Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Terrorista do 11/9 acusado de matar jornalista

O presidente do Paquistão, Pervez Musharraf, afirmou que um dos homens que orquestraram os atentados de 11 de setembro participou também do brutal assassinato do jornalista americano Daniel Pearl, em 2002. A alegação está no livro de memórias do presidente, publicado esta semana.


O governo dos EUA e o jornal Wall Street Journal, para onde Pearl trabalhava, já haviam sugerido a participação de Khalid Sheikh Mohammed, um dos principais integrantes da al-Qaeda, no seqüestro e morte do jornalista. Na ocasião, entretanto, o governo paquistanês negou qualquer ligação dele com o crime. Mohammed nunca foi sequer citado nas investigações que levaram à condenação de quatro acusados pelo assassinato de Pearl. Três deles foram sentenciados à prisão perpétua e um recebeu pena de morte.


Informação omitida


Segundo Rohan Gunaratna, chefe do setor de pesquisa de terrorismo do Instituto de Defesa e Estudos Estratégicos de Cingapura, é sabido há tempos que Mohammed matou o jornalista com o intuito de provar ao Ocidente que a al-Qaeda continuaria a matar americanos após o 11 de setembro. ‘Mas o Paquistão nunca reconheceu isso oficialmente porque não queria arriscar que a informação levasse à soltura dos outros acusados’, explica.


Preso no Paquistão em 2003, hoje Mohammed permanece sob custódia dos EUA na Baía de Guantánamo, em Cuba. Segundo o livro de Musharraf, o terrorista teria ajudado ainda no atentado ao sistema de transporte de Londres, em julho de 2005, e em um plano para atacar o aeroporto de Heathrow com o seqüestro de aviões comerciais.


Segundo artigo de Paul Garwood [AP, 27/9/06], não ficou claro se as autoridades americanas abririam novas queixas contra Mohammed em função do assassinato de Pearl. Um representante da família do jornalista não quis comentar o assunto.


Evidência


Na quarta-feira (27/9), o advogado do paquistanês nascido no Reino Unido Ahmed Omar Saeed Sheikh, condenado à pena de morte pelo assassinato do americano, afirmou que irá apresentar o livro de memórias do presidente como nova evidência na apelação de seu cliente. O advogado afirma que usará o livro para apontar contradições nas acusações feitas a Sheikh.


No livro, Musharraf detalha como Sheikh planejou o seqüestro de Pearl, que estava no Paquistão para buscar informações sobre militância islâmica. Segundo o presidente, Sheikh levou o jornalista a acreditar que tinha conseguido uma entrevista para ele com um líder militante em Karachi. Pearl foi seqüestrado em 23 de janeiro de 2002, dia em que chegou à cidade, e seus restos mortais foram encontrados em 21 de fevereiro daquele ano.