Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Vereador ameaça jornalista no MS

Lá se vão 23 anos do fim da ditadura no Brasil e algumas pessoas ainda agem como se vivessem no regime autoritário. Uma época em que jornalistas eram perseguidos pela ditadura e seus coronéis por se oporem à repressão, lutando pelo direito da liberdade de informação. Como estudante de Jornalismo, acompanhei os últimos momentos do período mais brutal da nossa história e me senti aliviado com a volta da democracia. Pensei que estava livre da censura e das ameaças que tanto causaram mal à nossa sociedade.


Hoje, depois de 19 anos de profissão, percebo que estava errado. Infelizmente, acompanho pela imprensa nacional casos de jornalistas vítimas da fúria e intolerância de pessoas que se acham acima da lei e querem intimidar quem exerce a função de informar a verdade aos seus leitores. Sou mais uma vítima de quem acredita que a violência é o melhor caminho para calar a voz da mídia, como se a justiça não existisse.


Há duas semanas venho recebendo ameaças do vereador Paulo Pedra (PDT), da Câmara Municipal de Campo Grande, e de seus capangas, por ter publicado no site e na coluna em que escrevo, no dia último dia 17 de agosto, uma notícia com foto e denúncias feitas ao TRE-MS a respeito da investigação que a Polícia Federal realiza sobre suposto abuso de poder econômico e compra de votos nas eleições de outubro pelo parlamentar.


‘Vou te pegar’


As intimidações começaram no mês de agosto, quando um dos militantes da sua campanha, Rui Gerson Brandini, conhecido como ‘Gaúcho’, perseguiu meu veículo e avisou para que eu me cuidasse porque iria calar a minha boca de qualquer jeito. No mesmo dia, este homem, bastante alterado, invadiu meu local de trabalho com novas ameaças.


Depois disso, procurei a polícia para registrar um boletim de ocorrência. O fato gerou novas ameaças por telefone e mensagens de texto. Mais uma vez, registrei um BO. Quando tudo parecia se acalmar, o vereador Pedra, reeleito, ocupou a tribuna da Câmara Municipal para me condenar chamando-me de irresponsável. Além disso, fui agredido fisicamente por um filho do vereador, conhecido como ‘Kiko’. ‘Por que você falou mal do meu pai?’, perguntou, irritado. ‘Olha bem para mim, sou eu quem vou te pegar. Se você escrever mais uma linha sobre meu pai você está morto’, disse em tom de ameaça, depois de me dar um soco . O terceiro BO foi registrado.


Preço será cobrado


Essas atitudes não agridem apenas um jornalista. A censura e as ameaças são uma violência contra a liberdade de imprensa. Uma agressão a todos aqueles profissionais que não se corrompem e prezam por divulgar a verdade aos seus leitores, sem manipular a informação.


Se houve excesso ou mentira de minha parte, que não é o caso, existem meios legais para esclarecer os fatos. E isso é papel para o Judiciário. Não para um parlamentar que tem a responsabilidade de fazer leis. Pois não fica bem para um legislador estimular a violência e atos de selvageria condenados pela população. Aliás, não pode o PDT permitir que esse tipo de conduta, que arrasta atrás de si o bom nome do partido, passível apenas ao julgamento desta sociedade porque o preço, no futuro, será cobrado.

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Jornalista, Campo Grande, MS