Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Onde começa a violência

Entre 18h25 e 18h30 de segunda-feira (8/12), a Rede Globo manteve no ar uma cena de violência, na qual um rapaz agredia uma jovem dentro de um banheiro. Duas horas depois, o Jornal Nacional exibia uma reportagem sobre violência.


A cena anterior é parte da rotina de novelas, minisséries e filmes apresentados pela emissora. A reportagem é o início de uma série que pretende denunciar a banalização da violência a partir de fatos do cotidiano.


A primeira reportagem da série abordou os casos de assédio nas escolas, que a imprensa está tratando pela expressão em inglês bullying, mostrando como pequenos atos de intolerância entre crianças e adolescentes podem evoluir para casos de violência grave.


A edição foi elaborada com cuidado para mostrar a relação entre esses atos aparentemente banais, muitas vezes tolerados pelas direções das escolas, e os números que fazem do Brasil um dos lugares mais violentos do mundo.


Mas, pelo menos no trabalho inicial, a série prometida pela emissora se limita a uma escola de classe média de Minas Gerais. Quando os jornalistas chegarem às escolas públicas vão constatar que 83,4% dos estudantes declaram estudar em ambientes submetidos a atos de violência. A pesquisa foi feita em 2004 pela Unesco, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.


Novelas liberadas


Houve 50 mil mortes violentas no Brasil em 2006. Para se ter uma idéia de proporção, no Iraque em guerra 34 mil civis foram mortos no mesmo período.


Entre 10% e 12% dos assassinatos em todo o mundo ocorrem no Brasil, que possui apenas 3% da população mundial.


A primeira reportagem da Globo, que tem transcrição e vídeo no site globo.com, enuncia que o grau de civilidade de um país se mede pelo número de crimes com mortes. Os estudiosos citados pelos jornalistas dão fundamentação teórica consistente à tese da banalização de pequenas agressões como causa importante do grande problema nacional.


A Globo anuncia o prosseguimento da série de reportagens. Só não se espere que a emissora, seu site, sua central de informações e seus jornais um dia consigam enxergar alguma relação entre o fenômeno da banalização da violência e certas cenas apresentadas em novelas liberadas para horário infantil.