Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Contra o catastrofismo, a favor do sonho



‘É preciso reservar espaço para a boa notícia. Ela também existe. E vende jornal. O leitor que aplaude a notícia verdadeira é o mesmo que se irrita com o catastrofismo que domina muitas de nossas pautas. Perdemos a capacidade de sonhar.’


Não foi Sílvio Santos com o seu conhecido horror ao jornalismo quem produziu estas pérolas. Foram escritas pelo guru de uma certa imprensa e são recentíssimas (publicadas na segunda, 13/7, nas páginas do Estado de S.Paulo e o Globo).


Se não existisse, o doutor-consultor Carlos Alberto Di Franco precisaria ser inventado. E se fosse inventado teria que ser assim mesmo, sem qualquer retoque ou reforço, antítese preciosa de tudo que é justo e válido em matéria de jornalismo.


A baboseira em favor do jornalismo de sonhos e do bom-mocismo foi publicada justamente nos dois jornais mais empenhados em escancarar o mar de lama sobre o qual surfa há mais de duas décadas o presidente do Senado José Sarney. Seu autor não reparou no detalhe.


E se Sarney, de repente, for derrubado do cavalo, como é que o doutor-consultor classificaria o noticiário – catastrofismo ou recuperação da capacidade de sonhar do cidadão brasileiro? O saneamento de um Legislativo indecoroso e desmoralizado não seria uma sensacional e estimulante notícia, sinal dos novos tempos?


Tolices periódicas


Di Franco não inventou esta esdrúxula discriminação entre notícias róseas e negras. Este pseudoconflito tem origem numa teologia dos escoteiros, inspirada em equívocos a respeito de pecado e virtude. Notícia é informação nova, será sempre útil, imprescindível. Boa notícia é a notícia que produz conhecimento. Calamitoso é fechar os olhos diante da iminência de calamidades.


O que é melhor para o país? Perceber que Sarney está com os dias contados (como mostram os jornais diariamente) ou embalar o leitorado com a frivolidade de revistas que garantem o fim da diferença entre gerações e idades?


O doutor-consultor Di Franco precisa ser preservado e difundido, suas tolices periódicas têm valor museológico: lembram as outras, impingidas em segredo por seus parceiros, ao longo de quase 20 anos, que tantos malefícios trouxeram à imprensa brasileira.