Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Será o novo Bug do Milênio?

Muito se tem falado na mídia sobre a influenza aviária, a cepa H5N1 e a possibilidade de pandemia. No entanto, ninguém se questiona sobre algumas realidades que desmascaram essa pandemia virtual travestida de poetisa do Apocalipse e as verdadeiras intenções que estão por trás dela. Lembramo-nos bem do fiasco do colapso virtual recente que foi o chamado ‘Bug do Milênio’. Grandes companhias de informática ganharam fortunas preparando o mundo para o colapso virtual. Quem não se preocupou ou se preparou para ele? Era tudo montado sobre suposições falsas não comprovadas e fizeram a população mundial gastar grande volume de recursos, favorecendo países ricos e companhias milionárias, quando sabemos que há no mundo doenças endêmicas, fome, miséria que são negligenciadas pelos governos.

Colocaria aqui algumas questões que nunca são respondidas para que possamos refletir e tirar nossas conclusões:

1) Os vírus da influenza existem há milhões de anos, entre eles os do Grupo A (comuns a animais e humanos) e dentro deste o do grupo antigênico H5N1. O que leva a pensar ser agora o momento de um deles se modificar, ser transmitido de humanos para humanos e causar uma pandemia? No período recente em que esses vírus não eram monitorados não constituíam uma ameaça igual, ou os órgãos que divulgam essa paranóia estão a par de algum fato que nos estão ocultando? Quantos invernos se passaram sem termos pesquisado as mortes de aves procurando grupos antigênicos de vírus influenza?

Diarréia mata mais

2) Grande parte da população indígena das Américas foi dizimada pela varíola. A população mundial hoje não está mais imunizada contra essa doença e… poxvirus existem normalmente em muitas espécies animais. O que impede haver uma mutação e novamente eles causarem uma pandemia? Por que não há essa preocupação hoje? A situação não é igual? Que informação nos estão ocultando?

3) A razão da gripe espanhola ter matado tanta gente em 1918 deveu-se ao fato de a Europa estar no fim de uma guerra de trincheiras, com problemas muito sérios de saneamento básico, com a população desnutrida, além de na época não haver antibióticos para combater as infecções bacterianas secundárias. A gripe de Hong Kong, mais recente, teve como substrato as péssimas condições de vida existentes na Ásia, mas o uso difundido de antibióticos impediu que a mortalidade fosse alta. Os poucos casos (sim, porque menos de duas centenas de casos humanos no mundo, com cerca de 90 óbitos) que estão hoje sendo relatados grassam em países com saneamento básico caótico e com grande promiscuidade entre aves e humanos. Há relatos de crianças dormindo com galinhas para se aquecerem. Por que a mídia não elucida as pessoas quanto a isso em vez de aterrorizá-las?

4) A diarréia mata diariamente na Índia mais de 200 crianças. A Aids mata centenas diariamente em África. Por que a OMS não se dedica a essas questões reais, e sim a essa pandemia virtual? Onde estava a OMS durante as campanhas de vacinação africanas na década de 70, hoje apontadas como principais responsáveis pela disseminação do vírus da Aids entre os países africanos? O que nos ocultam hoje?

Manada assustada

5) Nosso governo gastou milhões com a importação de milhares de doses do antiviral de efeito discutível Tamiflu para proteger a população brasileira duma doença de aves euro-asiática que não matou ninguém por aqui e que, nos últimos três anos, matou apenas 90 pessoas em regiões com mais de um bilhão de habitantes. Certamente que de outras causas triviais como quedas de raio ou tropeço nas calçadas morreram nesses países mil vezes mais pessoas que de influenza aviária. Somente na semana passada morreram duas pessoas com dengue no Rio de Janeiro, a raiva ainda mata gente no Pará e em outros estados. A hanseníase vitima centenas de pessoas no Brasil por ano, assim como a tuberculose, sem falar no hantavírus e outras preciosidades. A malária mata hoje milhares de pessoas no Brasil, muitas entre tribos indígenas. Por que a priorização do Tamiflu e da influenza virtual e o contingenciamento das verbas destinadas a essas doenças que, sabidamente, matam e inutilizam milhares de pessoas no nosso país? O que nos estão ocultando?

6) Já temos o H5N1 no Brasil, ou seja, no centro do nosso maior aglomerado urbano com 16 milhões de pessoas e um saneamento básico deplorável, portanto com o maior substrato epidêmico potencial da América do Sul: a cidade de São Paulo. O H5N1 foi importado pelo Estado brasileiro de um dos maiores centros de desenvolvimento de armas químicas e biológicas do mundo – a Inglaterra – com a desculpa de estudá-lo e transformá-lo numa vacina no Instituto Butantan. Já vimos essa história antes com a importação de abelhas africanas com o intuito de estudá-las e melhorar geneticamente a espécie européia. Conhecemos as histórias das milhares de pessoas atacadas e mortas por todo o país e continente quando acidentalmente elas escaparam do laboratório e cruzaram sem controle com a abelha européia. Que irresponsabilidade é essa de trazer um patógeno alienígena para o Brasil e… logo para São Paulo?! Será mesmo irresponsabilidade ou será que nos ocultam algo?

Convido a todos a pararmos de ter um comportamento de manada assustada, que usemos nossos cérebros para enfrentarmos as lavagens cerebrais feitas pelas agências de notícias que, em coro e comandadas sabe Deus com que propósito macabro, nos querem assustar e nos induzir a comportamentos irracionais.

Nota do OI

O médico-veterinário Melo de Carvalho tem razão na crítica à mídia sensacionalista que dissemina o pânico sobre o perigo da influenza aviária. Mas incorre no mesmo equívoco ao exagerar o risco da manipulação da cepa H5N1 no Instituto Butantan, de São Paulo. O National Institute for Biological Standards and Technology é um laboratório britânico sancionado pela Organização Muncial de Saúde, e enviou por ordem dela ao Butantan – e a 150 laboratórios em todo o mundo – amostras da cepa H5N1 do vírus da influenza para pesquisa e desenvolvimento de vacinas. Vai chefiar o processo em São Paulo o bioquímico Isaias Raw, presidente da Fundação Butantan e professor emérito da USP.

Irritado com os boatos, o professor Raw rebateu em entrevista o temor de que a manipulação das cepas dê início à epidemia no Brasil: ‘Ora, o vírus vem atenuado, geneticamente ‘desarmado’ antes de ser enviado aos institutos de pesquisa’. (Marinilda Carvalho)

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Médico-veterinário, Descalvado, SP