Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A imprensa de olhos fechados

A imprensa toda noticiou o caso Law Kim Chong: preso pela acusação de ter tentando subornar o deputado federal Luiz Antônio Medeiros, do PTB paulista, foi chamado pelos jornais de ‘contrabandista’, de ‘líder da máfia chinesa’ (embora a denúncia fosse outra) e de ‘chinês’ (embora fosse originalmente cidadão britânico, naturalizado brasileiro). As reportagens sobre ele se limitaram às informações fornecidas pela polícia.

Há aproximadamente um mês, atribuiu-se ao deputado Luiz Antônio Medeiros, em depoimento na Justiça Federal, a informação de que Law Kim Chong nunca fez nenhuma oferta de dinheiro a ele. E, segundo se informou, completou afirmando que o flagrante de corrupção ativa – pelo qual Law Kim Chong está preso há cerca de quatro meses – foi ‘uma simulação’.

Cadê a imprensa? 

Só um veículo de comunicação do interior de São Paulo – a Rádio Planeta FM, de São José dos Campos – ouviu o deputado Medeiros, no dia 18, no Jornal das Sete Especial, apresentado por João Alckmin. Este colunista participou da entrevista. Na rádio, Medeiros disse que a informação é falsa: que, em seu depoimento, reforçou as acusações contra Law Kim Chong. Falta agora ir buscar o depoimento de Medeiros à Justiça Federal e verificar de uma vez por todas qual é o seu teor.

Cadê a imprensa?

O Jornal de Brasília deu a notícia – e os outros? Se este colunista, fechado em seu escritório, soube da notícia, que é que aconteceu com a reportagem das emissoras de rádio e TV, jornais, revistas e portais de internet? Pior: a informação de que Medeiros se desmentiu está desde 8 de setembro no portal da Fenapef, a Federação Nacional dos Policiais Federais (www.fenapef.org.br). As redações não têm ninguém circulando pela internet, em busca de informação?

Este colunista só sabe, sobre Law Kim Chong, aquilo que leu na imprensa. O homem pode ser o maior contrabandista do Brasil, pode ser líder da máfia chinesa, pode tudo – mas há uma informação de que o motivo pelo qual foi preso, segundo quem o denunciou, é falso. O portal dos policiais federais, por ser de quem é, em princípio merece crédito – mas foi acusado por um deputado federal de mentir, e de mentir deliberadamente, para fazer com que o responsável por uma série de crimes seja libertado.

E a imprensa, vai continuar quietinha?



Tudo pelo…

A prefeita paulistana Marta Suplicy inaugurou alguns de seus corredores exclusivos de ônibus, batizados com o nome promocional de Passa-Rápido. De acordo com o noticiário dos jornais, bastante negativo, a entrada em cena dos passa-rápidos não serviu de forma nenhuma para melhorar o trânsito: a confusão continuou generalizada, com os carros andando na velocidade de uma pessoa a pé. E, meio perdida no meio de tantas notícias ruins, a informação de que, para os passageiros de ônibus, o tempo de viagem tinha caído significativamente.



…anti-social

Raciocinemos: se os corredores exclusivos de ônibus visam aumentar a velocidade média do transporte coletivO, o objetivo foi alcançado. Se o objetivo fosse aumentar a velocidade média do transporte individual, os corredores de ônibus não seriam necessários. Em outras palavras, por que a cabeça do noticiário não foi o sucesso do plano, vindo apenas a seguir os problemas que este sucesso provocou?



Lembranças

Este colunista lembra perfeitamente que, quando o então prefeito Paulo Maluf construiu passagens subterrâneas para veículos, foi acusado pelo PT de privilegiar o transporte individual, porque os ônibus não podiam circular nos túneis. Agora, a prefeita do PT inaugurou suas passagens subterrâneas, por onde não podem circular ônibus, e usou a mesma defesa de Maluf: se o trânsito de automóveis é desviado para os túneis, o tráfego de superfície melhora para os ônibus. E Maluf só não está usando a mesma argumentação que o PT usou contra ele porque fechou acordo com Marta.

A política não é divertida?



O elo mais fraco

Um texto das inúmeras redações que pululam nos palácios de Brasília provocou um terremoto na área cultural: falsificava grosseiramente frases do ministro da Cultura, Gilberto Gil, atribuindo-lhe a idéia de que é preciso enfrentar ‘o fascismo dos barões da mídia’. Gil não tinha dito isso. A jornalista que redigiu o texto disse que tinha tirado a frase de outro discurso de Gil, pronunciado em outra ocasião. Nova mentira: ele não tinha dito aquilo. E, cá entre nós, juntar declarações de diversas ocasiões como se fosse uma só, sem contar ao leitor que houve a montagem… eta, coisa brava!

Depois de uma semana de burburinho, a jornalista foi demitida. Mas, cá entre nós, teria ela a ousadia de inventar sozinha uma declaração e atribuí-la a um ministro?

No mínimo, o clima vigente nessas inúmeras redações que pululam nos palácios de Brasília fez com que a jornalista se sentisse autorizada a florear as declarações de Sua Excelência, não é mesmo? E, no entanto, ela vai pagar sozinha a conta da invenção.



O pai dos burros

Uma das mais importantes revistas do país diz que houve ‘reboliço’ na passagem da modelo Daniella Cicarelli pela Espanha. Como notou o jornalista Antônio Goulart, de Porto Alegre, faltou olhar no dicionário: o que Daniella causou foi ‘rebuliço’. ‘Reboliço’ existe e está dicionarizada, mas quer dizer outra coisa.

Qual é a outra coisa? Ora, caro amigo: olhe no dicionário!

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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados Comunicação; e-mail (carlos@brickmann.com.br)