Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Cúmplices e comparsas

Se o governo federal confunde alhos com bugalhos ao propor o Conselho Federal de Jornalismo, Alberto Dines em ‘Contra o denuncismo, o peleguismo’, também confunde. Ele tira dos jornalistas das redações uma responsabilidade da qual compartilham perversamente no dia-a-dia. Pelo que escreve, Dines dá a impressão de que os jornalistas brasileiros são imparciais e lutam por interesses coletivos. Ele afirma que ‘o problema do nosso jornalismo não está nos jornalistas, está na concentração dos veículos de comunicação, na propriedade cruzada e está, sobretudo, em algumas empresas jornalísticas que desprezam suas responsabilidades e ignoram as contrapartidas sociais pelos privilégios oferecidos na Constituição do país’.

Aqui está o problema. Mas não são os jornalistas que colocam em prática a concentração dos veículos de comunicação? É ingênuo (ou maldade) supor que todos os empresários-patrões são maus e todos os jornalistas-empregados bons. O primeiro manda e o segundo obedece num jogo de interesses econômicos, políticos e ideológicos. Se o jornalismo atual é ruim por concentração, propriedade cruzada e por empresários que desprezam suas responsabilidades – no mínimo – os jornalistas são coniventes, cúmplices e comparsas.

Nas últimas décadas, a sociedade brasileira se organizou para exigir transparência no Executivo e no Legislativo. Isso tem ocorrido por meio dos conselhos municipais, estaduais e nacionais em várias áreas, como saúde, criança e adolescente, educação, entre outros. Por que não a sociedade acompanhar e fiscalizar os atos do Judiciário e dos meios de comunicação? Juiz e jornalista sérios, comprometidos com o interesse público e a verdade, não temem controle que deve ser exercido com regras claras e organismos populares, representativos, democráticos e participativos. Confundir a opinião pública, que é formada a partir de interesses particulares, na relação censura x controle público parece uma estratégia de quem quer que tudo continue como está.

Reinaldo Zanardi, jornalista e professor universitário, Londrina, PR



Do grande capital

Sou fã de Alberto Dines. Creio que profissionais desse quilate são imprescindíveis em qualquer área da sociedade brasileira. E penso também que sua opinião a respeito desse assunto não poderia ser diferente. A defesa da categoria e de suas prerrogativas não poderia ser feita por pessoa tão respeitável. Todavia, ao ler e ouvir tudo (ou quase tudo) o que já se comentou sobre o assunto, penso que há uma certa razão em se propor a criação desse conselho, com ressalvas, é verdade. Não existe, em nossos dias, nem nos mais obscuros e desconhecidos rincões do planeta, alguém que não tenha acesso a algum tipo de informação. Mas há um componente que é terrível: são informações da sede, ou daqueles que dominam o planeta, as que fluem por aí. E isso precisa ser revisto, pois não é mais possível que só as elites, que tanto mal têm feito à sociedade como um todo, divulguem suas opiniões.

Não é mais possível que o mundo comandado pelo imperialismo tenha no jornalismo o seu porta-voz mais incisivo. E a elite brasileira cumpre essa cartilha fielmente, mediante a ação dos jornalistas da chamada ‘grande imprensa’. Ou alguém duvida que a onda de denuncismo que ocorre no Brasil (e já ocorreu na Venezuela) tenha outra intenção, que não a desestabilização do governo? Há que se fazer uma análise muito mais séria do que aqueles velhos discursos corporativistas. O jornalismo é, inegavelmente, o ambiente da sociedade onde a fluidez da democracia deveria escorrer sem obstáculos, pois é por onde a expressão, a opinião, a formação do cidadão pode ocorrer da melhor forma possível.

Contudo, percebe-se nitidamente que os conselhos editoriais daqueles que têm o melhor espaço para divulgar informações pertencem exatamente aos que representam o grande capital, uma elite ‘brega’ e decadente, mas que ainda busca espaço para apregoar suas idéias. Se jornalistas do quilate de um Alberto Dines não têm ‘força’ para impactar essa prática, os representantes do povo, legitimamente eleitos, devem fazê-lo. Porque a força do outro lado ainda é muito grande. Se alguém duvida do que está acontecendo, deveria ler Os novos senhores do mundo, do jornalista John Pilger, e passará a pensar seriamente nessa opinião. Aliás, os profissionais sérios de imprensa deveriam ouvir mais o seu público e deixar um certo pedantismo de lado.

Alexandre Carlos Aguiar, biólogo, Florianópolis



Luta de 20 anos

Que é isso, meu caro Dines? Convenhamos que qualquer um de nós pode se posicionar contra o CFJ, mas ignorar que se trata de uma luta de mais de 20 anos da categoria, isto não convém fazer, principalmente em público. Desde o início, os poderosos da comunicação deste país estão espalhando que o CFJ é invenção do governo Lula para amordaçar os coleguinhas. Mas, não esperava que você – que admiro e cujos textos recomendo aos meus alunos de Jornalismo – também procedesse desta forma.

Mantenho contato com o pessoal da Fenaj, do Sindicato dos Jornalistas do ES, estou sempre vasculhando os sites de outros sindicatos deste nosso país. Todos falam do CFJ há tempos, não é idéia de Lula, nunca foi. Repito: ser contrário à idéia é um direito, mas creio que o argumento está equivocado e, lamentavelmente, é semelhante ao usado pelos latifundiários da comunicação deste país para condenar o CFJ. E aviso de antemão: não estou em nenhuma assessoria, sou professora, jornalista há mais de 15 anos, atuei por mais de 10 anos na redação do maior jornal do ES, e agora trabalho – em campo, na rua – para um site (www.rededenoticias.com.br).

Aída Bueno Bastos, jornalista, Vitória



Novamente a histeria

Novamente vamos assistir à histeria dos jornalistas, como no caso Larry Rohter. E novamente vamos ver o desrespeito aos leitores. Por que os jornalistas, que não dão a mínima para os leitores, falam tanto em nome dos leitores? Alberto Dines, em ‘Contra o denuncismo, o peleguismo’, já começa a nos desrespeitar quando tenta nos fazer crer que o projeto de criação do CFJ é do governo. E que o governo está sendo autoritário, só porque encaminhou o projeto, que nem é dele. Diz que os problemas do nosso jornalismo não estão nos jornalistas, mas nós vemos, todos os dias, jornalistas xingarem outros (sem dizer nomes) de vendidos, amestrados e tal.

Por último, diz que o governo deveria buscar a simpatia dos leitores. E eu pergunto: como o governo faria isso? Quem deve buscar a simpatia dos leitores são os jornalistas, e eles não farão isso manipulando dados e informações, tentando impingir a nós os seus pontos de vista. Não custa lembrar: a maioria dos leitores, no caso Larry Rohter, ficou a favor de Lula, mas os jornalistas escreviam como se a maioria tivesse ficado contra. Alberto Dines falou até em uma ‘irritação nacional’ com o presidente, quando o que houve foi uma irritação dos jornalistas.

Rogério Ferraz Alencar, técnico da Receita Federal, Fortaleza



Luz no ambiente

O envio do PL que cria o Conselho Federal de Jornalismo veio fazer luz no ambiente turvo que envolve a luta entre a ditadura das empresas e a busca de liberdade dos profissionais. Enquanto a grande maioria do profissionais é favorável ao CFJ, os jornalistas ‘feitos à facão’ e aqueles ligados aos grande grupos de imprensa saíram atirando duro contra o projeto. O fogo cerrado contra o projeto une de forma muito coesa as empresas, já tradicionais adversárias dos jornalistas profissionais, e os políticos que detêm grande parte do controle da informação no Brasil.

Os veículos de comunicação que em geral atacam os dentistas práticos são favoráveis a jornalistas sem diploma. Dois pesos e duas medidas. Por que eles são contra? Porque sabem que um conselho minimamente sério vai negar registro profissional ao grande número de picaretas criados nos corredores escuros das redações que produzem o falso jornalismo. Também porque o conselho poderá impor limites éticos ao mau jornalismo que impera neste país. Por fim, quero dizer o sofri grande decepção com as posições do jornalista Alberto Dines. Eu o tinha como um ídolo, mas agora descobri que aquele que eu julgava exemplar está afinado com os porões que deturpam a informação fornecida ao povo brasileiro. Que pena…

Ademar Adams, jornalista, Cuiabá