Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

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CRISE POLÍTICA
Claudio Tognolli


Rasgando a fantasia, 13/01/2006


‘Volta e meia o gatarrão que assiste à televisão ‘de quebrucha’, tecnicamente
olhando para tudo o que é fétido, mas fingindo buscar algo melhor via atalho do
‘zapping’, diz por aí que ninguém gosta de largar o osso na hora das eleições,
donc todo ano eleitoral vira aquela baixaria que se supera. Este ano o gatarrão
vai tomar na toba, como se diz, porque ninguém vai vir de escada Magirus quando
o incêndio é no porão (frase de Bela Figueiredo): o ano eleitoral será o da paz
total, será Lulinha Paz e Amor até o osso. Por quê? Porque não teremos mais
assessorias de imprensa chafurdando na vida do presidente, nem espiões da
Agência Brasileira de Inteligência, a Abin, sob FHC, fotografando dinheiro
ilícito chegando em empresas, como fizeram os arapongas da Abin (hoje chamados
de carcarás) contra Jorge Murad e Roseana Sarney, em sua empresa Lunnus. (A
Justiça encerrou o caso do encontro do R$ 1,23 milhão da firma da filha do
presidente Sarney).


Tudo está no seu lugar, como diria Benito de Paula (dizem que era apoio à
ditadura mas ele nega de pés juntos). Porque agora basta colocar na campanha uma
foto de Lulinha Paz e Amor ao lado de Delúbio e dos demais cuecões do PT, ao
lado de deputados mensalões, para que de uma navalhada só se dê o golpe de
misericórdia. Não foram os escândalos de Duda Mendonça que enterraram de vez a
figura do publicitário na Presidência da República: será, sim, a facilidade de
se atingir o PT com o simples manuseio de meia dúzia de fotos, dispostas ao lado
da do presidente Lula, o que não deve custar dez réis de mel-coado. A
fragilidade de Lula dispensa publicitários inimigos atirando daqui pra lá.


Nem por isso quem critica Lula merece todo respeito. Gente que fez acordo a
torto e a direito com o PT, para serem excluídos do relatório final da CPI do
Banestado, agora anda posando de bastião da República em programas de rádio e
pondo o PT abaixo de zero. Quem terá trabalho será sim o PT em ir buscar dúzias
e dúzias de documentos, quando da campanha, para poder contra-atacar quem vai
certamente destruir facilmente o partido. A facilidade já começa agora no
finalzinho de fevereiro, no Carnaval, quando certamente a fantasia que vai
dominar a moçada será a do cuecão.


Quando havia a ditadura, a força do sistema era a correia de transmissão da
sacripantagem: o general Castelo Branco, por exemplo, entregou a presidência
para Costa e Silva em 1967 depois de ter praticado 3.747 punições políticas,
desde cassações de mandatos eletivos (116) e suspensão de direitos políticos
(547), até demissões e reformas (2.143), expulsões, etc. Tudo bem. Passar o
bastão era tranqüilo. Hoje não só exige a força do voto: exige comprometimentos
que já se fazem em janeiro, e não falamos de coisas como a Carta de São Paulo
(Lula fechando com o FMI já nas eleições), mas de pactos que só serão trazidos a
público daqui a um ano.


Os melhores indícios do que está por vir constam do livro ‘A CPI que abalou o
Brasil’, lançado essa semana em todo o Brasil, de autoria de Leonardo Attuch,
editor de economia da revista ‘Isto É Dinheiro’. Attuch foi, por exemplo, o
primeiro a descobrir Fernanda Karina Somaggio, quando ninguém ainda sabia quem
era e o que exatamente fazia Marcos Valério, o nosso macunaímico caixa petista
que parece ‘Mini Me’ do Austin Powers. Attuch revela algumas coisas como:
oficialmente, a campanha do PT em 2002 arrecadou R$ 33 milhões. Outros R$ 200
milhões foram obtidos por fora. Um único banco doou, utilizando seu caixa dois,
R$ 30 milhões. Attuch conta que no fim de 2004, Marcos Valério procurou um
aliado no PT e disse ‘O Roberto Jefferson é mal resolvido com mulher; gente
assim sempre dá problema’, quando o PT devia R$ 17 milhões ao PTB. Attuch também
conta que Collor de Mello teria mandado um emissário procurar Delúbio Soares,
querendo um pacto com o PT para repatriar dólares mantidos no exterior. Delúbio
negou e Collor passou a compará-lo a PC Farias.


Attuch narra pactos travados há três anos e que agora, em 2006, certamente
vão começar a se soltar do fundo do pântano. Para tanto, no livro, conta com
dois gargantas profundas do PT: a um chamou de Peter Throat. O outro é Pierre La
Gorge. O livro de Leonardo Attuch é uma cabala com entrelinhas poderosas a serem
decifradas: sobretudo para quem quer votar com responsabilidade em 2006. Acabo
de ler o livro e algo me turva a visão do Brasil: sob impacto das revelações de
Attuch, resolvi rasgar meu voto, porque Leonardo rasgou as fantasias que ainda
faziam o meu alegre e pobre carnaval político.’




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