Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Mudaram as moscas

Imaginem os leitores: como agiria o PT se tivessem surgido informações similares a essas agora, sobre diretores do Banco Central, quando do governo anterior? Denúncia é quando é com os outros. Denuncismo é quando é conosco. Com o advento do governo Lula, apenas mudaram as moscas.

Milton Sacramento, servidor público, Brasília

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Mais foco

Folgo em ver o doutor Levyman preocupado com os abusos da imprensa em relação às autoridades econômicas. Seria importante que avaliasse também os abusos cometidos em temas médicos. Como, por exemplo, a manipulação da imprensa no caso da Clínica Santé, na qual um cirurgião renomado, Dr. Pagura, colega de Levyman no Albert Einstein, crucificou uma médica séria, valendo-se da falta de discernimento e de conhecimento técnico da mídia. Sustentou que Cláudia Liz poderia morrer ou ficar cega. Depois, quando nada disso ocorreu, surgiu como o salvador. Denunciado ao Conselho Regional de Medicina, coube a Levyman analisar o caso. Absolveu Pagura sustentando que faz parte da atividade médica o ‘exercício do pessimismo’. Há um problema sério na mídia, sim. Mas o próprio comportamento do CRM em relação aos médicos midiáticos mostra a dificuldade desses conselhos em atuar com isenção. Mais foco, prezado conselheiro do CRM.

Luis Nassif, jornalista, São Paulo



Celio Levyman responde

Não pretendo polemizar em relação a fatos ocorridos há quase 10 anos, apenas esclarecer alguns pontos:

** Não sou conselheiro do CRM desde 1998;

** O chamado caso Cláudia Liz ocorreu há bastante tempo; na ocasião eu ocupava o cargo de diretor primeiro-secretário e tinha como atribuições as primeiras medidas relativas a qualquer caso que chegasse ao conhecimento do Conselho, além de atuar como uma espécie de porta-voz do órgão: como houve uma superexposição do caso na imprensa, conseqüentemente fui também acionado um sem número de vezes;

** Não houve denúncia formal contra ninguém no caso em tela: quando um fato chega ao conhecimento do CRM por clamor público, imprensa, Poder Judiciário, Ministério Público, polícia, pessoas jurídicas de modo geral, o próprio Conselho assume a investigação dos fatos, pois sua função principal é a defesa da sociedade, e não a proteção de médicos – ao contrário do que Luis Nassif imagina – e esse tipo de procedimento passa a ser denominado ex-officio;

** Houve inicialmente preocupação das sociedades que congregam os cirurgiões plásticos, que se manifestaram ao CRM; no dia seguinte aos fatos, sabendo-se que a paciente nem chegara a sofrer qualquer intervenção cirúrgica, foram as sociedades equivalentes dos anestesistas que se manifestaram do mesmo modo;

** Volto a dizer que a investigação não foi conduzida por mim: ao contrário, foi indicado um também ex-conselheiro, de uma distante cidade do interior paulista, que efetuou a sindicância, ouviu todas as pessoas pertinentes, examinou prontuários e demais documentos, solicitou perícia etc.,justamente para não se sentir pressionado pela mídia e por não conhecer pessoalmente ou mesmo de nome nenhum dos participantes do caso – seu parecer final, não encontrando sinais de culpabilidade em nenhum aspecto, foi apresentado em Sessão Plenária do CRM e aprovado por unanimidade – na ocasião, participei como conselheiro apenas, pois já não ocupava o cargo de primeiro-secretário;

** No mesmo dia em que a notícia chegou à imprensa e os cirurgiões-plásticos queriam saber o que ocorria, fui me informar com a médica do Departamento de Fiscalização, à noite, no próprio Einstein do que ocorria. Tomando ciência dos fatos, realizamos fiscalização no dia seguinte nas instalações da Clínica Santé, que foi coordenada por mim e nenhuma irregularidade foi encontrada – os profissionais de imprensa se amontoavam do lado de fora da clínica, exigindo declarações de minha parte e mesmo esperando que graves coisas houvessem sido encontradas na fiscalização. Foram informados na mesma hora de que nada de errado havia sido encontrado, e no mesmo dia, mais à tarde, foi convocada uma entrevista coletiva, à qual voltaram os jornalistas, concedida por mim e outro ex-conselheiro anestesista. A Vigilância Sanitária, que dias após realizou sua própria fiscalização, também nada de errado encontrou;

** Convém deixar claro, como parecia à época, que é verdade que eu e o Dr. Pagura trabalhamos no Hospital Albert Einstein, sim, mas não juntos. São dezenas de neurologistas e neurocirurgiões que atuam naquela instituição: quando avalio um caso como neurologista clínico que sou e descubro um problema de indicação cirúrgica, cabe ao paciente e/ou parentes, como seu direito básico, escolher o cirurgião de sua preferência: evidentemente que, em mais de 20 anos de atividade na casa, alguns pacientes escolheram o Dr. Pagura como cirurgião, e compartilhamos alguns casos. E só. Para ilustrar ainda mais a inexistência de qualquer teoria conspiratória, quando a Prefeitura de São Paulo era comandada por Paulo Maluf, este instituiu o PAS, plano que mudou radicalmente a estrutura de atendimento à saúde no município. As entidades médicas, CRM inclusive, foram contrárias, e tive participação ativa nas ações específicas contra o tal Plano. Na gestão seguinte, de Celso Pitta, o próprio Dr. Pagura tornou-se secretário municipal da Saúde, o PAS foi mantido (em determinado período, apenas seu nome mudou para SIMS), e as entidades de classe e da sociedade continuaram a criticar o Plano, o prefeito e o secretário, inclusive eu.

Sobre as divergências quanto a um eventual ‘pessimismo rotineiro’ em medicina, que desde meados da década de 90 Luis Nassif faz questão de colocar em minha boca, sem ao menos discutir o que isso significa, prefiro deixar esse item para eventual debate aberto e com mais espaço.

Não há rancor ou animosidade pessoal entre Luis Nassif e eu, ao menos de minha parte, mas continuo sem entender a sua persistência nesse caso. (C.L.)

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Funcionalismo amordaçado

Estou muito preocupado com o encaminhamento que o governo Lula tem dado à questão das liberdades, não só de imprensa, mas quanto ao funcionalismo, que constitui uma classe que detém informação nas bases de suas organizações e que, podendo colaborar para a ética no governo, fica também amordaçado com a proposta de se coibirem possíveis denúncias. Eu sabia, e tenho tido provas na vida sindical, que a coligação PT com PC do B daria naquela coisa chamada ‘samba do crioulo doido’: a estrutura de controle segue uma linha stalinista, enquanto a administração e as relações exteriores seguem o modelo neoliberal e entreguista. A ética fica intocável. Mas essa terra ainda vai cumprir seu ideal…

Agenor Ribeiro