Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Polônia exige retratação de jornal alemão

Uma charge dos gêmeos Kaczynski, presidente e primeiro-ministro da Polônia, publicada em maio em uma coluna satírica do jornal alemão Die Tageszeitung, abalou a já delicada relação entre os dois países e trouxe à tona mais uma vez o debate sobre os limites da liberdade da imprensa. No cartum, o primeiro-ministro Jaroslaw Kaczynski chama seu irmão Lech de ‘batata’. Na cultura polonesa o termo é pejorativo. A sátira criticava a visão míope do mundo por parte dos irmãos e terminava com uma provocação ao fato de Jaroslaw Kaczynski ainda viver com a mãe: ‘mas pelo menos sem um certificado de casamento’.


Os gêmeos pediram ao governo para agir contra o jornal e ameaçaram acusar legalmente o autor do cartum, Peter Köhler, de difamação. ‘Estamos imaginando por que não houve reação da opinião pública da Alemanha depois deste ataque brutal’, observou Andrzej Sados, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da Polônia. ‘Isto não foi um ataque aos políticos poloneses, mas a uma terceira pessoa, à mãe do presidente’, afirmou Sados.


Liberdade de expressão


Bascha Mika, que desde 1999 edita a seção satírica Taz, do Die Tageszeitung, afirmou que ‘monitorar o poder é tarefa da imprensa, e fazer graça com o poder também é trabalho da imprensa’. ‘Isto não parece ser muito evidente para os irmãos Kaczynski’, opinou ela.


No mês passado, o escritório do jornal em Berlim recebeu uma enxurrada de cartas de leitores poloneses, algumas com insultos a Bascha. Lech Kaczynksi, durante uma entrevista de rádio, afirmou que a sátira ‘ultrapassou todos os limites’. No dia 21/7, o escritório do promotor de Varsóvia informou que estava analisando se abriria um processo contra o autor da charge e se seria possível emitir um mandado de prisão pela União Européia para Köhler.


Ir à corte para pôr um fim aos insultos da mídia é um procedimento comum realizado por políticos por toda a Europa. Mas o advogado especializado em mídia Johannes Weberling disse que procurar um promotor estrangeiro para processar o jornal alemão seria um processo complicado. ‘Isto vai contra a idéia de valores comuns a um grupo, que a Europa está atualmente tentando conseguir’, disse.


Críticos políticos reconhecem que a política externa da Polônia assumiu um tom nacionalista, especialmente em relação aos países vizinhos Rússia e Alemanha. No país, mídias católicas ultraconservadoras como a Radio Maryja e o jornal Nasz Dziennik geralmente obtêm acesso exclusivo ao governo, informou Vincent Brossel, porta-voz da Repórteres Sem Fronteiras.


Provocação


O Nasz Dziennik, de propriedade do clérigo e empresário de mídia conservador Tadeusz Rydzyk, divulgou uma lista há duas semanas de correspondentes alemães que trabalham na Polônia. O artigo pedia aos leitores para ‘se lembrar dos nomes’. A editora alemã Bascha desaprovou a provocação. ‘Qual o objetivo disto? Todos os correspondentes devem ser considerados inimigos da Polônia? Parece que os irmãos Kaczynski estão preparando para atacar a imprensa livre’, afirmou Bascha.


Para o jornalista polonês Adam Krzeminsk, do semanário Polityka, a disputa é menos sobre os limites da liberdade de imprensa e mais sobre o que ele classificou de ‘relação neurótica’ entre os dois países – Polônia e Alemanha. ‘Ainda há certos complexos que devem ser trabalhados entre estes países’, opinou. Informações de Andreas Tzortzis [The New York Times, 7/8/06].