Wednesday, 08 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Enterrada viva

Criar um órgão de censura contra a categoria para facilitar os crimes contra a nação é demais. Mesmo que o tal de denuncismo esteja baseado numa relação corrupta entre meios de comunicação e adversários do governo, nós jornalistas não podemos pagar o pato. Moro em Santarém (PA) e aqui não existe jornalismo, apenas alguns tablóides a serviço de oligarquias constituídas por PMDB, PFL e PSDB. Não temos acesso ao jornalismo nacional porque não chega aqui, mas, ainda assim, sou jornalista há 21 anos, diplomada, regularmente inscrita no MT e estou profundamente revoltada com a Fenaj, com a CUT, com o governo Lula, que não se pode dizer que é um governo do PT, porque tem muito petista descontente.

Mas acredito que nós jornalistas devemos fazer alguma coisa contra essas amarras. Primeiro foi a Lei da Mordaça, agora esse famigerado conselho. Ah!, e não podemos esquecer as seguidas tentativas de acabar com a exigência de formação universitária para o exercício da profissão. Neste momento de censura globalizada à informação contrária aos interesses estadunidenses, aos quais o governo Lula está subalterno, nós precisamos reagir. Vamos abrir o debate público, vamos evidenciar os interesses reais, desmascarar o verdadeiro objetivo desse tal de conselho, porque senão é melhor dizer que a responsabilidade social do jornalismo foi enterrada viva com todos os profissionais que por ela lutaram, estando vivos ou mortos.

Nívia Maria Mota, jornalista, Santarém, PA



Só para os ‘comuns’

Também considero absurda a criação de um Conselho Federal de Jornalismo, afinal, fiscalização só deve ser feita sobre cidadãos ‘comuns’, médicos, engenheiros, advogados, juízes, políticos, açougueiros, carroceiros, prostitutas, pilotos de avião, enfim… qualquer um, menos, obviamente, o jornalista. Este tem que estar sempre livre para prestar louváveis serviços à democracia ou, se assim quiser, destruir a vida de pessoas, a história de instituições e, por que não, até a própria democracia. Acordem, senhores jornalistas. Os outros setores ou poderes da sociedade tendem a melhorar, e essa melhora resulta, em grande parte, da fiscalização da sociedade exercida diretamente ou por conselhos, ordens ou outros institutos.

A mídia deve ser livre, tanto quanto responsável. Precisamos tanto da mídia quanto do respeito e profissionalismo de quem a conduz. Se causa arrepios a fiscalização externa (como sugerido pela mídia em relação ao Poder Judiciário), ajam, senhores jornalistas: criem órgãos corporativos de avaliação e controle. Esconder incompetência, desrespeito, falta de profissionalismo e ética ou inconfessáveis interesses sob o manto sagrado e intocável da ‘liberdade de imprensa’ não parece caminho saudável. E para quem acha impossível mudar, a resposta está aqui: leiam e participem do Observatório da Imprensa. Isto sim, é zelar pela mídia e, como resultado direto, pela tão valiosa democracia.

Thogo Lemos dos Santos, médico, Uberlândia, MG



Pensamento único

Dines, é ótimo saber que seus textos também são lidos pelo pessoal do pensamento único. Basta observar a pequena diferença dos votos conferidos aos quesitos ‘uma proposta autoritária’ e ‘um estímulo à qualidade’.

Jorge Taleb, jornalista, Goiânia



Papel da ABI

Muito me chamou a atenção a questão levantada nesses últimos dias sobre a criação de um Conselho Federal de Jornalismo. Lendo o artigo ‘Porque não uma OAB de jornalistas?’ já defini claramente qual a minha posição: sou contra. Afinal de contas, quais seriam os reais objetivos e intenções, sejam eles escusos ou não, de um órgão diretamente vinculado ao governo, seja ele de qual partido for? Poderia trazer problemas e muitas suspeitas para a nossa categoria.

Quanto a criação ou não de um órgão semelhante à OAB, pergunto: o papel que caberia a esse tal CFJ não cabe à ABI? É a ABI que deve realizar esse debate (não uso a expressão ‘controle’ porque traz uma idéia de censura prévia) sobre a ética no jornalismo e entre os jornalismo. A ABI andou numa situação difícil nos últimos anos, acredito que agora pode acontecer uma recuperação. Acho que um conselho como este só serviria para atuar em casos como a da falsa entrevista do Gugu Liberato com o PCC. Antes de tudo, é preciso que não se confunda esse tal ‘controle’ com debate inteligente e crítica construtiva.

Leonardo Guedes, 20 anos, estagiário de radiojornalismo



Com o governo não dá

Se o jornalista tiver consciência da ação proposta pelo Conselho Federal de Jornalismo, certamente, será contra a criação deste órgão. Um conselho que mutila o pensamento de um profissional antes mesmo de ele se expressar é a pior de todas as ditaduras. Ainda mais que será controlado pelo governo federal, já que tem poderes de ‘disciplinar’ e ‘punir’. Alguns jornalistas devem pensar, o conselho deve ser uma idéia eficaz no atual momento em que a profissão está em declínio, mas devemo-nos ater que a Fenaj tem cunho político, inclusive, a escolha do presidente sempre tem opinião do governo. A imprensa deve cair em cima dos deputados interessados em aprovar o futuro projeto, que ainda é um anteprojeto. Logicamente, essas figuras têm o ‘rabo’ preso. (…)

Fabrício Francis, jornalista, Uberlândia, MG



Disfarce de representação

É mais uma medida autoritária, um resquício da época da ditadura. Nós, arquivistas, temos o Conselho Nacional de Arquivos, que normatiza e regulamenta a legislação arquivística sem antes consultar os profissionais da área. Há um disfarce de representação através de um conselho, do qual dois integrantes são designados como representantes das universidades mantenedoras do curso. As decisões são fechadas por uma ‘elite mesária’ que domina o setor e não aceita contestação de forma alguma. Vemos que no jornalismo estão querendo implantar a mesma política esdrúxula.

Rogério de Melo Araújo, arquivista