o Carga Pesada e ele ficou inalcançável. O mesmo com Christiane Torloni. Mas não é a primeira nem a última vez que isso vai acontecer. É parte do jogo.’

À medida que a Record avança, a Globo tem de se esforçar para não ficar estagnada e não perder profissionais para a concorrência. Já a Band corre atrás do prejuízo, tentando fazer sua indústria de teledramaturgia – até se alojou em um estúdio no Rio, também em Jacarepaguá – prosperar. Só o SBT que não mantém o ritmo de produções próprias. E um chavão se aplica à realidade: com a concorrência, quem ganha é o público. Como diz Marcílio Moraes, ‘monopólio é ruim para os profissionais, para o público e para o País.’’



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Em Portugal

‘Vidas Opostas estréia terça-feira, às 22 horas, na Record. Seguindo o estilo Globo de fazer novelas, a trama de Marcílio Moraes teve cenas gravadas na Europa, em Portugal. O autor anuncia que o enredo é ousado, pois trata de ‘corrupção policial e exclusão social’. O horário colabora com a trama, que contará com armamento pesado nos morros cariocas: quem comanda a bandidagem são Leandro Firmino, que já assustou muita gente como o Zé Pequeno do filme de Fernando Meirelles, Cidade de Deus, e Heitor Martinez Corrêa.

‘Mas tem os ingredientes de qualquer folhetim’, conta Moraes. ‘Há a história da Cinderela.’ Sim, a protagonista vivida por Maytê Piragibe mora na favela, mas é atuante nos projetos sociais do morro. E o mocinho interpretado por Léo Rosa é um playboy que se apaixona pela mocinha pobre. O autor até colocou o seu hobby na trama: a escalada. Vidas Opostas foi escolhida pela Record entre três sinopses apresentadas pelo autor. É a mais violenta. As outras falariam de esportes radicais e de romance de época.

Na França

Pé na Jaca, trama das 7 que estréia amanhã na Globo, teve cenas gravadas em Paris. Segundo o autor Carlos Lombardi, a novela conta ‘uma história sobre a segunda chance’. Começa com cinco crianças que ficam amigas durante as férias no interior de São Paulo. ‘Passadas as férias, cada uma retoma seu rumo: a filha do fazendeiro vai estudar em São Paulo, a filha da costureira vai estudar no colégio de freiras em Piracicaba, a filha da lavadeira e o filho do colono de fazenda vão para o grupo escolar da cidadezinha de Deus me Livre, que tem mais goteiras que aulas, e o sobrinho do dono do sítio volta para sua vida de classe média em São Paulo’, resume o autor.

Após mais de 20 anos, os personagens levam uma vida razoavelmente estável, mas, por motivos diversos, sofrem um baque que os fazem perder o que construíram nos últimos anos. ‘Praticamente precisam recomeçar do zero. Numa análise um tico mais profunda, eles são vítimas de suas próprias contradições, anseios e erros de cálculo. Começar de novo depois dos 30 é difícil’, fala Lombardi.’

Leila reis

Em má companhia

‘Nosso ano atípico, entrecortado pela Copa do Mundo e eleições quase gerais, não vai terminar em brancas nuvens na TV. Pelo contrário, este finzinho de 2006 apresenta uma movimentação fora dos padrões normais. Explicando melhor: neste ponto, perto das festas de fim-de-ano, é comum as emissoras estarem preocupadas em preencher a grade com ‘especiais’ e retrospectivas. Com exceção da Globo, que usa esse período para testar novas idéias – humorísticos, em especial – é praxe deixar estréias para depois do carnaval, quando tradicionalmente começa o ano na TV (ou no Brasil?).

Mas não, terça-feira, a Record põe no ar Vidas Opostas, escrita por Marcílio Moraes, em substituição a Cidadão Brasileiro, de Lauro César Muniz. A pretensão da emissora é repetir a trajetória de Cidadão no Ibope, que registrou média em torno de 10 pontos (Grande São Paulo), índice bom para a faixa de horário. Vidas Opostas – como uma baciada de novelas nacionais e mexicanas – é calcada no romance entre um milionário e uma mocinha pobre.

A atualização da história é feita às custas da realidade carioca: a Cinderela é uma favelada e líder comunitária. Ela e seu amor quase impossível vão enfrentar a bandidagem do morro (ela namorou um rapaz cooptado pelo crime organizado) e as maldades da ex-noiva chique do príncipe.

A Bandeirantes investe pesado no seu Romeu e Julieta: R$ 26 milhões, locações e elenco bi-nacional (Brasil e Portugal). A intenção é consolidar o horário das 22 horas para novelas, o que já vinha sendo trabalhado com a reprise de Mandacaru, comprada da finada Manchete. O mercado acreditou no projeto e Paixões Proibidas entrou no ar com R$ 16 milhões de patrocínio garantido.

A novela estreou com 3 pontos de média no Ibope, 1 a menos do que registraram os últimos capítulos de Mandacaru. Meio decepcionante, mas não imprevisível. Como é o corrente na área, conquista-se público graças a uma certa homogeneidade na programação. Por isso se fala em ‘entregar’ audiência. É mais ou menos assim: se um programa vai bem no Ibope, as chances desse público ser conquistado pelo que vem a seguir são grandes. Então o comum é colar atrações com perfis de audiência parecidos. Quer ver? Malhação entrega para O Profeta, que entrega para SP TV, que passa para a novela das 7. Ou seja, oferece-se uma seqüência para quem aprecia novela.

Agora, o que tem a ver a pregação do Show da Fé com uma novela adulta, salpicada de momentos picantes (seios nus e violência sexual) como se apresenta Paixões Proibidas? Certamente, pouquíssima coisa, pois (imagina-se) não ser esse o tipo de entretenimento adequado aos fiéis ao culto eletrônico do pastor Ronaldo Soares. Então é de se deduzir que Paixões Proibidas começa do zero porque tem de conquistar cada espectador no momento em que estiver zapeando.

Mas seria bom se a novela fosse vista por mais gente, porque é bem-feitinha. A direção, cenografia, figurinos, iluminação, a maioria das interpretações e o texto são muito bons em Paixões Proibidas. Nos papéis-chave, atores competentes – Flávio Galvão, Antonio Grassi, Graziela Moretto, Celso Frateschi, Suzy Rego – dão sustentação à trama e apoio à parte do elenco menos experiente. A direção de Ignácio Coqueiro é competente, mas deve-se ressaltar a ousadia da Band de entregar ao quase iniciante Aimar Labaki a responsabilidade de assinar a trama.

A coragem é recompensada pelo vigor dos diálogos. A história de Labaki, inspirada em romances de Camilo Castelo Branco – Amor de Perdição, Mistérios de Lisboa e O Livro Negro do Padre Dinis – tem um ritmo e densidade pouco comuns no terreno das novelas. E isto é saudável à entidade televisão.’



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