Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Soldados acusados de se passar por jornalistas

Soldados da Bundeswehr, Forças Armadas alemãs, estão sob investigação por suspeita de terem se passado por jornalistas na Bósnia para conseguir informações de possíveis terroristas, admitiu o Ministério de Defesa da Alemanha. Os soldados teriam se unido à missão da ONU na Bósnia, quebrando as normas oficiais do exército, e entrevistado cidadãos locais.

Bernhard Gertz, presidente da federação das Forças Armadas da Alemanha, disse que não havia sido apurado nada de concreto sobre o caso, mas declarou em um canal de televisão americano que era responsabilidade do exército ir a qualquer lugar e fazer o que puder nas áreas em que opera para descobrir algo que possa levar a ‘riscos e perigos’.

Em julho de 2003, Anela Kobilica, esposa de Bensayah Belkacem, prisioneiro na base militar americana de Guantánamo, em Cuba, recebeu dois homens que se apresentaram como jornalistas alemães em sua casa na Bósnia. Eles fizeram perguntas sobre seu marido, checaram documentos pessoais e tiraram fotos dela e de sua filha. A entrevista nunca foi publicada por algum veículo de comunicação. Os detalhes da visita, entretanto, foram divulgados no mesmo dia em um relatório do serviço secreto alemão em uma base militar na Bósnia. O relatório foi feito por um grupo dentro do exército que faz investigações sobre as áreas ao redor das operações das Forças Armadas.

No início, Anela não suspeitou que os homens não eram jornalistas. Desde que seu marido foi preso sob suspeita de atividades terroristas, em outubro de 2001, ela já foi entrevistada por diversos repórteres, incluindo alguns da revista Time e do jornal New York Times. As entrevistas eram sempre focadas na prisão do marido.

Ela contou aos ‘jornalistas’ o mesmo que havia contado aos outros repórteres: que seu marido havia sido preso juntamente com outros cinco homens, todos suspeitos de fazer parte do grupo Algerian Six, supostamente afiliado à al-Qaeda – mas todos foram soltos depois de uma campanha da Anistia Internacional e uma lei da corte da Bósnia, por falta de evidências. Depois de serem libertados, os homens foram levados por autoridades americanas em janeiro de 2002 para Guantánamo, mesmo com a decisão da corte.

‘Eles eram muito gentis, muito legais e muito calmos para serem jornalistas. E não deixaram cartão de visita’, lembrou Anela, afirmando que, quando quis contatar seu advogado antes de fazer a entrevista, os ‘jornalistas’ a convenceram de que não era necessário. Informações da Deutsche Welle [22/12/05].