Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Termo sobre Iraque gera acusações de partidarismo

Quando o apresentador Matt Lauer declarou no programa de TV Today na semana passada que a NBC começaria a se referir ao conflito no Iraque como ‘guerra civil’, ele começou inadvertidamente sua própria ‘guerra civil’ na mídia americana, opina Austan Goolsbee [The New York Times, 7/12/06]. A conservadora Fox News recusou-se a utilizar o termo, alegando que ‘não-iraquianos’ estão envolvidos no conflito. A partir daí, acusações de partidarismo surgiram em vários lugares. Jornais em todo o país já discutem sobre a questão há meses. O Los Angeles Times e o Christian Science Monitor oficialmente adotaram o termo ‘guerra civil’ para definir o conflito; o Washington Post optou por não usá-lo.

Consultores políticos como o republicano Frank Luntz tornaram-se lendários pelo modo como usam termos marcantes para tirar vantagem política, como ‘guerra ao terror’, em vez de ‘guerra ao Iraque’. Mas isso é esperado de políticos, não de repórteres. Quando o público percebe tendências partidárias nos noticiários, interpreta isto como evidência de parcialidade dos jornalistas e dos proprietários das empresas de comunicação.

Razões econômicas

Uma pesquisa realizada por dois economistas da Universidade de Chicago, Matthew Gentzkow e Jesse M. Shapiro, revela o que leva à inclinação na mídia, com base na análise de jornais americanos. A conclusão é que as tendências observadas na mídia refletem mais questões econômicas do que políticas. Os dois pesquisadores começaram a estudo com foco na política, analisando gramaticalmente as palavras usadas pelos políticos nos registros de 2005 do Congresso – onde encontraram as mil frases mais ditas por políticos naquele ano.

A pesquisa analisou então 417 jornais nos EUA, o que representa 70% da circulação total de jornais americanos, da mesma maneira como fez com os políticos, medindo termos usados por republicanos e por democratas nas páginas de notícias, e não nas opinativas. A conclusão é que jornais como Washington Times e Deseret Morning News usaram mais frases republicanas, enquanto títulos como San Francisco Chronicle e Boston Globe usaram mais termos democratas.

A revelação mais importante, no entanto, é que o que leva à inclinação partidária é o público do jornal, e não as preferências de seus proprietários. ‘Os dados sugerem que jornais estão tentando satisfazer a demanda dos seus clientes e por isso escolhem os termos que vão maximizar suas vendas’, explica Shapiro.