Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Necessidade de holofotes

O melhor de existir um espaço para discussão, como OI, num país desidentificado com o bom senso por força da história, como o Brasil, numa época de maior culto à hipocrisia como esta é que, em se tendo opinião diversa da quase-unanimidade, pode-se escancará-la a contento. Como qualquer cidadão com a cabeça no lugar, sou contra, obviamente, qualquer tipo de censura, principalmente a que coíbe expressão de pensamento. Portanto, contra também a implantação de conselhos irracionais e ditos controladores na área jornalística.

Exceto se o objetivo do tal conselho for investigatório de maus profissionais ou formadores de bons. Partindo do princípio de que o país não tem fundamento social para criar um órgão desse naipe, não há idéia de conselhos que valha a pena ser observada. Assim, quando ouço ‘CFJ’, sonho com uma entidade capaz de salvaguardar os bons profissionais daqueles que reconstruíram com a pior das argamassas a fachada política de Ibsen Pinheiro, ou melhor, destruíram-na.

E sonho porque os jornalistas que o fizeram fizeram bem mais que simplesmente mentir ou, na mais leve das hipóteses, simplesmente deixar de pesquisar mais contundentemente uma estória em função do ibope ou do aumento das vendas de sua revista ou vaidade profissional. Fizeram por destruir elos entre o quase-candidato Ibsen com seu futuro, sua honra, sua personalidade. ‘Se a matéria de IstoÉ é exclusiva, como se anuncia, não valeria a pena esperar mais uma semana para ir além do fato acontecido há cerca de uma década?’, imaginou o logístico Alberto Dines. Por que cargas d´água não se pensou nisso antes?

Porque é Alberto Dines mais jornalista que os jornalistas da matéria? Obviamente, não, apesar de ser Alberto Dines mais jornalista do que quase todos os que conheço. Não se pensou nisso porque, como há 10 anos, o que ainda reina no meio editorial jornalístico, como em qualquer outro que se influencie por números financeiros ou de vaidade, é a sorumbática necessidade de holofotes (…).

Sergio dos Santos, redator e revisor, Caieiras, SP



A verdadeira face

A imprensa e seus paus-mandados, depois, são contra a criação do conselho que poderia fiscalizar – assim como a OAB – a conduta ética dos jornalistas. Esse profissional, Luís Costa Pinto (Lula), merece ser julgado. O que fez não tem justificativa, além do que revela a verdadeira face da revista Veja, que muitos de nós já sabia qual era.

João Bosco de Almeida Souza, assessor, Cuiabá



Como as bruxas de Macbeth

Costuma-se falar na morosidade da Justiça na reparação dos danos. Este é um mal universal, como se pode verificar da pesquisa realizada por Mauro Cappelletti e Bryant Garth, traduzida para o português pela hoje ministra Ellen Gracie Northfleet, e publicada pelo editor gaúcho Sérgio Antônio Fabris intitulada ‘Acesso à justiça’. A imprensa, entretanto, superou a demora que sempre se imputa ao funcionamento do Judiciário. Várias questões vêm a ser colocadas, no que tange à atuação da mídia: quando ocorreu a injustiça?

Quando o deputado Ibsen Pinheiro foi atacado, talvez com objetivos eleitorais, ou agora, com a retratação tardia, que pode ter, também, um objetivo eleitoral? Confesso, na condição de quem não conhece a intimidade dos fatos, uma extrema perplexidade, porque não sei onde se localiza a veracidade da informação. O linchamento moral e o enaltecimento constituem – sim, eu sei, estou sendo óbvio – armas poderosas do poder econômico, no sentido de obter o reforço de seus interesses. Em nome da sagrada – e é mesmo sagrada, hoje ninguém mais põe em dúvida esta qualidade, ao contrário do que ocorria na época da Revolução Francesa, quando o Papa Pio VI dizia tratar-se de uma liberdade monstruosa, consoante a narrativa do falecido pensador italiano Norberto Bobbio em seu A era dos direitos – liberdade de manifestação de pensamento, tem-se a conformação e deformação dos fatos de acordo com as conveniências do momento.

Deixo mais claro o meu pensamento: não estou nem contra nem a favor do deputado Ibsen Pinheiro, justamente porque não tenho conhecimento da intimidade dos fatos nem é ele que está aqui em discussão, mas sim a inconseqüência com que a mídia veicula as matérias, governada pelo imediatismo. Por outro lado, mesmo a aparente existência de uma grande diversidade de empresas de comunicação social mostrou-se absolutamente inócua, porque, na ocasião, não era conveniente veicular qualquer versão em sentido contrário. Onde teria faltado a investigação? Por que não seria conveniente buscar o que pudesse, eventualmente, contradizer a versão de achincalhe (ou de denúncia – a dubiedade permanece), quando é esta uma das razões pelas quais se explica o veto posto no § 5º do artigo 220 da Constituição Federal de 1988 acerca da concentração da mídia?

Pode-se comparar tranqüilamente a mídia às bruxas de Macbeth, que o fizeram rei e, logo depois, indicaram-lhe o caminho para a queda. Ela acaba dando razão ao amargo desabafo que Shakespeare coloca na boca do mesmo personagem: ‘A vida é uma história cheia de ruído e fúria, contada por um idiota, significando nada’ (life is a tale, told by an idiot, full of sound and fury, signifying nothing). Porque, realmente, um historiador que, 200 anos depois do ocorrido, procurasse reconstituir os fatos em questão só teria uma conclusão a tirar de tudo isto, justamente a amoralidade que governa a atuação dos meios de comunicação social, no sentido de tornar a afirmação do poder de conformar corações e mentes como um autêntico fim em si mesmo.

Ricardo Antônio Lucas Camargo, advogado em Porto Alegre



Empáfia e arrogância

O que mais incomoda nessa pretensa confissão de culpa é a empáfia e a arrogância deste personagem, que ainda nos contempla com auto-elogios à própria humildade (sic), além de tentar repartir suas culpas. As pertinentes questões levantadas por Alberto Dines ainda vão pairar no ar, ao menos por uma semana: que atitude vai tomar o presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha, hoje assessorado por Luís Costa Pinto? Promoverá uma sessão de desagravo a Ibsen Pinheiro? E continuará a empregar profissional tão transparente e confiável?

Não há paralelo possível entre a atitude desse mau profissional e o exemplo dado há algumas semanas pelo digno jornalista Ricardo Setti, que se demitiu da equipe de colunistas de Exame, não sem antes se desculpar aos seus leitores, por ter redigido matéria em que pressupunha a vitória do governo numa votação no Senado, o que não ocorreu. Diferenças de caráter.

Orlando Maretti, jornalista, São Paulo