Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Os boletins do vale-tudo

Como disse a presidente Dilma Rousseff, “podemos fazer o diabo quando é hora de eleição”. E estão fazendo. Dilma, principalmente, já que tem o maior tempo de TV; mas todos têm alguma parcela de culpa pelo baixo nível. Até Levy Fidelix, que tem menos chance de ser eleito do que este colunista de disputar a maratona de Nova York, andou prometendo e xingando, embora sabendo que seus xingamentos são fúteis e suas promessas, vãs.

Todos participam do jogo feio, inclusive os meios de comunicação, cuja função, ao contrário do que tantos imaginam, não é “repercutir” denúncias publicadas por outros veículos e de cujas fontes não têm a menor ideia. A função da imprensa é, em termos editoriais, procurar manter um nível menos baixo de campanha, o que exclui divulgar acusações sem provas (a menos que possa obter suas próprias evidências, nas quais confie) e dar mais ênfase à troca de insultos do que à viabilidade do projeto de governo dos principais candidatos. O trabalho da imprensa é, sem dúvida, maior do que divulgar pesquisas sucessivas, como se eleição fosse corrida de Fórmula 1 e as pesquisas indicassem a posição dos carros no grid.

Há alguns órgãos de comunicação – especialmente jornais – que tentam destrinchar as promessas (opa!, “não é uma promessa, é um compromisso” – como se promessa e compromisso não fossem palavras oriundas da mesma matriz), calcular seu custo, suas consequências, sua viabilidade. O problema é que, por enquanto, os poucos jornais que decidiram enfrentar a mentiralhada estão equipados com guarda-chuvas, enquanto os ciclones trazem absurda, abusiva, abundância de chuvas.

Um exemplo (que passou batido pelos jornais). Marina Silva disse que Dilma corroeu a autonomia do Banco Central. Dilma reagiu duramente, dizendo: “Autonomia do Banco Central não dá certo” (Folha, 10 de setembro). Faltou buscar o que Dilma disse na campanha de 2010, ao Estadão: “Autonomia do Banco Central é importantíssima”. Não é culpa dos jornais: o problema é que o nível baixou de tal maneira que ninguém estava equipado para discutir cada caso como o caso foi.

A propósito, o candidato do PSDB em 2010, José Serra, dizia que o Banco Central não é a Santa Sé – hoje, o candidato do mesmo PSDB, Aécio Neves, defende a autonomia do Banco Central. E, ao menos oficialmente, Aécio Neves conta com seu apoio total.

O jornalista Antônio Machado (http://www.cidadebiz.com.br/) sintetiza o que acontece nessa campanha:

“Sucessão embolada cria um dano colateral: as campanhas se tornaram truculentas e imbecilizadas. A menos de um mês da eleição, continua incerto o que os candidatos pensam sobre as questões que mexem com a economia e a vida de todos nós. Eles parecem perplexos e algo desinformados sobre os desafios. Um plano imediato de ação conta mais que as polêmicas que aquecem o noticiário. E decisiva é a visão para frente, o link com as transformações em curso no mundo. Mas antes precisam conhecê-las.”

Vale um bom debate jornalístico, sem paixões clubísticas, para melhorar o nível de cobertura das campanhas, analisando e estudando as propostas (e, ao mesmo tempo, levando os candidatos a convencer-se de que baixar o nível não lhes dará espaço mais generoso nos meios de comunicação). E vale avançar um pouco: o tal horário gratuito, que não é gratuito para ninguém, muito menos para quem o assiste e, além de ser tratado como tolo, paga a conta, bem que poderia ser extinto. Quem quiser despejar lixo na campanha que o faça com seu próprio dinheiro.

 

A campanha como ela é

Quem contribui para quem? Com raras exceções, as grandes empresas que contribuem para a campanha eleitoral distribuem seus recursos entre os principais candidatos. Não correm o risco de recusar doações para quem possa, amanhã, governar o país e eventualmente se recusar a assinar os contratos sem criar antes uma série de problemas. O conglomerado Itaú, por exemplo, contribui com Dilma, Marina e Aécio. Neca Setúbal, apesar do sobrenome, não é “a herdeira” do Itaú: tem uma parte, algo como 1 a 2%. Sua posição de apoio a Marina Silva também nada tem a ver com o “apoio dos banqueiros”. Primeiro, porque Neca é acionista, não banqueira, jamais trabalhou no banco nem em outras empresas do grupo. O que doou a Marina vem de seus bens pessoais – aliás, provavelmente, consideráveis. Segundo, porque o Itaú tem grandes acionistas de outras famílias que talvez tenham outros candidatos (e há outros bancos que certamente os têm – inclusive aquele que demitiu funcionários a pedido do ex-presidente Lula). Terceiro, porque mesmo os bancos que têm grandes acionistas favoráveis a um ou outro candidato seguem a norma número 1, de distribuir seus recursos. Não lhes interessa angariar a má vontade de quem pode governar.

Quanto às opções religiosas de cada candidato, sejamos sérios. Quantos brasileiros sabem que o ex-presidente Ernesto Geisel era luterano, filho de um pastor luterano? Isso não fez a menor diferença em seu governo. Se Geisel acreditava que o mundo foi criado em sete dias, ou se não acreditava, ou não se preocupava com o assunto, em que isso melhorou ou piorou sua administração? Se era agnóstico, ateu ou religioso, problema dele. Isso é democracia. Criticar um candidato por sua religião tem nome. E é um nome dos mais feios: intolerância.

 

Procurando o óbvio

Um excelente livro sobre publicidade, bíblia da agência internacional Ogilvy, chama-se Adam Obvious. É a história de um grande publicitário que, a cada problema, busca a solução óbvia, normalmente a mais acertada.

A história do uso de equipamentos de informática do governo federal para atacar jornalistas cuja atuação não é de agrado do governo federal teve agora o final óbvio: o responsável pelo uso de equipamento público para fins eleitorais foi identificado, é funcionário do governo, membro do PT há cerca de 15 anos e foi afastado do cargo enquanto responde a processo administrativo. Recebe R$ 22.065 mensais do serviço público (embora compartilhe seu tempo com as atividades de sabotagem a adversários políticos).

Na ocasião em que o caso foi revelado, a patrulha de internet garantiu que qualquer pessoa podia usar a rede pública do Palácio do Planalto e, portanto, seria impossível identificar o abusado. Como se vê, não era bem assim. O detalhe curioso é que este é o segundo caso de pessoa identificada usando patrimônio público para atacar adversários de quem está no poder. O caso anterior, em que houve ataques ao candidato tucano Aécio Neves, alcançou um funcionário da prefeitura de Guarulhos, SP. E há um terceiro, em que o computador já foi identificado mas o responsável por seu uso, não: do aparelho, que pertence à Petrobras, saíram adendos à Wikipedia tentando responsabilizar Fernando Henrique Cardoso por ter contratado Paulo Roberto Costa, este que agora pratica delação premiada.

 

A culpa da vítima

É verdadeiro, embora inacreditável: o repórter fotográfico Alex Silveira, que perdeu a visão num olho após ser alvejado por uma bala de borracha disparada pela polícia paulista, foi responsabilizado pelo problema que enfrenta. Na opinião da 2ª Câmara Extraordinária de Direito Público, Alex Silveira “colocou-se em quadro no qual se pode afirmar ser dele a culpa exclusiva do lamentável episódio do qual foi vítima”. Traduzindo, que é que fazia um repórter no meio dos fatos que deveria reportar? Por que não se disfarçou – com um nariz postiço, talvez – em vez de se identificar corretamente como jornalista?

É mais ou menos como culpar uma pessoa por ter sido assaltada – “imagine, estava com uma correntinha que não valia nada mas que o ladrão podia confundir com ouro!” – ou com a moça que é estuprada não porque foi alvo de criminosos, mas porque era bonita e os tarados não tinham culpa de ser atraídos por ela.

Não, caros senhores: é de esperar que os juízes, em instância superior, modifiquem sua decisão. Repórter é para narrar os fatos como os fatos ocorreram, não para se esconder até que o perigo passe e depois montar a reportagem com declarações de quem esteve lá.

 

Novidade boa

Vale a pena acompanhar o Blog do Cláudio Tognolli, no Yahoo. Têm saído de lá muitas das informações mais importantes e interessantes de nossa imprensa. O link é https://br.noticias.yahoo.com/blogs/claudio-tognolli/

Foi ali que apareceram as primeiras notícias envolvendo as suspeitas de homicídio contra o empresário Henry Maksoud, foi ali que surgiu no noticiário a estranha história da rápida saída do Brasil do tradicionalíssimo Royal Bank of Canada. Bom blog.

 

Bom texto, boa história

Com saudades de um bom texto jornalístico, escrito em bom português, fluente e agradável? Pois aqui está um belo exemplo: Lilian Newlands, repórter do Jornal do Brasil na época em que era o jornal mais bem feito do país, conta como chegou ao céu dos jornalistas e lá permaneceu, convivendo com alguns dos melhores profissionais do país. O Brasil fervia e o JB narrava os fatos com precisão e bom gosto.

Diga, Lilian Newlands!

Curso do Gabeira e revoada das sabiás

Tempo é elemento subjetivo, indefinível e volátil, por isso sinto que nem faz tanto tempo assim que aquela turma de garotos batia à porta da Avenida Rio Branco, 110, onde se erguia o prédio do Jornal do Brasil.

Uma coincidência, um acaso ou um destino, não importa o nome, nos levara até ali com alguma esperança de sermos selecionados no “curso do Gabeira”.

O curso era promovido pelo próprio jornal e, ao seu término, alguns eram escolhidos para ocupar as vagas disponibilizadas para os tais “novos talentos”, a tão famosa renovação de quadros que desse hora e vez aos novatos. Era 1968. Um ano que não se repetiria nunca mais.

O curso conduzido por Fernando Gabeira, com as aulas no auditório, já demonstrava que muita coisa viria pela frente diante dos nossos olhos e nossas esperanças. E, hoje em dia, de nossas lembranças, tão próximas que se a gente quiser encosta nelas. Me lembro com nitidez a primeira frase de Gabeira que me marcou:

– Quem quiser exemplo de um bom lead deve ler O Estrangeiro, de Camus, que abre com “Hoje a mãe morreu”. Quem, o que, quando. Tudo lá.

As primeiras aulas foram para testar o nível de informação de cada um. Gabeira era um sujeito brilhante, diferente e muito charmoso. Para mim foi desastrosa a parte em que tínhamos que dar os nomes dos secretários de Estado. Eu só me lembrava de um – Emilio Ibrahim, de Obras. “Ah, não vai dar, é pena mas pra mim não vai dar”, eu pensava, sobretudo quando olhava em volta e me deparava com mais de 50 jornalistas profissionais, homens austeros, mulheres seguras de si.

Mas aquelas aulas eram tão envolventes, tão produtivas, que eu me sentia feliz só de saber que poderia seguir o curso até o fim. Valia a pena. Minha experiência resumia-se em três meses de estágio no jornal Última Hora. Repórter de rua, daqueles que saíam pela cidade num jipe azul, com um buraco no chão que produzia uma ventania danada quando em disparada.

O que eu vivera me parecia muito pouco, não dava pra competir com aquela turma experiente. O tempo, sempre o tempo, passou rápido e eis que um dia Fernando anunciou que íamos fazer duas redações. Uma sobre Cinema Novo. Outra sobre a Primavera de Praga. Eram redações eliminatórias, e ali eu senti que minha sorte poderia mudar.

Isso porque eu havia trabalhado numa produtora chamada Cinema Novo Promoções e Publicidade, na rua Álvaro Alvim, por onde passavam, diariamente, os nomes mais badalados do cinema nacional. A outra razão era que eu havia estado na Rússia dois meses antes do curso, justo na fase em que havia deslocamentos de tropas russas pelas estradas, a caminho de Praga, movimentação que eu testemunhei pela janela do ônibus em que atravessava aquele país. Tudo isso em 1968.

Nunca consegui saber se as redações nos classificaram para aquelas vagas, mas aqueles eram temas com que, à época, eu tinha familiaridade. Os colegas que entraram comigo para o JB tornaram-se, cada um a seu modo, pessoas importantes ao longo da minha vida – Helber Rangel, Fritz Utzeri, Ramayana Vargens, Virginia Cavalcanti, Mauro Costa. Eram todos bons. Muito bons. Havia outros, mas não sei se persistiram na profissão. Ninguém ali queria ser melhor do que ninguém, mas todo mundo queria ter voz, espaço para o texto e chance de cumprir o ofício. Nossos modelos mais próximos eram acessíveis, Carlos Lemos e Alberto Dines.

Fui para o telex, um mastodonte barulhento que era a “primeira prova” para se tornar um repórter de verdade. Muitas notícias censuradas chegaram por meio de compridos telegramas. Fazia parte da AJB, dirigida por Luis Carlos de Oliveira, que a comandava com mão de ferro nas horas vagas em que não estava lendo Carlos Drummond de Andrade. Depois, um certo departamento de features, espaço que eu dividia com Ana Luíza Collor de Mello, Marinilda Carvalho, Lúcia Bomfim e José Carlos Allen. Outros repórteres, igualmente jovens, acabaram por se tornar uma face do JB – Sergio Fleury, Israel Tabak, Vera Perfeito, Ghioldi Jacintho, Bia Bomfim, João Batista de Freitas, Bartolomeu Britto. Tanta gente, tanta história. Lá no fundo da redação funcionava a Internacional e uma figura, levada pelas mãos de Cesarion Praxedes, encantava as meninas. Era José Wilker, magro e muito inteligente.

(Mas, por enquanto, meus colegas e eu ainda estamos assistindo às aulas de Gabeira. O curso ainda não chegou ao fim.)

A primeira reportagem externa, como “dever de casa”, foi cobrir o Festival da Canção no Maracanãzinho. Uma emoção só, daquelas em estado bruto, que nos fazem reencontrar o que temos de melhor. Eu lembro que gostei de Sabiá, de Tom Jobim e Chico Buarque, à primeira audição. Mas nem desconfiava que ela ainda seria uma canção profética, que faria História. Enquanto o Quarteto em Cy se apresentava, uma revoada de sabiás fazia sua dança sobre nossas cabeças nas alturas do estádio.

Pouco depois dessa noite veio o AI-5, dia 13 de dezembro de 1968. Os “escolhidos” de Fernando Gabeira estavam lá. Trabalhamos duro. Saímos da redação de madrugada. A edição do dia seguinte também virou História, principalmente por revelar como se faz jornalismo dignamente, sob as pressões de um tempo de guerra. Tinha de ser. Era 1968. Talvez o mundo necessite de um novo 68, de um novo Jornal do Brasil, quem vai saber? Nada disso poderá se repetir, já passou, tudo passa, não adianta chorar. Mas fez sentido enquanto durou. Exatamente como a revoada das sabiás, naquela noite em que voltamos para casa com um lead na cabeça e prontos para – como em O Estrangeiro, de Camus – responder às perguntas, as primeiras no longo caminho que nos aguardava.

 

História fantástica 1

Gilberto Belluzzo, frequentador do Facebook, conta a seguinte história:

“É revoltante. Minha mãe (87 anos) tem uma conta corrente no Banco (…). Ela recebe pensão do INSS no valor de R$ 724. No dia 1º de setembro, o limite de sua conta (R$ 200) foi ultrapassado em R$ 0,99. No dia 4, o Banco debitou em sua conta uma tarifa por “adiantamento a depositante” no valor de R$ 41. Ela continuou devendo os R$ 0,99 para o Banco. O Banco emprestou R$ 0,99 para ela e cobrou pelo empréstimo uma tarifa de R$ 41. É legal isso?”

O leitor, claro, está equivocado. Ela não continuou devendo os R$ 0,99 para o banco, embora tenha pago quarenta vezes mais de tarifa. Ele está devendo os R$ 0,99 mais os juros, correções, taxas, emolumentos, etc.

Mas o tema desta nota é o seguinte: se a história foi postada no Facebook, por que nenhum meio de comunicação pegou a pauta para desenvolver a história? Gilberto Belluzzo (cujo endereço, claro, pode ser encontrado no Face) terá o maior prazer em ajudar a reportagem.

Velha lição de jornalismo: pauta não é apenas aquilo que vem do palácio.

 

História fantástica 2

Danielle Mascarenhas, frequentadora do Facebook, divulga a seguinte história, contada pela própria protagonista, sua mãe Vera Mascarenhas:

“Aconteceu comigo hoje. Uso o remédio Synthroid 125mg há mais de 20 anos. a cor do comprimido indica a dosagem. Quando abri uma nova caixa, vi que a cor não era a mesma. Fiquei com medo e resolvi ligar para o laboratório, que me disse para que não o tomasse, que mandaria recolhê-lo em minha casa e me enviaria uma nova caixa. Como não posso ficar sem tomar os comprimidos, fui à farmácia para comprar outra caixa. Expliquei o ocorrido ao farmacêutico, que logo se dispôs a procurar uma caixa de lote diferente. Resolvi abrir a caixa na farmácia e, juntos, constatamos que a cor deste outro lote também estava trocada!! Além disso, no medicamento deve vir escrito “SYNTHROID” de um lado e do outro a dosagem, no meu caso, “125”. Este que comprei vem escrito “FLINT” e “125”. O farmacêutico recolheu o medicamento e prontamente me fez a devolução do valor pago. Mas ainda não tinha meu remédio. Novamente entrei em contato com o laboratório, que dessa vez me tratou com total descaso. Como pode uma empresa como a (…), ao ser notificada de um problema desses, que envolve a manutenção da saúde de milhares de pessoas, tratar com tanto descaso seus consumidores? Enviei correspondência para a (…) em Porto Rico e estou aguardando resposta.”

Nos dois casos, o nome das empresas atacadas não são citadas: como não é informação de primeira mão, confirmada pela coluna, não se justifica publicar nominalmente a acusação. E, além disso, o tema é outro: a história é grave, as empresas atacadas são de grande porte, suas atitudes põem em risco a saúde física e financeira de seus clientes, e há pistas suficientes para um bom repórter ir atrás da história completa. Pauta se colhe onde há informação, não apenas nos telefonemas de autoridades. Cadê a reportagem?

 

Cuidando do bolso

Dois grandes livros estão sendo lançados na praça: Guerra Fiscal – reflexões sobre a concessão de benefícios no âmbito do ICMS; e O Direito e a Família, ambos dos mesmos autores, Ives Gandra da Silva Martins e Paulo de Barros Carvalho. Noite de autógrafos no dia 25/9, quinta-feira da semana que vem, na Editora Noeses, Rua Bahia, 1.882, São Paulo.

 

Cuidando do paladar

Na terça, dia 16/9, a partir das 19h, Ricardo Maranhão e Fábio Colombini lançam o livro Gente do Mar – vida e gastronomia dos pescadores brasileiros, da Editora Terceiro Nome. Local: Cantina Pasquale, rua Girassol, 66, São Paulo.

 

Língua estranha

De um e-mail enviado por determinada pessoa, comunicando sua mudança de função na empresa e solicitando uma providência:

“Não serei mais head do job, mas me mantenham no loop.”

Tradução para o português:

“Não serei mais gerente do projeto, mas me mantenham informado”.

 

Como…

De notícia sobre o seriado Dupla Identidade:

** “ (…) seu corpo ensanguentado é largado na Floresta da Tijuca (RJ) e depois ruído por um cão”.

“Ruído por um cão” deve ser aquele “nhec-nhec”, “tlec-tlec” que se ouve quando o corpo está sendo roído pelo cão.

 

…é…

De uma análise de pesquisa eleitoral:

** “O Ibope simulou cenários de segundo turno, dos quais Marina venceu dois”

Certo: os dois nos quais foi citada. No terceiro cenário, em que Dilma Rousseff enfrenta Aécio Neves, Marina não poderia mesmo vencer (a propósito, neste cenário, Dilma venceu Aécio).

 

…mesmo?

De um grande jornal impresso, que já primou pela correção dos textos:

** “Em média, os motoristas [de caminhão] ficam 20 horas longe de casa no mês e chegam a ficar 18 horas por dia no trânsito”.

A conta não bate: como é que, ficando 18 horas no trânsito por dia, os motoristas de caminhão ficam 20 horas por mês longe de casa?

 

As não notícias

Mesmo a notícia grátis custa caro: custa no mínimo o tempo gasto na leitura. E quando a notícia insiste em não noticiar, qual o, digamos, suposto custo?

1. “Justin Bieber e Selena Gomez teriam noivado numa cerimônia secreta em Los Angeles”

Afinal de contas, ficaram noivos ou não?

2. “Kanye West tem suposto ataque de epilepsia e vai parar no hospital”

“Suposto ataque”? De que será que se trata?

3. “Suposta embriaguez: motorista atropela quatro pessoas (…)”

Estava embriagado ou não? Apresentava sinais de embriaguez?Foi indiciado por embriaguez ao volante? Como é uma suposta embriaguez?

 

Frases

>> Do jornalista Cláudio Tognolli: “Petrobras 60 anos: ‘O petralha é nosso’.”

>> Do professor Bolívar Lamounier: “A presidenta disse que vai tomar uma Providência, e faz muito bem. É uma das melhores de Minas, você só a encontra nos melhores alambiques.”

>> Do jornalista Michel Gawendo: “Fui eu, mas eu não sabia.”

>> Do apresentador Marcos Hummel: “Petrobras: se não sabia, é incompetente; se sabia, é conivente.”

>> Do jornalista Alex Solnik: “‘Não tenho banqueiros me sustentando’ disse Dilma. Faltou acrescentar: ‘Eu é que os sustento’.”

 

E eu com isso

Pergunte a dez pessoas, escolhidas aleatoriamente na rua, quem é Rui Falcão. Em seguida, pergunte quem é Cauã Raymond. Ganha Cauã – e quer saber de uma coisa? Ainda bem: é mais divertido, bem menos chato, até agora não se meteu a entender de tudo e sabe que seu mundo é de fantasia.

Entremos, pois, nesse mundo maravilhoso!

** “Vanessa vai à festa do filho de Clara Aguilar”

** “Rihanna e Cara Delevigne juntas em balada”

** “Valeska Popozuda publica foto com o namorado”

** “Jennifer Lopez usa look ousado”

** “Letícia Birkheuer se refresca no mar após malhação”

** “Mila Kunis caminha por Los Angeles”

** “Alessandra Ambrósio usa macacão”

** “Kaley Cuoco já pintou o quarto que será de seu filho em nova mansão”

** “Mulher de Rafael Cardoso mostra enfeite de maternidade”

** “Miley Cyrus vai à festa de Nova York praticamente seminua”

** “Tainá Müller aparece toda fofa em canteiro de girassóis”

** “Modelo plus-size Candice Huffine mostra sua porção sexy no Instagram”

** “Malu Mader e Tony Bellotto deixam treino de tênis de bicicleta”

** “Grazi Massafera e Anna Lima dividem o camarim”

** “Luan Santana faz selfie com Gusttavo Lima e Michel Teló”

** “Leonardo mostra a língua para Eduardo Costa”

** “Confira famosas que perderam a virgindade depois do casamento”

(e como é que podemos conferir?)

 

O grande título

Há bons exemplos de títulos dos mais diversos modelos. Por exemplo, chamar uma coisa por outro nome:

** “Carreta destrói muro e 36 fogem em Pedrinhas”

O tal muro é uma paredinha fraquinha, fraquinha. É de espantar que só 36 tenham fugido.

Ou, mais uma vez, ressaltar as profundas divergências entre o Jornalismo e a Aritmética:

** “Beto Richa abre 14 pontos sobre Requião no Estado”

Seria perfeito – só que, contando direitinho, são 16.

Ou, ainda, mostrar que jornal sempre fecha, mesmo que o título não caiba no espaço a ele destinado:

** “Em 37 dias, vereadores de ficam 10 horas no plenário”

Talvez, numa próxima edição, indiquem qual é a cidade dos tais vereadores.

Mas todos empalidecem diante da manchete exclusivérrima:

** “Pela 1ª vez comandante de UPP é morto”

E, pela primeira vez desde A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água, ouve-se falar em uma pessoa que é morta pela primeira vez.

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Carlos Brickmann é jornalista, diretor da Brickmann&Associados Comunicação