Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Escravidão silenciosa

A reportagem de Elvira Lobato na Folha mostra que ainda vale a pena ler jornal. Pena que a repercussão não tenha sido proporcional a sua importância e gravidade. A participação de um deputado e de um senador, coincidentemente do PFL, partido que detém uma das maiores bancadas no Congresso Nacional, não foi motivo para questionamento a seu presidente, que conta com grande espaço no jornal. Não causou indignação em editoriais e colunistas a inclusão na lista de um grande empresário do ramo de transportes, da agricultura e de uma multinacional belga. O silêncio fará com que o ótimo trabalho da repórter caia no esquecimento.

O público-alvo dos jornais é a classe média. O episódio envolvendo a morte de um brasileiro, coincidentemente chamado Luiz Inácio, que tentava entrar ilegalmente nos EUA, mereceu artigo de Clóvis Rossi inquirindo sobre a cota de responsabilidade que cabia ao Luiz Inácio inquilino no Palácio do Planalto. Eliane Cantanhêde foi pelo mesmo caminho e dedicou seu espaço para narrar o drama de uma brasileira que desenvolveu próspera carreira como diarista nos EUA, prestes a ser deportada para o ‘inferno tropical’.

Situações que tocam fundo a uma parcela de pessoas de classe média que tem fobia do Brasil e não acredita que isso vá pra frente, como ressaltou Daniel Florêncio no artigo ‘O gosto da classe média’, no Observatório da Imprensa.

O silêncio também contribui para que a denúncia de Gilberto Dimenstein de que as grandes grifes de São Paulo utilizam produtos fabricados em confecções que empregam imigrantes ilegais (bolivianos, peruanos e paraguaios), também em situação de semi-escravidão, nas páginas da Folha e pela rádio CBN.

Neste sentido, Ulisses Capazzoli tem uma certa dose de razão em considerar que o sistema de cotas ou qualquer tipo de ação afirmativa é um paliativo. A história é escrita pelos vencedores e o negro é o grande derrotado na história do Brasil, ao menos nos últimos 454 anos, quem sabe lá pelo ano de 2458 a coisa mude!

Rogerio Barreto Brasiliense, Santos, SP

Leia também

Escravidão no século 21 – Ulisses Capozzoli

O gosto da classe média – Daniel Florêncio



Recado ao bandido

Uma das coisas que me deixam intrigado é o noticiário da imprensa sobre determinado assunto. Por exemplo: combate à violência. Aqui em Recife na semana passada os órgãos de segurança do Estado anunciaram em rádio e jornal que seria realizada uma blitz contra a violência em determinado bairro (tido como um dos mais violentos). De fato, no dia marcado os jornais, com manchete na primeira página, e as rádios anunciavam a ação. Sabem qual foi a notícia do dia seguinte? ‘Fracassa blitz contra violência’.

Claro, foi passado um recado ao bandido! Ou será que bandido não lê jornal nem ouve rádio? Não foi a primeira vez e nem será a última. Isso não ocorre só em Pernambuco.

Francisco Chagas



Sem significado

Após algum tempo sendo espectador deste Observatório (internet e TV) a imprensa de forma geral perdeu o seu significado [a propósito do texto ‘Maluf e MST, o silêncio dos sentidos’]. Antes, acreditava inocentemente que os ‘maus’ jornais ou ‘más’ imprensas simplesmente abdicavam do seu dever de analisar ética e criticamente algo ocorrido. Agora vejo que a análise só é ‘preguiçosa’ quando interessa. Acredito que em virtude das muitas ‘folhas’ espalhadas por aí, é necessário não apenas ver com outros olhos a mídia, mas também acompanhar outras fontes jornalísticas.

Gustavo Naoki Fukuda, São Paulo



MST, o bandido

A pergunta é: integrantes do MST realmente invadiram – como afirma o fragmento do editorial da Folha citado pela autora – uma delegacia para libertar presos? Se assim procederam, então é caso de polícia mesmo e o editorial está quase correto: os integrantes do MST que participaram da referida ação não se nivelaram aos bandidos, eles são bandidos.

Roberto Veiga, Uberlândia, MG



Asilo de idéias

A revista Veja, edição 1.864, de 28/7/2004, em sua Carta ao Leitor, que reproduzo abaixo, expressa com rara oportunidade o asilo de idéias que o Brasil pode se tornar caso insista em idéias que, como diz o artigo, estão com seu prazo de validade vencido. Não podemos aceitar que um país com as dimensões continentais e as riquezas que temos seja submetido a princípios que fogem à lógica da história.

Valdemar Avelino Trindade, Natal

Carta ao leitor

Um asilo de idéias

O Brasil precisa ter muito cuidado para não se tornar uma espécie de asilo de idéias, um lugar onde elas buscam abrigo depois de terem se aposentado em outros lugares do planeta. Um rápido exame de movimentos políticos que se intitulam sociais no Brasil mostra que suas reivindicações podem ter feito sentido em outros períodos históricos, mas hoje estão francamente decrépitas. A mais flagrante delas é a reforma agrária da forma como vem sendo imposta ao país por um grupo de bolcheviques e padres medievalistas, o Movimento dos Sem-Terra (MST). Na semana passada, uma centena de membros do MST invadiu a sede do Partido dos Trabalhadores (PT) em Itabuna, na Bahia, com o objetivo de obrigar a agremiação governista a incluir em sua chapa para as próximas eleições municipais um de seus militantes. Como vem acontecendo com freqüência preocupante, eles ganharam no grito. O MST tem uma liderança que incentiva ações criminosas e comunga de uma visão de mundo deslocada no tempo e no espaço. Seu líder nacional, João Pedro Stedile, prega o desrespeito às leis e a abolição da propriedade privada. Na semana passada, ele saiu-se com um inesquecível oxímoro ao condenar os formidáveis avanços da agricultura mecanizada e de alta tecnologia, que tem sido o pilar da recuperação econômica brasileira. Disse Stedile: ‘O agronegócio produz dólar e pobreza’.

Equivale a dizer que a seca no Nordeste é produzida pelas chuvas. Na lista das idéias que passaram da data de validade mas continuam tendo tráfego no Brasil podem-se incluir o centralismo do governo e a ressuscitação da política industrial, ambos vertentes do capitalismo de Estado caído em desuso há quatro décadas. O corporativismo, outro ideário superado em outras paragens, ressurgiu em sua modalidade arcaica e violenta no vandalismo promovido por estudantes das universidades públicas paulistas. Apoiados pelo baixo clero dos professores, eles lutam pela ampliação dos privilégios que já desfrutam como beneficiários do ensino gratuito, sustentado, como se sabe, pelos impostos pagos com muito esforço por toda a população, em especial por suas camadas mais pobres. Do parque dos dinossauros das idéias exposto aqui não podia faltar a iniciativa de Aldo Rebelo (PC do B), ministro da Coordenação Política do PT, de editar uma cartilha com ensinamentos do comunista chinês Mao Tsé-tung, morto em 1976. Mao está fora de moda há décadas até em sua própria terra.