Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Rastro de lama

Confesso estar estarrecido com as revelações sobre a falta de ética, vergonha e profissionalismo dos envolvidos no caso Ibsen Pinheiro. Estou de fato pasmo, acho que não existe prescrição para o crime cometido. Os envolvidos deveriam abandonar a profissão. Não merecem ser chamados de jornalistas, ou melhor, os jornalistas não merecem ter esse refugo humano como colega de profissão. (…) Deixaram um rastro de lama na história da imprensa brasileira.

Sidney Borges (www.lojasmurray.blogger.com.br/index.html), jornalista, Ubatuba, SP



Cidadania agredida

Uma reflexão sobre a matéria da revista IstoÉ, desta semana merece ser feita: trata-se do poder que as CPIs, instrumento moderno de nossa democracia, têm usado para vazar informações sobre os investigados. É necessário que o sigilo transferido fique restrito aos parlamentares que estão investigando e não se permita fazer um consorcio destas informações com a mídia. De todas as CPIs que minha memória consegue alcançar todas – todas – usaram o vazamento de informações para privilegiar algum veículo de imprensa, e pior, com a conivência da sociedade. Das duas uma: ou se altera a legislação sobre informações sigilosas (o que não me agrada) ou se pune exemplarmente quem vaza informações protegidas por lei. Esta coisa de preservar a fonte pune inocentes e agride a cidadania.

Nilson da Silva Rebello, servidor público, Brasília



Presente explicado

(…) Marcou-me a vida profissional a expressão ‘penoso trabalho de verificar’ [Eça de Queiroz, na Correspondência de Fradique Mendes]. Isso me vem a mente em face do conjunto de textos neste OI sobre Ibsen Pinheiro/Costa Lima. Dines coloca um dedo na ferida ao se referir aos procedimentos irresponsáveis da imprensa em 1992/93. Lembra que em 2000 houve uma possibilidade de retratação. Ibsen Pinheiro, em entrevista a Luiz Egypto, mostra que essa possibilidade era um dever de imprensa, pelo menos um ano antes, quando acórdão do STF proclamou-lhe a inocência.

Onde estávamos, todos nós, quando o Pretório Excelso, terminativamente, falou: o Congresso e a imprensa vitimaram a sociedade quando disseram que este homem, Ibsen Pinheiro, era um ladrão. Naquela sanha denuncista de 1992, quantos não tiveram sua inocência proclamada e a imprensa e o Congresso fizeram de conta que nada tinham a ver com o fato. Vou citar um fato. O Tribunal de Contas da União, na mais detalhista de suas auditorias, concluiu que a gestão republicana do Sr. Fernando Collor de Mello era irrepreensível. Enviado o documento ao Congresso, a única voz a manifestar-se foi de Eduardo Suplicy, que afirmou: ‘Collor foi cassado politicamente e politicamente suas contas serão rejeitadas’.

Lembro-me que isto foi publicado em manchete interna da Folha de S.Paulo. A declaração de Suplicy era de tamanha gravidade que imaginei uma tempestade no dia seguinte. Até fui às bancas e, estarrecido, observei que a repercussão foi zero nas primeiras páginas, pelo menos nos jornais paulistas. E, mais uma vez, lamentei poupar uns cobres não gastando com jornais. Este fato é cabível a uma dura, duríssima acusação que Costa Lima faz a Ibsen Pinheiro e que, aparentemente, ninguém percebeu. Escreve Costa Pinto que Ibsen Pinheiro secretamente colaborava com um grupo suprapartidário interessado no impeachment do presidente Collor. Ora, o Sr. Suplicy já confessou que foi um ato político. Agora vem o Sr. Costa Pinto a nos dizer que Ibsen Pinheiro era um conspirador.

Teremos de esperar mais 10 anos para que algum conspirador nos conte o mais importante: de como se manipularam jornalistas para que manipulassem a opinião pública de sorte que esta imaginasse que o Sr. Collor cometeu desmandos, não encontrados nem pelo TCU, nem pelo STF? A expressão de Dines ‘é um libelo contra os procedimentos irresponsáveis da imprensa em 1992/93’ deve nos convidar a uma reflexão. Costa Pinto confessa que tinha 24 anos quando perpetrou a reportagem. E me lembro de uma conversa que tive ao visitar Gregório Fortunato na prisão. Ele me disse: ‘Os jornalistas são como uma criança de 4 anos brincando com um parabellum carregado e engatilhado. Podem se matar, podem matar o pai ou podem acertar a parede’.

Foi também Alberto Dines que disseminou entre os focas do meu tempo uma expressão de publisher americano: ‘Não faça como jornalista o que você não faria como um cavalheiro’. Eis o resumo da ética jornalística. Nós relatamos fatos. Por vezes, os situamos. Menos vezes ainda, os analisamos. E o comportamento que se exige de quem escreve no jornal é o mesmo de quem conta um fato numa roda de amigos. Deve primar a presunção da inocência, a defesa da honra e da intimidade das pessoas. As irresponsabilidades de 92/93 moldaram o jornalismo nos anos seguintes. Um repórter que entrevistava um técnico do Orçamento, preso por matar a mulher, perguntou: ‘E o Hargreaves?’. O entrevistado respondeu: ‘O Hargreaves é quem mais entende do Regimento da Câmara’.

E criou-se uma crise na Casa Civil. Do nada. Por que, de repente, perguntar-se sobre o Hargreaves? Por que manter na reportagem a pergunta e a resposta que nada tinham a ver com a matéria? Qual o interesse do repórter e da Veja? Ou quem estava por trás de ambos? Foi só uma traquinagem? Dines, creio que você lançou um desafio. Se olharmos 12 anos atrás, entenderemos o jornalismo pífio que se faz hoje em dia.

Carlos Gilberto Alves, jornalista, São Paulo



Até tu, Paulinho?

Até tu, Paulinho? Agora eu não entendo mais nada. No jornal O Globo, o jornalista Paulo Moreira Leite publicou a sua versão sobre o affaire Ibsen Pinheiro. No trecho abaixo ele afirma que Ibsen foi de fato culpado pela movimentação de um milhão de dólares.

‘Costa Pinto produziu certo alvoroço com seu artigo em função de um erro absurdo. Ele confunde o saldo financeiro dos documentos examinados pela CPI com os papeizinhos que enviou a São Paulo. Chega a sugerir que a movimentação bancária de Ibsen se limitava aos mil dólares de seus papéis. Se fosse assim, o deputado não teria de ser investigado pela CPI, pois estaria numa fila de esmola. A CPI sempre disse que sua movimentação bancária girava em torno de US$ 1 milhão. Seis meses depois, Ibsen teve o mandato cassado por larga margem. A CPI concluiu que ele movimentara U$ 1 milhão e não conseguiu explicar corretamente a origem de US$ 230 mil. Os trabalhos da CPI foram acompanhados por um auditor do Banco Central, nomeado por Pedro Malan, presidente do BC.’

No meu entender a conta não está fechando. Se Ibsen tinha culpa no cartório, qual a razão de tanta celeuma em torno do caso? Estranho, muito estranho. O assunto merece ser investigado em profundidade, quanto mais se mexe nele, mais a verdade parece distante. É preciso saber com clareza quem está mentindo.

Sidney Borges, jornalista, Ubatuba, SP



Sujeitos a barrigadas

Fica clara mais uma vez a falta de compromisso com a ética nos meios de comunicação. A imprensa mostra novamente que tem poder de criação e de destruição muito forte, mas não tem poder de retratação. Assim foi no caso polêmico da Escola Base em 1994. Não podemos ficar sujeitos a barrigadas cada vez mais irresponsáveis. Temos que fazer um jornalismo (não serei demagogo em dizer imparcial) mais próximo da isenção.

Marvin Kennedy, estudante de Jornalismo, Lauro de Freitas, BA