Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Os novos brasileiros que a mídia não vê

As revelações sobre o perfil de consumo da nova classe média brasileira, reproduzidas pela imprensa digital e completamente ignoradas pela imprensa de papel, trazem informações fundamentais para entender como o Brasil se insere no contexto econômico mundial e por que razões alguns analistas mostram otimismo com o desempenho do País nos próximos meses.


A pesquisa realizada pela agência McCann-Erickson revela que o chamado ‘consumidor emergente’ já passou da fase de deslumbramento com suas novas possibilidades econômicas.


Essa camada da população agora se preocupa com o bem-estar da família ao invés do consumo individualista.


Trata-se da consolidação da ascensão de milhões de famílias que até recentemente estavam presas à pobreza e não faziam mais do que lutar pela sobrevivência.


São pessoas que estavam até poucos anos atrás à margem da cidadania.


São os novos brasileiros.


Eles são protagonistas importantes no processo de retomada da economia nacional.


Esse estudo, analisado em conjunto com a recente pesquisa sobre mobilidade social divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – e solenemente ignorado pela imprensa, diga-se de passagem – compõe um quadro cujo entendimento é fundamental para empresas, protagonistas de políticas públicas e investidores.


E para quem mais queira entender este país.


No entanto, quem quiser saber mais tem que ir às fontes primárias, porque os jornais ainda não entenderam a importância do tema.


São pelo menos 40 milhões de pessoas – o equivalente a toda a população da Argentina – que ascenderam socialmente graças à estabilidade econômica da última década e aos programas sociais implantados no Brasil nos últimos anos.


Registre-se que um fenômeno semelhante está ocorrendo em alguns outros países latinoamericanos, como o México, a Colômbia e a Venezuela, embora em proporções menores.


Essa é uma das razões pelas quais algumas instituições multilaterais, como o Banco Mundial e o FMI, apontam a América Latina, e, especialmente, o Brasil, como potenciais beneficiários de futuros investimentos internacionais.


A raiz do otimismo de alguns analistas está assentada nessa nova classe média.


Só a imprensa não vê.


Mobilidade social


O estudo da agência McCann Erickson oferece uma ótima oportunidade para reportagens sobre o novo perfil social brasileiro.


Talvez a imprensa ainda se interesse pelo fenômeno até o final da semana.


Ao constatar que a nova classe média se volta prioritariamente para a busca do bem estar da família, a pesquisa abre perspectivas muito valiosas para as empresas de todos os tipos, inclusive para as empresas de comunicação.


Abre-se até mesmo uma janela de oportunidade para jornais e revistas populares, desde que sejam planejados para atender a inteligência desse público.


Essa nova classe social possui aparelho de dvd, computador, telefones celulares e outros bens, mas não está voltada para o consumo desenfreado.


A descoberta de que esses brasileiros têm como característica a vida familiar e a busca solidária da qualidade de vida doméstica cria possibilidades inéditas de engajamento em campanhas de todos os tipos.


Mas é preciso inovar nas estratégias e desenvolver a abordagem correta.


Há exatamente dez anos, a revista Veja publicou uma animada reportagem sobre a mobilidade social, medida nos anos anteriores pelo IBGE na Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio.


Na ocasião, comemorava-se o fato de que os pobres que haviam ascendido nos vinte anos anteriores começavam a compor um novo grupo social, a classe média baixa, e representavam 23,7% da população.


Hoje, o IBGE constata que a renda dessa classe média aumentou e ela foi reforçada por um novo contingente de brasileiros que deixaram a pobreza, transformando-se na maioria – 52% da população.


Por que razão, então, a revista Veja e o resto da imprensa brasileira não parecem tão entusiasmadas?


Um palpite: como a imprensa, em peso, se posicionou contra as políticas sociais colocadas em prática nos últimos seis anos pelo governo federal e pela maioria dos governos dos Estados, teria que fazer malabarismos de raciocínio para concordar que o Brasil mudou para melhor.


E certamente está nesse fato a raiz da popularidade do atual presidente da República e de alguns governadores.


Todas aquelas manifestações condenando os projetos de transferência direta de renda teriam que ser jogadas no lixo.


E a imprensa, como se sabe, não costuma fazer auto crítica.