Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Revistas são recolhidas por críticas ao rei

Duas revistas marroquinas tiveram exemplares apreendidos pelo governo, na semana passada, acusadas de publicar artigos desrespeitosos ao rei e à moral pública. No sábado (4/8), foram confiscadas as revistas Nichane, em língua árabe, e sua irmã francófona TelQuel. A ação ocorreu menos de uma semana após discurso do rei Mohamed VI pelo fortalecimento da democracia no Marrocos.


A polícia recolheu cópias da Nichane e páginas de teste da TelQuel antes que a revista pudesse ser impressa, afirmou o editor-chefe Karim Boukhari. Segundo ele, o diretor das duas publicações, Ahmed Reda Benchemsi, foi interrogado em Casablanca no sábado e permaneceu sob custódia policial no domingo.


Editorial


As revistas teriam sido apreendidas porque continham um editorial assinado por Benchemsi com críticas ao rei, declarou o primeiro-ministro do país, Driss Jettou. Segundo o premiê, a Nichane ainda tem outros problemas, pois tenta publicar artigos que ‘ofendem o sentimento muçulmano e faltam ao respeito com sua majestade, o rei’. Poucos dias antes, Mohamed havia dito, em discurso televisionado, que as eleições parlamentares, marcadas para o próximo mês, fortaleceriam a democracia no Marrocos.


O editorial em questão afirmava que as eleições são algo sem efeito em um país onde o rei concentra grande parte do poder, contou um repórter da Nichane, que não quis se identificar porque está proibido de falar à imprensa sobre o assunto. Benchemsi, conhecidamente crítico ao rei, recebeu este ano o prêmio Samir Kassir de liberdade de imprensa por uma série de artigos na TelQuel, intitulada ‘Culto à Personalidade’, sobre a imagem pública do rei. Pela lei do Marrocos, é proibido criticar a monarquia, o Islã e a ocupação do Saara Ocidental.


As duas revistas costumam irritar o governo. No início do ano, a Nichane foi fechada por dois meses depois de publicar piadas consideradas ofensivas ao Islã. O episódio levou à saída do então editor Driss Ksikes. Em ocasiões recentes, as autoridades entraram com ações legais contra publicações e jornalistas e chegaram a bloquear o acesso ao sítio de compartilhamento de vídeos YouTube. Um relatório da organização Comitê para a Proteção dos Jornalistas, em maio, listou o Marrocos como um dos 10 piores países do mundo quando o assunto é liberdade de imprensa. Informações de John Thorne [AP, 5/8/07].