Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A notícia que é anúncio

Jabá não é novidade: fala-se até que um empresário do setor recusava aumento para os jornalistas porque eles já tinham a carteira do jornal. A novidade é outra: é que o jabá agora é público e sai em matéria assinada.

Na cobertura da São Paulo Fashion Week, uma editora de moda disse abertamente que, quanto mais influente o jornalista, mais roupas ganha. Já os jornalistas comuns, sempre segundo o noticiário dos jornais, ganham os brindes mais baratos. Há os que lutam por uma taça de champanhe (nacional); há os que ficam felizes com cremes, toalhas e chocolates. Outra jornalista informa que, para ganhar uma roupa de grife, concordou em vesti-la para assistir ao desfile. Informou também que está aberta a outras propostas.

No New York Times é proibido receber qualquer presente. Em outros jornais, é proibido receber presentes valiosos. Questão de bom senso: uma garrafa de vinho pode, uma caixa de vinho Romanée-Conti não pode. Uma caixa de chocolate, OK; um anel de brilhantes, não. Uma caneta das boas, vá lá; uma caneta com tampa de platina, não dá.

O problema é a escalada: aquilo que há algum tempo se fazia escondido tornou-se aberto, e o jornalista que recebe presentes de uma marca, e que é patrocinado por ela, é quem faz a crítica de seus produtos. Vale debater esse tema: será inevitável que isso aconteça? Se os veículos de comunicação fazem a crítica de quem os patrocina, por que não os jornalistas? Por onde passará, hoje em dia, a fronteira entre a notícia e a publicidade?



Fora e dentro

A reportagem de Larry Rohter no New York Times sobre a obesidade no Brasil é a não-matéria: revela que no Brasil – como na Ucrânia, na Itália, nos Estados Unidos, em Israel, na Síria, na Inglaterra – há também mulheres gordas (e de meia-idade). As revelações sobre uma epidemia de obesidade foram copiadas de uma pesquisa do IBGE velha de alguns dias. E, para completar a bobajada, ainda por cima as fotos de mulheres brasileiras acima do peso eram de três turistas tchecas, identificadas pelo Globo.

Na reportagem havia informações novas e fundamentadas – só que as fundamentadas não eram novas e as novas não eram fundamentadas. Pelo jeito, o correspondente Larry Rohter está tentando se vingar da tentativa de expulsá-lo do Brasil. Seria interessante, se trocasse a raiva pelo talento.



Tentando entender

Não é a primeira vez que uma pessoa poderosa perde a calma com um jornalista e o agride. O que este colunista não entende é como Ronaldo Maiorana, o mais poderoso empresário de comunicação do Pará, que agrediu o jornalista Lúcio Flávio Pinto e o ameaçou de morte, continue como coordenador da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa da OAB paraense tantos dias depois da agressão. Alô, presidente nacional da OAB, advogado Roberto Busatto: vai ficar tudo por isso mesmo?



Competente

Este colunista já trabalhou na mesma empresa com o repórter Lúcio Flávio Pinto. Ele é dos bons.



Necessidade urgente

A concorrência está no endereço eletrônico da Presidência da República, em Licitações, visitado por este colunista na quarta-feira (26/1): trata da contratação de uma empresa para a revisão de textos de língua ‘potuguesa’. Esta contratação precisa ser feita com a máxima brevidade possível.



Os pobrema, companhêro

Mas, antes que saia a piadinha fácil a respeito da revisão do português no governo Lula, olhemos para nós mesmos.

Um grande jornal, na semana passada, colocou um anúncio pedindo um ‘repóter’. Errinho? Não, errinhos: nos dias seguintes, saiu mais duas vezes o anúncio do ‘repóter’.

Também num poderoso veículo, em título grande, informou-se que os ‘radiciais’ libertaram reféns. ‘Radiciais’, pelo que este colunista pôde deduzir, é o mesmo que ‘radicais’. E ‘radicais’ é o nome que o jornal usa (ao lado de ‘militantes’) para não chamar seqüestradores pelo nome correto, ‘bandidos’ ou ‘terroristas’.

Este é o melhor: num comentário esportivo, informa-se que, em determinado momento, a torcida ‘murxou’. Parece que alguns torcedores até ‘coxilaram’, sentindo embora a falta de um ‘traveceiro’.

E Falcão, o supercraque do salão que o São Paulo levou para o futebol de campo, ‘precisa de três quatro jogo’. Imagina este colunista que o jogador precisa de três ou quatro jogos para exibir seu melhor futebol.



As chorona

Este colunista, talvez por saudosismo, lembra os tempos em que Ruy Onaga, Raul Drewnik e Luís Carlos Cardoso revisavam os textos e, infalíveis, evitavam a publicação de qualquer erro. Mas, se as empresas jornalísticas rejeitam a volta dos revisores, por que não contratar aquela mesma firma que vai revisar o ‘potuguês’ do governo?

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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados Comunicação