Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

O uso da infância

Assistir à TV aberta aos domingos não é uma experiência prazerosa. Faltam iniciativas interessantes que substituam os programas de auditório, que se repetem a cada semana com a mesma fórmula. Em vez de apostarem em produções mais criativas, para buscar elevar a audiência, os canais acabam apelando.

Já teve de tudo: o polêmico sushi erótico, em que mulheres seminuas eram transformadas em bandejas cobertas com comida japonesa para o deleite dos convidados masculinos; a brincadeira da banheira, na qual casais, de biquíni e sunga, disputavam qual deles conseguiria tirar o maior número de sabonetes; e os aviõezinhos de dinheiro jogados para a platéia.

Nas últimas semanas, mais um triste episódio entrou para a história. Mas, desta vez, a protagonista foi a infância. Ao participar de duas edições do Programa Sílvio Santos, do SBT, a menina Maísa, de apenas seis anos, apresentadora infantil, chorou em frente às câmeras (ver aqui e aqui).

É digno, ético, engraçado?

Na primeira vez, ela se assustou com um garoto vestido de monstro. Na segunda, foi ridicularizada por ser medrosa. Confusa, ainda bateu com a cabeça em uma das câmeras do estúdio.

Nos dois momentos, enquanto Maísa berrava e chorava, o apresentador Sílvio Santos e a platéia – em sua maioria formada por mulheres e possivelmente mães – riam da menina. As cenas já viraram febre no YouTube.

Alguns dizem que tudo pode ter sido combinado nos bastidores. O fato é que houve um desrespeito com a infância. É digno e ético usar uma criança para tal fim? É engraçado? Podemos aprovar tal atitude? Lamentável. O Ministério da Justiça advertiu o canal.

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Jornalista, professor e especialista em Educação e Mídia