Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Vai começar tudo de novo

Preste atenção nos rostos acima. Você ainda não os conhece. Mas eles já carimbaram suas identidades para a fama forçada e instantânea promovida pela mídia. Os 15 – e mais dois ainda não divulgados – são os selecionados da décima edição do BBB.

E para deixarem o anonimato e se tornarem seus brothers nos próximos meses, uma enxurrada de fatos sobre a vida deles, travestidos de reportagens, estamparão manchetes de jornais, revistas, programas de fofocas e afins, tudo para alimentar a fome de curiosidade do telespectador, ávido para conhecer as qualidades e fuçar os passados obscuros das futuras celebridades, ainda que com prazo de validade determinado.

Poucas se salvarão, reaproveitadas na Turma do Didi ou na próxima novela das oito. Outras estenderão a lembrança de seus nomes mostrando seios fartos e pelos pubianos nas páginas da Playboy ou em aparições em festas de todos os gêneros, desde que tenham a cobertura do TV Fama, atendendo pelo sobrenome ex-BBB.

Falar da vida alheia

Escravos da telinha, quem tem só Globo que dependa da boa (ou má) vontade dos diretores e editores de imagem para escolher o que será exibido logo mais, depois do capítulo inédito de Viver a Vida ou do Fantástico, entre os melhores momentos deste ou os piores daquele, com direito a músicas tristes ou alegres de fundo, cortes e animações. Ou que compre os direitos de um pay-per-view 24 horas para tirar por si mesmo conclusões de quem merece o título de mocinho para livrá-lo de um possível ‘paredão’, colocado ali por um ato maldosamente orquestrado pelos vilões do jogo.

Pode ser que você veja algo a mais pelas câmeras exclusivas, como um romance debaixo do edredom da jaula pós-moderna deste zoológico humano de personalidades caricaturadas domadas pela promessa de muita fama e dinheiro. Ou ouça um cochicho transmitido pelos microfones dos participantes diretamente para o portal de voz do BBB. E se isso render conversa no dia seguinte no trabalho ou nas rodas de conversa entre os amigos na escola, faculdade ou botequim, melhor ainda para os executivos da TV Globo, que encherão mais uma vez seus bolsos explorando o telespectador brasileiro – a maioria sem outras opções de entretenimento – com o formato de passatempo voyeur mais antigo do mundo: falar da vida alheia.

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Jornalista, Montes Claros, MG