Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Perseguição à imprensa antes das eleições

O governo da pequena Gâmbia, localizada na costa oeste africana, vem sendo criticado pela prisão de reportéres e fechamento de jornais com o objetivo de silenciar os oponentes antes das eleições presidenciais em setembro.


Desde que o país foi sede da Cúpula da União Africana (UA) em junho deste ano, a situação agravou-se ainda mais, informou o Comitê para Proteção dos Jornalistas (CPJ). ‘A Gâmbia tornou-se um dos piores locais na África para jornalistas’, afirmou o diretor-executivo do CPJ Joel Simon.


Embora menos da metade da população de 1,6 milhão seja alfabetizada e a maior parte das publicações do país tenha uma circulação de apenas duas mil cópias, os jornais são uma das poucas entidades que criticam abertamente o presidente Yahya Jammeh, que assumiu o poder em um golpe militar em 1994. Em 1997, Jammeh venceu as eleições legislativas – consideradas pela oposição como fraudulentas.


Neneh MacDouall, ministro da Informação, entretanto, nega as acusações de censura à mídia. ‘Cedemos licenças a mais jornais e emissoras de rádio que anteriormente’, alegou, afirmando que no governo anterior era mais difícil conseguir tais licenças.


Segundo os jornalistas gambianos, prisões inesperadas de repórteres são comuns. ‘Somos vistos como inimigos’, desabafou Sam Sarr, editor do jornal de oposição Foroyaa.


Jornal fechado e repórter preso


A polícia fechou o principal jornal de oposição, The Independent, em março, depois de ele ter publicado um artigo que citou erroneamente um ex-ministro do Interior entre as 23 pessoas presas por planejar uma tentativa de golpe. No dia seguinte à publicação do artigo, o diário divulgou uma correção na primeira página, mas não adiantou: uma nova lei no país prevê sentenças de prisão de no mínimo seis meses por calúnia. Quatro dias depois da divulgação do artigo, a polícia invadiu os escritórios do jornal, prendeu todos no local e bloqueou suas portas, como informou Madi Ceesay, gerente do jornal e presidente do Sindicato dos Jornalistas de Gâmbia. O diário ainda permanece fechado.


O jornalista que escreveu o artigo, Lamin Fatty, ficou preso por 63 dias antes de ser oficialmente acusado, sendo libertado somente depois de pagar fiança – mesmo sendo contra a lei de Gâmbia manter um suspeito preso por mais de 72 horas sem propor uma demanda em juízo. Na semana passada, ele testemunhou diante da corte, mas o julgamento foi adiado para o dia 3/8.


Um ex-editor do Independent saiu do país depois de receber ameaças relacionadas a seu trabalho em uma nova publicação, o Daily Express, que acusou o governo de censurar a imprensa. A publicação foi fechada depois do lançamento de sua primeira edição.


Violência e impunidade


Musa Sheriff, repórter do semanário Gambian Magazine, viu seu nome em uma lista de pessoas acusadas de passar informação para o sítio Freedom Newspaper, administrado por um gambiano que vive nos EUA. Mesmo sendo apenas um assinante do sítio, ele ficou preso por oito dias e foi agredido por policiais na prisão.


Em dezembro de 2004, Deyda Hydara, repórter do Point, foi morto com tiros por um homem não-identificado. O caso ainda não foi resolvido. Informações de Heidi Vogt [Associated Press, 31/7/06].