Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Violência contra jornalistas brasileiros

O Brasil entrou na pauta dos grandes defensores internacionais dos jornalistas. E isso não é bom. Quando um país é assunto do Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ) ou dos Repórteres Sem Fronteiras (RSF), é sinal de que algo está errado na maneira como a profissão está sendo tratada por autoridades ou grupos de destaque do país.

Primeiro, RSF se manifestou, conforme divulgou este Observatório [veja remissão abaixo], denunciando e repudiando o assassinato do apresentador de rádio Samuel Roman, de 36 anos, em 20/4/04, em Coronel Sapucaia (MS), na fronteira com o Paraguai. Ele morreu em frente à sua casa com 11 tiros disparados por dois homens não identificados. Roman era muito popular na região, apresentava o programa A Voz do Povo e era dono da estação Conquista, que ficava em solo paraguaio, na cidade de Capitán Bado. Além disso, era conhecido por suas denúncias contra o crime organizado e o tráfico de drogas na região.

Em seguida, foi a vez do CPJ se pronunciar. Em comunicado no dia 29/4/04, o comitê se disse preocupado porque, na mesma semana, dois jornalistas brasileiros de rádio foram mortos. No dia 24/4, o radialista José Carlos Araújo, de 37 anos, que apresentava o programa José Carlos Entrevista na Rádio Timbaúba FM, foi morto em Timbaúba (nordeste de Pernambuco). O crime foi semelhante ao executado contra Roman: dois homens armados prepararam uma emboscada e atiraram contra o jornalista quando este chegava em casa. Como Roman, Araújo costumava denunciar corrupção e crimes locais.

Segundo a Folha de Pernambuco, em 28/4 a polícia prendeu Elton Jonas Gonçalves de Oliveira, um dos suspeitos de matar Araújo. Ele confessou o crime, afirmando tê-lo feito porque o jornalista o acusara, no ar, de ser um criminoso.

Já o assassinato de Roman permanece obscuro. Segundo a organização RSF [28/4], o delegado Antenor Batista da Silva Júnior disse que pretende elucidar o caso rapidamente. Em 22/4, a polícia paraguaia prendeu três suspeitos – Ricardo Antônio Machado, Fabiano Lucena dos Santos e Luciano Gregório de Lucena –, todos brasileiros, imediatamente encaminhados para a polícia brasileira. Um deles tem ligações com Fernandinho Beira-Mar.

Semelhanças tétricas

O caso do Brasil pode ser comparado com o da Colômbia, cujos principais agressores de jornalistas pertencem às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Se, por um lado, a Colômbia tem como agravante os paramilitares de extrema-direita, que também investem contra jornalistas, no Brasil os comandantes do crime organizado estão mais diluídos, mais descentralizados, o que acaba sendo mais perigoso para o profissional da mídia, que pode ser alvo de múltiplos agressores das mais variadas facções. Vide o caso do assassinato do repórter Tim Lopes, da TV Globo, em 2002, por traficantes do Rio.

Já seria motivo mais que de sobra para o Brasil se envergonhar de ser comparado com a Colômbia na forma de tratar jornalistas, considerado um dos piores países do mundo para se exercer a profissão – no ano passado, morreram nove jornalistas na Colômbia e no Brasil, quatro. Recentemente, as Farc e os paramilitares fizeram uma lista negra de 18 jornalistas que seriam mortos caso não deixassem a região de conflito que cobriam. A justiça colombiana pouco fez.