Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Antonio Brasil

‘Apesar de lutar com as palavras, ainda sou um jornalista das imagens. Vejo o mundo pelas imagens e agrego informações nesses símbolos gráficos que descrevemos como ‘palavras’. Para mim, não é uma tarefa fácil. Minhas idéias e pensamentos são construídos com imagens e palavras. Acredito em um jornalismo multimídia, mais completo e ambicioso que prestigie as informações nas palavras mas que não subestime as emoções das imagens. Palavras representam bem as informações, mas as fotografias ainda emocionam e mobilizam o publico.

Durante as últimas semanas, tenho tentado convencer os nossos leitores da importância do noticiário internacional. Também não é tarefa fácil. Com tantos problemas no Brasil, a guerra do Iraque parece distante e irrelevante. As manchetes de jornais brasileiros chegam mesmo a anunciar que ‘O Iraque é aqui’! Talvez, seja. Não subestimo a nossa capacidade de criar problemas cada vez maiores.

Mas outros lugares do mundo também podem ter problemas importantes, e quem sabe, até mesmo soluções relevantes para esses mesmos problemas. As informações e as imagens provenientes do Iraque nos últimos dias, por exemplo, podem nos ajudar a não só compreender o mundo em que vivemos, mas também podem nos ajudar a enfrentar as nossas dificuldades. As noticias de outros ‘conflitos’ podem ser bastante esclarecedoras e instrutivas sobre o nosso presente ou futuro.

Esta semana, uma matéria em especial do NYT me chamou a atenção. O título era: Deadly Week in Iraq Ends in Tears for the Fallen (Semana mortal no Iraque termina com lágrimas pelos mortos). A cobertura da guerra no Iraque pela imprensa americana tem mudado nos últimos dias. Começou a perceber pela primeira vez que tem gente morrendo nessa guerra. Nesta mesma matéria, em uma seção especial de multimídia com titulo simples, ‘The Dead’ (Os Mortos) é possível ver e ‘ler’ as imagens dos soldados americanos mortos no Iraque.

São fotos simples, bonecos oficiais tipo 3×4. Não são fotos premiadas produzidas por grandes profissionais. Mas elas dizem muito. Os mortos não podem mais dar entrevistas. Eles se comunicam somente por essas fotos. Cada uma delas revela uma historia. Cada uma dessas fotos representa mais do que ‘informações’. Elas mostram um ser humano, alguém que viveu, lutou – provavelmente por uma causa que jamais entendeu, e morreu. Essas pessoas não são meras ilustrações, dados estatísticos, ou palavras. Cada uma dessas fotos representa uma vida que não existe mais. É claro que deveríamos publicar também as fotos dos iraquianos mortos. Mas a verdade é que morto não tem nacionalidade. O jornalismo não deveria somente informar os fatos, deveria informar o número de mortos diariamente. Jornalismo de verdade tem uma responsabilidade formativa. Deveria ajudar a prever o futuro e ‘evitar’ novas mortes.

A leitura mais cuidadosa dessas ‘imagens’ nos revela uma série de ‘impressões’. A primeira, é o numero de mortos. Quando lemos as notícias de que 80 soldados americanos ou 800 iraquianos foram mortos não imaginamos que cada um desses mortos tem um rosto, uma história, uma foto. Dirigirmos o nosso olhar para as palavras e informações e não vemos os rostos e olhares daqueles que sofreram a pena máxima desses conflitos.

Guerra proibida para menores

Mas o que mais me impressiona nessas pequenas fotos dos soldados americanos mortos é a idade. Guerra deveria ser proibida para menores. Aqui nos EUA, grande parte desses soldados mortos no Iraque não teria sequer idade para beber. Eles mal viveram, jamais experimentaram o gosto de uma cerveja e já sentiram o sabor amargo de uma morte violenta e provavelmente desnecessária. É pensamento assustador. Quase todas as fotos mostram jovens que ainda teriam uma vida longa pela frente. Talvez, sejam ainda piores para aqueles que tem filhos nessa mesma idade. Guerra no Iraque ou na Rocinha não escolhe as vítimas.

Todas as informações, as notícias, as palavras que lemos na imprensa não falam de um futuro que esses garotos e garotas não irão presenciar. A imprensa nos imunda diariamente com dados que não entendemos e que não evitam essas mortes. Mas essas pequenas fotos dizem muito mais do que a maioria das notícias. Elas confirmam que tem gente de verdade morrendo no Iraque ou na Rocinha. Gente nova, a maioria provavelmente na faixa dos vinte e pouco anos. Essas imagens revelam histórias sobre um futuro que jamais existirá. Jornalismo não é somente a coleta insensível dos fatos, a História do presente. Jornalismo de qualidade forma opiniões, influencia decisões, e quem sabe, reverte o futuro.

Para mim, é impossível olhar para essas inúmeras fotos sem uma reação emocional. Mas assim como tentamos nos afastar dessas imagens, ignorá-las ou mesmo proibi-las para nossas crianças, deveríamos revê-las todos os dias. As informações sobre as guerras no Iraque ou no Brasil não parecem nos causar maiores efeitos. Mas a leitura mais atenta dessas pequenas fotos de mortos em tantas guerras, talvez ainda consigam nos sensibilizar. Todos os dias, os jornais deveriam fazer um esforço, ter um espaço para publicar as fotos dos mortos em guerras ou em conflitos armados em nossas cidades. Civis, militares ou policiais. Todos têm direito a uma foto a ser publicada. Todos os mortos, civis e militares, nos cobram explicações. Deveríamos mostrar diariamente essas para todos aqueles que decidem o nosso futuro. O noticiário internacional tem responsabilidades sobre as guerras que tão facilmente começamos, mas que não sabemos explicar nem conseguimos terminar.

Deveríamos deixar que os mortos contem suas histórias. Permitir que falem silenciosamente pelas suas imagens. Eles têm o direito de reclamar de um futuro que só pertence a nós, os que ainda sobrevivem. Essas pequenas fotos não têm autores, nacionalidades ou origens. Pertencem somente aos mortos. Tanto faz se os conflitos acontecem no Iraque ou nas favelas do Brasil. O choque de ver essas pequenos fotos diariamente talvez um dia nos ajude a compreender melhor as reais conseqüências das guerras em um mundo cada vez mais violento. Cada uma dessas fotos possue algo em comum. Contam histórias tristes com um final trágico.’



Deborah Berlinck

‘Imprensa francesa dividida’, copyright O Globo , 14/04/04

‘Jornais e televisões franceses estão divididos sobre se retiram ou não suas equipes do Iraque. O governo francês recomendou ontem a todos os franceses saírem do país. Alguns já se adiantaram, antes mesmo da revelação do seqüestro do jornalista Alexandre Jourdanov, da agência francesa Capa. O seqüestro aconteceu no domingo, perto de Bagdá e foi anunciado ontem pela Capa.

A rádio Europe 1 decidiu na segunda-feira chamar de volta o seu enviado especial. A France Info está indecisa. Outras rádios francesas – RTL, France Inter e RMC – estão trabalhando com freelancer. Um deles, o jornalista Roger Auque, ex-refém durante a guerra do Líbano, que trabalha para a RMC, já avisou que vai ficar. A RTL já perdeu um de seus jornalistas, Pierre Billaud, no Afeganistão, em 2001.

Já a Rádio França Internacional enviou na segunda-feira um novo jornalista para Bagdá e vai mantê-lo, com a recomendação de estejam ‘mais atentos’. As televisões TF1 e France 2 também decidiram manter suas equipes no Iraque, mas um porta-voz da TF1 disse à France Presse que a equipe pode ser chamada de volta a qualquer momento, dependendo de como evoluir a situação. A France 2, que enviou uma nova equipe no sábado, determinou que ela fique apenas em Bagdá, e não utilize as estradas para ir a outros lugares.

– Quando nossas equipes nos disserem que a situação se tornou insustentável, elas serão repatriadas – disse Etienne Leenhardt, diretor-adjunto de informação da televisão, em entrevista à France Presse.

A enviada especial do jornal ‘Libération’ voltará, como previsto, até o final da semana. O diretor de redação, Antoine de Gaudemar, disse que o jornal ainda não decidiu se vai enviar outra pessoa para substituí-la. O jornal ‘Le Monde’ deve manter seu jornalista no Iraque.’



Alexandre Martins

‘Que país é esse?’, copyright Jornal do Brasil, 17/04/04

‘Cara, cadê o meu país?, Michael Moore, Francis, 276 páginas, R$ 34

Foi para isso que eles morreram? Para fazer com que George W. Bush transforme o país no Texas? Partindo dessa pergunta, o cineasta, escritor e consciência crítica dos Estados Unidos Michael Moore faz em seu novo livro mais um ataque demolidor ao presidente Bush, criticando sua reação aos ataques de 11 de setembro e questionando seus motivos. Escrito com a conhecida virulência do autor (uma das poucas vozes dissonantes surgidas nos EUA nos últimos anos, que causou polêmica com seu discurso ao receber o Oscar por Tiros em Columbine) e apoiado em muitas fontes documentais (46 páginas de bibliografia, incluindo endereços de sites na internet), o livro aponta as ligações entre Osama bin Laden, os sauditas, o Talibã e a família Bush, exibe as mentiras oficiais contadas e protesta contra a política de assustar para dominar.

Moore começa apontando os investimentos feitos pelos Bin Laden na empresa de Bush filho no Texas e no Carlyle Group, da qual Bush pai foi consultor ao deixar a Presidência, para perguntar: ‘Por que o sr. permitiu que um jato particular saudita voasse pelos EUA nos dias que se seguiram ao 11 de setembro recolhendo membros da família Bin Laden e levando-os para fora do país sem uma investigação apropriada do FBI? Não seria possível que pelo menos um dos 24 Bin Laden tivesse remoto conhecimento de alguma coisa?’

O próximo alvo são as ligações entre os Bush e a família real saudita, que tem um de seus membros, o príncipe Bandar, chamado carinhosamente de Bandar Bush. Lembra que o governo americano censurou 28 páginas da investigação do Congresso sobre o papel dos sauditas no ataque de 11 de setembro, mostra que 15 dos 19 seqüestradores dos aviões entraram legalmente nos EUA graças a um acordo que livra os sauditas dos procedimentos normais de checagem e levanta a possibilidade de que tenham recebido treinamento militar (‘e se eles não fossem terroristas pirados, mas pilotos militares que se alistaram em uma missão suicida? E se eles o fizessem sob as ordens do governo saudita?’). O grilo-falante Moore pergunta: ‘Mr Bush, isso tem algo a ver com as íntimas relações entre sua família e a família real saudita?’

Não é o suficiente? Então Moore ainda aponta as ligações entre Bush, empresas petrolíferas do Texas, a Halliburton, a Enron e os talibãs para a construção de um gasoduto que partiria do Turcomenistão, seguiria através do Afeganistão e chegaria ao Paquistão. Negócio suspenso quando Osama bin Laden praticou atentados contra duas embaixadas e Bill Clinton retaliou, bombardeando o Sudão e um campo de treinamento no Afeganistão. ‘Qual seria a solução?’, pergunta Moore? ‘Um novo presidente até que não faria mal… Então a Enron tornou-se um dos maiores contribuintes de sua campanha eleitoral para desestabilizar o eixo Clinton/Gore.’ E as mentiras? O Iraque tem armas nucleares, químicas e biológicas. (‘Nunca houve armas químicas ou biológicas, além daquelas que nós mesmos fornecemos a Saddam nos anos 80, as mesmas que ele usou contra os curdos e contra os iranianos. Nós demos a Saddam: Bacilus anthracis, Clostridium botulinum, Histoplasma capsulatum, Brucella melitensis, Clostridium perfringens.’) O Iraque tem laços com Osama bin Laden e a Al Qaeda. (‘O problema com essa falácia é que Osama bin Laden considera Saddam um infiel. O maior motivo para que Saddam e Osama não se gostem é o mesmo motivo pelo qual os Bush e Saddam pararam de se gostar: a invasão do Kuwait. Osama estava irritado porque isso trouxe tropas americanas à Arábia Saudita e às terras sagradas dos muçulmanos. Saddam e Osama eram inimigos mortais e não podiam colocar as diferenças de lado, mesmo que o motivo da união fosse derrotar os EUA.’)

Cara, cadê o meu país? chega ao fim denunciando a tática da administração Bush de assustar para dominar, criando pânico para justificar medidas arbitrárias, pelo ‘desejo ardente de dominar o mundo’. Como? ‘Primeiro nos controlando e depois, em troca, fazendo com que apoiemos seus esforços para dominar o resto do planeta. Parece maluquice, não é? Essa é a versão de Bush da velha chantagem da proteção da máfia. Tem alguém aí fora que vai ferrar você.’ Qual a razão disso? Para Moore, a explicação é simples: os americanos estariam cada vez mais à esquerda, o que poderia ser constatado no apoio ao controle de armas, ao aborto, ao ambientalismo, ao seguro-saúde universalizado, ao não-encarceramento de infratores não-violentos, à igualdade de oportunidades para os homossexuais. ‘A verdade nua e crua – e o segredo político mais bem guardado de nossa época – é que os americanos estão mais liberais que nunca. O motivo pelo qual a direita é tão agressiva tentando esmagar toda e qualquer dissidência é porque ela sabe do segredinho que a esquerda não percebe: que mais americanos concordam com a esquerda que com a direita.

Michael Moore é faccioso? Claro. Michael Moore faz proselitismo? Sem dúvida. Mas ele não faz segredo disso. E a sua afirmação de parcialidade reforça seus argumentos: ‘Os safados que governam nosso país são uma corja de bandidos coniventes de uma figa que precisam ser depostos, removidos, substituídos por um sistema completamente novo que nós controlemos. É assim que a democracia tem que ser – nós, o povo, na porra do comando. Nunca vou esquecer da Enron. É um evento que vai além da improbidade administrativa, é um plano orquestrado para abalar nossa economia e eleger canalhas que protejam os golpistas em seu afã de tomar o país.’ Ao criticar os cortes na taxação do Imposto de Renda promovidos por Bush que beneficiaram os mais ricos, Moore avisa o que pretende fazer com o dinheiro que deixou de gastar: ‘George, vou gastá-lo inteiro para me livrar de você! Isso mesmo. Até o último centavo de minha dedução vai escorrer sobre a sua cabecinha pontuda na esperança de que quando chegar a eleição você entre na fila de desempregados e seja mandado de volta para o rancho. Será um dinheiro bem gasto.’

A devolução do imposto foi fruto dos altos rendimentos que Moore obteve com Stupid white man (mais de 5 milhões de exemplares vendidos). Na semana em que foi lançado no Brasil, Cara, cadê o meu país? entrou direto em primeiro lugar na lista de mais vendidos. O que permite que a editora faça uma segunda edição, reduzindo os muitos erros de tradução e revisão que contaminam a obra. Afinal, não são aceitáveis ‘a deputado’, ‘Nato’ no lugar de Otan, ‘nenhuma são capazes’ e chamar a cidade sagrada de ‘Mecca’, entre outros absurdos.

Em tempo: um dos méritos da edição brasileira é trazer um prólogo escrito especialmente por Moore para o público nacional, em que ele louva o país, agradece pela oposição à guerra (‘Afortunadamente vocês não se intimidaram com a provocação’) e faz um alerta: ‘A turma no poder aqui é para lá de deus-me-livre. Eu só digo o seguinte: nada vai detê-los na destruição do que estiver no seu caminho, especialmente se no caminho de eles fazerem mais uma graninha. E vão castigar vocês, sejam aliados ou não, se vocês não se ajoelharem e baixarem a cabeça à passagem deles’.

E olhe que isso foi antes que os americanos começassem a acusar o Brasil de dificultar as inspeções em instalações atômicas.’



Folha de S. Paulo

‘EUA limitam informação e criticam TVs árabes’, copyright Folha de S. Paulo, 13/04/04

‘Está cada vez mais difícil conseguir informação imparcial no Iraque. Com a intensificação da luta, autoridades americanas acirraram uma outra batalha, pela opinião pública, controlando rigidamente o fluxo de informações.

Os militares americanos divulgam comunicados e realizam ‘briefings’ quase diários na capital iraquiana. No entanto, a distância entre o que é dito e as informações que chegam do terreno cresceu muito nas últimas semanas. Muitas perguntas endereçadas aos militares encarregados de lidar com a imprensa ficam sem respostas.

Em nenhum outro lugar a guerra da mídia é mais evidente do que em Fallujah, onde, na semana passada, os marines lançaram uma operação em resposta ao assassinato seguido de mutilação dos corpos de quatro americanos.

Esquivando-se de perguntas sobre vítimas civis, o vice-chefe de operações do Exército americano, general Mark Kimmitt, descreveu a ação em Fallujah como ‘tremendamente precisa, tremendamente prudente, e completamente dentro das regras de combate’.

As poucas imagens independentes que saíram da cidade cercada sugerem o contrário. Imagens gravadas pela agência de notícias Reuters, que demoraram um dia para chegar a Bagdá, mostravam crianças mortas e velhos e mulheres feridos em clínicas improvisadas lotadas.

Kimmitt diz não ter informações precisas sobre vítimas civis e nega que os Estados Unidos retenham dados sobre as atividades militares. ‘A única coisa que não divulgo são as [informações] classificadas. Acho que desenvolvemos aqui uma operação extremamente transparente.’

Em entrevista coletiva anteontem, Kimmitt afirmou que os veículos da mídia que disseram que os americanos são responsáveis por grandes números de vítimas civis deveriam ser ignorados. ‘Sobre as imagens de forças americanas e da coalizão matando civis inocentes, meu conselho é que mudem de canal. As emissoras que estão exibindo americanos matando mulheres e crianças não são canais legítimos.’

Ontem, o comandante das forças americanas no Iraque, o general John Abizaid, acusou as redes árabes Al Jazira e Al Arabiya de mentir sobre os ataques em Fallujah. ‘Elas não estão sendo honestas, não estão sendo precisas. Está absolutamente claro que as tropas estão fazendo seu melhor para proteger os civis e ao mesmo tempo atingir os alvos militares.’

Jihad Ballout, porta-voz da Al Jazira, disse que a TV também entrevistou oficiais americanos, ‘para ser o mais equilibrada possível’. ‘Não acredito que as imagens mintam. Nós tentamos ser o mais abrangente que pudemos.’

‘Sabemos que o Iraque é um país livre e estamos praticando a responsável liberdade da imprensa que cobre todos os lados da história’, afirmou Salah Negm, editor-chefe da Al Arabiya.’



BUSH vs. WOODWARD
O Estado de S. Paulo

‘Bush desmente livro de Bob Woodward’, copyright O Estado de S. Paulo, 17/04/04

‘O presidente dos EUA, George W. Bush, negou ontem informações contidas no novo livro do jornalista Bob Woodward, segundo as quais ele ordenou secretamente que fosse iniciado um plano para a invasão do Iraque desde novembro de 2001, pouco depois do início do ataque ao Afeganistão.

Bush afirmou que, naquele momento, sua única prioridade era destruir o regime taleban.

‘Só comecei a me voltar para o Iraque mais tarde, precisamente a partir do momento em que comecei a ir às Nações Unidas (na assembléia-geral de setembro de 2002) com a mensagem de que (o Iraque) deveria cumprir as exigências do mundo’, afirmou.

Bush respondeu às afirmações de Woodward na entrevista coletiva que deu na Casa Branca com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair (ler na página 27). O jornalista, responsável pelas reportagens sobre o Caso Watergate, descreveu a ação de Bush em seu livro mais recente, Plano de Ataque, a ser lançado na semana que vem.

O livro relata minuciosamente detalhes dos planos da Casa Branca do período entre 11 de setembro de 2001, data dos ataques contra Nova York e Washington, até a invasão do Iraque, em 20 de março de 2003.

Segundo o livro, Bush pediu ao secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, que elaborasse um plano para uma possível operação militar contra Bagdá, recomendando que se mantivesse sigilo sobre ele.

Woodward manteve horas de conversas particulares com o presidente e explica que Bush quis manter a questão em um círculo muito limitado, porque estava preocupado com as conseqüências que suas intenções poderiam ter.

Segundo o jornalista, Bush evitou comentar o plano até mesmo com sua conselheira de Segurança Nacional, Condoleezza Rice, e com o diretor da CIA, George Tenet.

O pedido teria sido feito a Rumsfeld em 21 de novembro de 2001, quando as tropas americanas ainda não tinham tomado o controle total do Afeganistão.

‘Não posso lembrar das datas exatas depois de tanto tempo’, disse Bush ontem. ‘O que sei é que em uma reunião muito importante em Camp David, logo depois do 11 de setembro, o assunto do Iraque surgiu, e eu disse claramente:

‘Vamos nos centrar no Afeganistão’, acrescentou. (Reuters, AP e EFE)’



Jornal do Brasil

‘Jornalista denuncia plano de Bush’, copyright Jornal do Brasil, 18/04/04

Em novembro de 2001, quando as tropas americanas ainda não tinham tomado o controle total do Afeganistão, o presidente George Bush se encontrou com o general do Exército Tommy R. Franks, em seu gabinete, para planejar a invasão americana ao Iraque. É o que afirma o jornalista Bob Woodward, do Washington Post, em seu livro Plano de ataque, recém-lançado nos EUA.

O jornalista, que ficou famoso ao revelar o escândalo de espionagem de Watergate, com seu colega Carl Bernstein, descreve no livro detalhes dos planos de Bush entre os dias 11 de setembro de 2001 e a invasão do Iraque, em março de 2003.

Woodward teve acesso direto a horas de conversas privadas de Bush e explica que o presidente americano não comentou o plano nem mesmo com a conselheira de Segurança Nacional, Condoleezza Rice, ou com o diretor da CIA, George Tenet.

O livro relata que Bush fez uma reunião com o secretário de Defesa americano, Donald Rumsfeld, no dia 21 de novembro de 2001, para perguntar o que o Pentágono tinha reservado para o Iraque. Rumsfeld teria dito que o plano que tinham já estava antiquado, o que motivou o presidente a ordenar a preparação de uma nova estratégia.

Na sexta-feira, Bush negou as acusações de Woodward, em entrevista na Casa Branca, com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair. Ele afirmou que, naquele momento, a prioridade era acabar com o regime talibã.

Ontem, em Badgá, os dois últimos reféns japoneses no Iraque foram libertados por seus próprios seqüestradores, sãos e salvos.

O jornalista independente Junpei Yasuda e o ativista de direitos humanos Nobutaka Watanabe foram soltos em uma mesquita de Badgá.

Watanabe transmitiu uma mensagem de seus seqüestradores, que prometeram não cessar a batalha contra as forças de coalizão lideradas pelos Estados Unidos.’