Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Paramilitares continuam a ameaçar jornalistas

Grupos paramilitares continuam a representar uma ameaça para jornalistas colombianos. O alvo mais recente é Herbin Hoyos, apresentador do programa Vozes do Seqüestro, da Rádio Caracol. Na semana passada, Hoyos informou à organização Repórteres Sem Fronteiras que deverá deixar a Colômbia por causa de ameaças de um grupo denominado Frente de Ação e Justiça para a Liberdade e Democracia, formado provavelmente por paramilitares de extrema direita.


Em junho, Hoyos foi até a prisão de Cómbita para fazer uma reportagem sobre as condições carcerárias de pessoas condenadas por tráfico de drogas que aguardam extradição para os EUA. O jornalista entrevistou diversos presos por celular, que relataram que suas extradições estavam sendo orquestradas pela polícia judicial colombiana e informantes trabalhando para a Administração de Combate às Drogas dos EUA (DEA). Os presos, acusados de narcotráfico e até mesmo de colaboração com a organização terrorista al-Qaeda, alegam inocência. O radialista começou a ser ameaçado de morte poucos dias após sua visita à penitenciária.


No dia 2/7, Hoyos recebeu um ultimato do grupo. ‘Não há sentido em defender delinqüentes que prejudicaram a Colômbia. Quem anda com perdedores é um perdedor. Você tem 72 horas para deixar o país’, dizia a mensagem eletrônica enviada ao jornalista. Quatro dias depois, Hoyos anunciou que não ficaria mais na Colômbia.


Ameaças de longa data


Em 1994, Hoyos foi seqüestrado por membros do grupo guerrilheiro Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e libertado duas semanas depois pelo exército. Desde então, ele dedica seu trabalho a cobrir casos de pessoas que são feitas reféns – atualmente cerca de três mil – ao longo da guerra civil que ocorre há 46 anos no país. Há quatro anos, um guarda-costas o acompanha permanentemente.


Instituições de proteção à imprensa já manifestaram suas preocupações com a atual situação dos jornalistas na Colômbia. ‘Embora oficialmente desarmados, muitos paramilitares estão se tornando gangues disfarçadas de grupos humanitários. Esta situação tem um impacto terrível na imprensa, que está em perigo de extinção em muitas regiões na medida em que cada vez mais jornalistas são obrigados a deixar o país’, afirmou a Repórteres Sem Fronteiras. ‘O governo, serviços de inteligência e autoridades jurídicas devem assegurar que ex-paramilitares realmente entreguem suas armas’, pediu a organização.


Nem ONGs escapam


Por quase uma década, a Fundação para a Liberdade de Imprensa – Fundación para la Libertad de Prensa (FLIP) – foi internacionalmente respeitada como uma ONG de Bogotá que divulga ao mundo ameaças de morte, assassinatos e outros perigos enfrentados por jornalistas colombianos. Agora, até a FLIP se tornou ‘alvo militar’ de um grupo que se autodenomina Frente Democrática Colômbia Livre.


O mesmo grupo também enviou uma mensagem com ameaças para Iván Cepeda, colunista de um semanário de Bogotá; para um grupo de direitos humanos formado por advogados; e para duas universidades. O e-mail, endereçado a ‘revolucionários disfarçados de ONGs, supostos líderes, advogados e jornalistas disfarçados de civis escondidos por trás de suas colunas’, acusava a FLIP e outras organizações e instituições de serem frentes de guerrilhas de esquerda que estão desacreditando a imagem da Colômbia na comunidade internacional.


‘Começamos a provar que não estamos brincando, deixamos os de Barranca mortos; mas não vamos demorar a agir nas capitais, como Barranquilla, Medellín, Cali, Bucaramanga e outras’, ameaçou o grupo, que aparentemente se referia a recentes ameaças de bomba contra funcionários do jornal El Heraldo de Barranquilla. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) afirmou em junho que pacotes que pareciam ser bombas foram entregues nas casas dos colunistas Armando Benedetti Jimeco e Ernesto McCausland Sojo, do El Heraldo. Os pacotes vinham acompanhados de um recado alertando: ‘Não te metas no que não é da tua conta. Na próxima vez, eu te faço explodir’. Um pacote semelhante foi entregue posteriormente na casa do diretor do jornal, Gustavo Bell Lemus, ex-vice-presidente da Colômbia. Segundo o CPJ, o diário vinha investigando e criticando casos de corrupção local.


‘Estamos preocupados com as ameaças a jornalistas e ONGs na Colômbia. Pedimos ao presidente Álvaro Uribe para condenar publicamente estes atos chocantes de intimidação, para fornecer medidas necessárias a fim de permitir que jornalistas continuem a fazer seu trabalho com segurança, e pedimos que cada ameaça seja investigada’, afirmou a diretora-executiva do CPJ, Ann Cooper. A FLIP pediu ao procurador-geral dos EUA para fornecer garantias de segurança à imprensa livre e a organizações civis. Informações da Repórteres Sem Fronteiras [10/7/06] e de Mark Fitzgerald [Editor & Publisher, 10/7/06].