Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Paz também para jornalistas?

A repórter do Globo Vera Araújo tirou com agilidade conclusões práticas a respeito da mudança de modalidade da ocupação da Rocinha: se ia ser pacífica, como se anunciava, ela poderia acompanhar tudo de dentro, captar o ponto de vista dos habitantes do morro.

Vera conta ao Observatório da Imprensa as precauções que tomou e como os acontecimentos se desenrolaram.

Certificou-se em telefonemas para moradores de que o clima era tranquilo, na medida em que os traficantes tinham decidido não reagir à entrada da polícia. Consultou os outros integrantes de sua equipe. O fotógrafo Marcelo Carnaval e o motorista concordaram. Todos vestindo coletes à prova de bala, em carro blindado, coberto de adesivos com a logomarca do jornal.

No caminho, encontrou o presidente da Associação dos Moradores, eleito com apoio ostensivo do traficante Nem. Léo da Rocinha aceitou o convite para entrar no carro e conversar durante alguns minutos. Era saudado por moradores no caminho. Confirmou que o clima era de tranquilidade.

Havia algo de diferente no ar. Nos últimos anos, carros do Globo vinham sendo recebidos com hostilidade. Agora, os moradores mostravam satisfação com a presença da imprensa, exibiam polegares voltados para cima.

Vera constatou que estava havendo uma espécie de desabafo coletivo. Críticas aos traficantes, necessidade de falar com jornalistas.

O carro foi estacionado numa curva bem iluminada, a mais larga da rua.

Às três da manhã de domingo, cenário de cidade fantasma. Às quatro, subiram blindados da Marinha. Poucos minutos depois, um grupo do Bope. O cabeça da fila viu o carro de reportagem, viu a repórter filmando, fez uma expressão de espanto e desagrado, depois prosseguiu. Os que vinham atrás pareceram ter incorporado a presença da reportagem com mais naturalidade.

A repórter descreve a cobertura no vídeo abaixo:

 

Eis a filmagem feita por Vera Araújo: