Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Organização repudia atentado contra jornalista

No dia 15 de maio de 2008, o repórter Edson Ferraz, da TV Diário (afiliada da Rede Globo em Mogi das Cruzes, na grande São Paulo), dirigia para casa sozinho no carro da emissora, por volta das 22h, quando foi fechado por um veículo escuro com dois homens encapuzados dentro. O motorista atirou duas vezes na direção do carro de Ferraz e fugiu em seguida. O jornalista não sofreu ferimentos e os tiros não chegaram a acertar o carro.

‘A ARTIGO 19 acredita que Edson Ferraz foi atacado porque é jornalista, e pede às autoridades que investiguem o caso imediatamente e com independência. O atentado contra Edson Ferraz é mais uma indicação de que a violência contra jornalistas continua sendo um problema sério no Brasil, com consequências sérias para a liberdade de expressão e de imprensa’, afirmou Agnès Callamard, diretora-executiva da ARTIGO 19.

Edson Ferraz trabalha com matérias investigativas e vem acompanhando denúncias de corrupção e extorsão envolvendo policiais civis. No dia 7 de maio de 2008, uma matéria de Ferraz veiculada no telejornal SPTV noticiou que 13 integrantes do Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos (Garra) do Alto Tietê, da Polícia Civil de São Paulo, haviam sido denunciados pelo Ministério Público por extorsão, corrupção e lavagem de dinheiro. Os policiais foram acusados de receber propina de donos de máquinas caça níqueis, desmanches de carros roubados e casas de prostituição.

Em declarações à imprensa local, Ferraz afirmou acreditar que foi vítima de uma tentativa de intimidação. Ele relatou que, no dia anterior ao atentado, recebeu um telefonema em que um homem não identificado alertava que ele deveria tomar cuidado.

A Secretaria de Segurança Pública informou que a Corregedoria da Polícia Civil está investigando o caso, e que nenhuma hipótese pode ser descartada neste momento.

Casos graves

Jornalistas que cobrem o tráfico de drogas e a participação de policiais no crime organizado têm sofrido ameaças freqüentes nos últimos anos. Uma pesquisa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) revela que jornalistas cobrindo denúncias contra máfias e grupos de policiais estão sujeitos a uma série de ameaças – sendo que os policiais envolvidos em atividades criminosas são os mais temidos pelos repórteres [RAMOS, Silvia e PAIVA, Anabela. Mídia e Violência: tendências na cobertura de criminalidade e segurança no Brasil. Rio de Janeiro, IUPERJ, 2007].

O atentado contra Edson Ferraz remete a três casos graves de violência contra jornalistas no ano passado. Em maio de 2007, o jornalista Luiz Carlos Barbon Filho foi assassinado em Porto Ferreira, no interior de São Paulo. Ele havia publicado matérias denunciando casos de corrupção e aliciamento de menores. Em setembro, o jornalista Amaury Ribeiro Jr. foi baleado na periferia de Brasília, depois de fazer reportagens para o jornal Correio Braziliense sobre a violência no entorno do Distrito Federal. Em novembro, o radialista João Carlos Alckmin levou dois tiros em São José dos Campos. Ele vem denunciando em seu programa a atuação de uma máfia dos caça-níqueis no município.

******

Artigo 19 é uma organização independente de direitos humanos que trabalha em diversos países na proteção e na promoção da liberdade de expressão e do direito a informação. Seu nome vem do artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que garante a liberdade de expressão