Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Deputado que ‘se lixa’ para a opinião pública ironiza mídia


Leia abaixo a seleção de quinta-feira para a seção Entre Aspas.


 


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 16 de julho de 2009


 


PODER
Maria Clara Cabral


Deputado que ‘se lixa’ festeja absolvição e ironiza mídia


‘O Conselho de Ética da Câmara arquivou ontem o processo contra o deputado Edmar Moreira (sem partido-MG), conhecido por ser dono de um castelo em Minas. Questionado, Edmar desconversou e disse que preferia falar de futebol.


A decisão foi comemorada pelo deputado Sérgio Moraes (PTB-RS), o primeiro relator do caso, que foi afastado após defender Edmar e atacar os meios de comunicação: ‘Estou me lixando para a opinião pública. Até porque parte dela não acredita no que vocês [jornalistas] escrevem. Vocês batem, mas a gente se reelege’.


Ontem, Moraes disse que lucrou com as críticas da mídia às suas declarações: ‘Essa polêmica me deu muitos pontos. Nunca recebi tantos convites na vida, ganhei espaço’.


O arquivamento do processo foi proposto pelo quarto relator do caso, deputado Sérgio Brito (PDT-BA), que entendeu não haver justa causa para instaurar processo de perda de mandato. Ele recebeu o apoio de nove deputados; três votaram contra e dois se abstiveram. O caso só será enviado ao plenário se houver recurso de 51 deputados, o que é improvável.


Edmar Moreira era investigado por mau uso da verba indenizatória. Ele exibiu notas de suas próprias empresas de segurança para justificar gastos de R$ 230,6 mil com o benefício. A suspeita era a de que os serviços não foram prestados.


Brito alegou que na época dos gastos não havia norma que impedisse o uso ‘de notas da própria empresa para obtenção de ressarcimento’, pois a proibição só foi assinada pela Câmara em abril deste ano. Ele também argumentou que não foram produzidas provas contra Edmar, ‘apenas indícios’.


‘Há indícios de que o deputado Edmar Moreira tenha utilizado serviços de uma empresa de que era sócio para gastar na denominada verba de representação. Tal fato constitui infração política, de forma a lhe ser imposta uma sanção, seja ela qual for? Positivamente, não’, escreveu no parecer.


O relator culpou a imprensa por levar Edmar ao conselho, rotulando-o de ‘o homem do castelo’. Recebeu o apoio do ex-relator Sérgio Moraes: ‘Estamos aqui pela mídia, mídia essa que cria um sensacionalismo para denegrir e desmanchar a imagem desta Casa’.


Só votaram contra o relatório Nazareno Fonteles (PT-PI), José Maia Filho (DEM-PI) e Antônio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP). Os deputados Ruy Pauletti (PSDB-RS) e Hugo Leal (PSC-RJ) se abstiveram.


Fonteles foi o segundo relator do caso: pediu a cassação de Edmar, mas seu parecer foi rejeitado por 9 votos a 4. Foi sucedido por Hugo Leal, que propôs uma punição intermediária -a suspensão das prerrogativas do mandato por quatro meses-, mas perdeu por 7 a 3.


Ontem, após a sessão, Fonteles pediu o afastamento do Conselho, dizendo não acreditar mais nesse colegiado: ‘É estranho como se usa tanta retórica para tapar o sol com a peneira. Isso aqui é uma amostra razoável da Casa. As coisas não acontecem por acaso’, disse.’


 


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Recessão para trás


‘Abrindo o dia, na manchete do ‘Valor’ de papel, ‘Números do segundo trimestre já mostram PIB em expansão’. No enunciado da reportagem, ‘Com forte impulso do consumo, PIB deixa recessão para trás’. Entre as razões, ‘a desaceleração salarial moderada’ e ‘a política fiscal expansionista’.


No fim do dia, manchete da Folha Online, ‘Bovespa sobe quase 5%’. Entre as razões, segundo o ‘Wall Street Journal’, o prenúncio de melhoria também na economia americana e o avanço das commodities, que fez saltarem Petrobras e Vale. Esta, segundo a Reuters, por ‘comentários de que chegou a acordo’ com a China ‘para um corte menor que o esperado no preço do minério de ferro’.


Em Nova York, a agência Dow Jones acompanhou seminário na Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos e destacou que o ‘Brasil se recupera, mas as eleições de 2010 são imprevisíveis’.


A NOVA ERA


Nas buscas de Brasil por Yahoo News e Google News, ontem, destaque para a visão de economista do Citigroup de que ‘Henrique Meirelles está certo: os mercados estão errados sobre a taxa de juros no Brasil’. No dia anterior, o presidente do Banco Central alertou que a curva dos juros futuros estava errada. No destaque do ‘Valor’ de ontem, Meirelles ‘derruba’ as taxas ao questionar o ‘pessimismo inflacionário do mercado’.


Em análise despachada no fim do dia, a agência Reuters proclamou, no título, ‘Nova era para as taxas de juros do Brasil, com cortes profundos’, prenunciando queda de um ponto ‘nos próximos meses’, ouvindo economistas de Goldman Sachs, Itaú etc.


US$ 1 BILHÃO


Também no topo das buscas e até no canal de notícias da BBC, com o correspondente entrando ao vivo, o anúncio formal do investimento da GM no país. Na ‘photo-op’, Lula saiu festejando, como ressaltou o site de ‘O Estado de S. Paulo’, que o país pode deixar a crise como a quinta maior economia do mundo


PIZZAIOLOS TODOS


Em novo dia de descontrole verbal, ‘O presidente Lula chama os senadores da oposição de pizzaiolos’, bradou a escalada do ‘Jornal Nacional’.


Mas a manchete do telejornal e de outras partes foi o novo Conselho de Ética comandado por um aliado de José Sarney. No Radar, o senador Cristóvam Buarque observou que ‘o Sarney passa a impressão de que quer sobreviver ao próprio Senado’.


O mesmo blog da ‘Veja’ acrescentou, logo em seguida, que na esquecida Câmara dos Deputados o presidente ‘Michel Temer e quase todos os líderes passam a semana em Paris, comemorando o 14 de Julho’.


BRANCOS CONTRA A LATINA


O questionamento da indicada de Barack Obama à Suprema Corte segue em sua cobertura sem fim e sem notícia nos EUA. No título do Politico com a palavra para ‘audiências’, são ‘Hearingzzzzzz’. Em outra versão, ‘game over’, acabou.


Ontem, a saída para a cobertura foi apelar à comédia. Sites como Huffington Post destacaram que o ‘Daily Show’ de Jon Stewart satirizou senadores republicanos e seu esforço de estigmatizar a juíza de origem latina como ‘racista’. E o texto ‘mais popular’ do ‘New York Times’ ao longo do dia foi a coluna sarcástica de Maureen Dowd com os mesmos alvos no Senado, intitulada ‘O último bastião do homem branco’.


MAIS COMÉDIA


As audiências marcam a estreia do senador democrata Al Franken, comediante que surgiu no ‘Saturday Night Live’. Integrante da comissão, ele questionou Sonia Sottomayor sobre aborto, mas antes fez piada com a admiração da juíza por Perry Mason, advogado fictício de TV que ‘perdia toda semana’, tirando risos da juíza. O site conservador National Review Online não gostou e deu como prova de que ele não tem ‘profundidade’ para o Senado’


 


 


GRAMPOS E TRAPALHADAS
Kenneth Maxwell


Imprudências da imprensa


‘A IMPRENSA se tornou assunto importante.. No Reino Unido, o ‘Guardian’ saiu ao ataque, alegando que o ‘News of the World’ estava investigando de maneira inescrupulosa astros do esporte e outras celebridades.


As manchetes que o ‘News of the World’ trazia em uma edição desta semana bastam para mostrar o problema: ‘Os Beckham: veja fotos das férias de Posh e Becks’. Abaixo, a revelação de que a irmã de Michael Jackson acredita que ele foi assassinado. Depois, ‘Topless: foto do terceiro mamilo de Lily Allen’.


Mas a acusação mais séria do ‘Guardian’ era que o ‘News of the World’ não havia deixado de lado suas operações de pirataria telefônica e de obtenção de informações sob falsos pretextos. E tampouco havia deixado de utilizar investigadores particulares para obter acesso ilegal a dados pessoais como registros tributários, extratos bancários e contas telefônicas detalhadas de ministros, parlamentares, atores e figuras do esporte.


A história se estende a Nova York. O ‘News of the World’ é controlado pela News International., de Rupert Murdoch, que controla o ‘Wall Street Journal’ e o ‘New York Post’. Executivos do império mundial de mídia vêm sendo intercambiáveis. Les Hinton, por exemplo, ex-presidente do conselho da News International, agora trabalha em Nova York como presidente-executivo da Dow Jones, a controladora do ‘Wall Street Journal’.


As acusações do ‘Guardian’ tem implicações políticas. O líder do Partido Conservador, David Cameron, alardeado como futuro primeiro-ministro britânico pela revista do ‘New York Times’, contratou o executivo Alan Coulson, antigo editor do ‘News of the World’. Coulson deixou o jornal em 2007 depois de revelações sobre as técnicas de reportagem escusas utilizadas entre 2003 e 2007. O ‘editor de assuntos da realeza’, Clive Goodman, e o investigador particular Glenn Mulcaire foram detidos e condenados à prisão por escutas ilegais em telefones de membros da família real. O ‘Guardian’ acusa o News Group Newspapers, subsidiária da News International que publica o ‘News of the World’, de ter pago US$ 1,6 milhão em um recente acordo extrajudicial para encerrar processos movidos por pessoas contra as quais praticou espionagem.


O jornal ‘Washington Post’ também sofreu embaraços. Planejava realizar ‘saraus’ na casa da diretora editorial Katherine Weymouth. Por US$ 25 mil, profissionais de lobby e executivos receberam a promessa de acesso privilegiado a membros do governo Obama, do Congresso e a repórteres da publicação. Quando a oferta chegou ao conhecimento do público, o jornal rapidamente recuou.’


 


 


TELEVISÃO
Daniel Castro


Doenças atrasam definição de elenco de ‘No Limite 4’


‘Ficou para amanhã a definição de 19 dos 20 participantes da quarta edição de ‘No Limite’, que começa a ser gravada no dia 28 no litoral do Ceará. A estreia, na Globo, será no dia 30, uma quinta-feira.


O elenco deveria ser definido ontem, mas, dos 19 previamente escolhidos pela equipe do diretor J.B. Oliveira, o Boninho, seis apresentaram problemas de saúde. Os exames realizados pela Globo revelaram que um deles tem HIV e que outro é cardíaco. A emissora exige que os participantes de seus reality shows sejam saudáveis.


A produção de ‘No Limite 4’ corria ontem para escolher novos participantes e fazer exames médicos neles. Os selecionados terão de passar pela aprovação de Manoel Martins, diretor-geral de entretenimento da emissora.


Dos 20 participantes, um deles, homem, será escolhido entre quatro candidatos nas duas próximas edições do ‘Fantástico’. A decisão se dará por provas e pelo voto popular.


O voto popular, aliás, será uma das novidades de ‘No Limite’, que volta à Globo após quase oito anos -a última edição foi em 2001. O programa continuará sendo uma disputa entre duas equipes. A perdedora indicará entre seus membros quais poderão ser eliminados pelo público, em votações por telefone, SMS e internet, como em ‘Big Brother Brasil’.


Haverá eliminações, ao vivo, às quintas e domingos.


PROMOÇÃO


O Ministério da Justiça reclassificou ontem o seriado ‘Tudo Novo de Novo’. Além de o programa já não estar mais no ar, chama a atenção o ineditismo da discórdia. A Globo considerou o programa impróprio para menores de 16 anos. O governo o liberou para 12 anos.


EM BAIXA


‘Geraldo Brasil’, novo programa da Record que estreou na semana passada apavorando os telebarracos da concorrência, já perdeu gás no Ibope. Anteontem, deu 4,1 pontos. Chegou a amargar um quinto lugar. Uma semana antes, deu 8.


EM ALTA


Em compensação, a novela ‘Poder Paralelo’ esboça uma reação no Ibope. Anteontem, cravou 13 pontos, patamar de sua antecessora. A trama vinha patinando nos dez.


IRONIA 1


O ombudsman da TV Cultura, Ernesto Rodrigues, fez uma crítica em seu blog sobre a minissérie ‘O Amor Segundo B. Schianberg’, que estreou dia 5. Escreveu apenas frases soltas, desconectadas umas das outras. Era uma ironia à falta de inteligibilidade do programa.


IRONIA 2


Ninguém entendeu, e a proposta do ombudsman -de ‘desencadear um debate com a coluna heterodoxa’- fracassou. No dia seguinte, ele reescreveu a crítica. Está no site da emissora (www.tvcultura.com.br).


ATAQUE


Diretora do futuro programa de Eliana no SBT, Leonor Correa fez um ataque nos últimos dias à produção do ‘Tudo É Possível’, da Record. Dos 20 profissionais abordados, levou menos da metade.’


 


 


Clarice Cardoso


TV leva ‘Cocoricó’ ao cinema por marketing


~A partir deste sábado, Júlio, o cavalo Alípio e a galinha Lilica, personagens do programa ‘Cocoricó’, da TV Cultura, deixam o paiol rumo à cidade e, de quebra, migram da TV para o cinema. Mas, apesar das aparências, ‘Cine Cocoricó: As Aventuras na Cidade’, que estreia em 21 salas de nove cidades do país, não é o primeiro longa da turma, alerta Fernando Gomes, diretor e criador do programa. ‘O ‘Cine’ é um pré-lançamento da nova temporada. O pessoal do marketing decidiu fazer em cinema graças à qualidade técnica que conseguimos obter gravando em HD’, afirma.. ‘Ele é totalmente televisivo porque foi produzido para TV, e não para o cinema. Tem linguagem ‘de cinema’, cuidada e tem um tratamento bacana, mas não me iludo. É televisivo.’ Televisão em tela grande é mesmo tudo o que se pode esperar do produto, que nada mais é do que cinco episódios colados um ao outro e sem enredo com começo, meio e fim que amarre tudo. Depois de três finais de semana em cartaz, ele será lançado em DVD em setembro. Os episódios, então, serão exibidos em outra ordem a partir de outubro na TV Rá Tim Bum. Na TV Cultura, vão ao ar só em 2010. Nas historinhas, os personagens passam as férias na cidade com João -o primo de Júlio que estava com ele na fazenda- e vivem aventuras bem paulistanas. Exploram pontos turísticos de São Paulo (estação da Luz, Mercado Municipal, bairro da Liberdade) e vão a um jogo de futebol entre times (alvinegro e verde e branco) que remetem a um clássico entre Corinthians e Palmeiras. No ano passado, o programa que completa 13 anos já havia ganhado os palcos. Na ocasião, Gomes afirmou que demorou para fazer a adaptação pois queria encontrar a maneira ideal de realizar a transição entre os formatos. Então por que adiantar um produto que pode ser confundido com um primeiro filme? ‘Não é questão de espera, mas de oportunidade. Um longa é algo muito mais delicado, uma produção totalmente diferenciada. Não é o mesmo caso porque lá precisávamos de uma adequação do boneco da TV para o teatro. Mas, para cinema, os bonecos são praticamente os mesmos’, afirma. O sonho de fazer o que seria, aí sim, o primeiro longa fica mais para frente. ‘É o curso natural. Já temos uma sinopse bacana, mas ainda é só uma sementinha, não tem nada de concreto. Seria a primeira vez que os personagens veriam o mar. É bem abusado levar os bonecos para a praia’, adianta.


CINE COCORICÓ: AS AVENTURAS NA CIDADE


Direção: Fernando Gomes


Quando: estreia sábado nas cidades de São Paulo, Rio, Campinas, entre outras (veja lista de endereços no site www.tvcultura.com.br/cocorico)


Classificação: livre’


 


 


PIRATARIA NA REDE
Raquel Cozer


Os piratas avançam


‘As escritoras Stephenie Meyer e Meg Cabot lideraram listas de mais vendidos com títulos como ‘Crepúsculo’ (Intrínseca) e ‘O Diário da Princesa’ (Record). A coletânea da Record que incluiu as duas, ‘Formaturas Infernais’, ficou entre os primeiros lugares de outra lista -a dos livros mais rapidamente pirateados na internet.


‘Um dia depois de chegar às livrarias ele já estava na rede’, conta Sônia Jardim, vice-presidente do grupo Record e atual presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel). ‘É impressionante como o negócio se prolifera.’


Nos últimos anos, a chamada pirataria digital de livros vem aumentando o suficiente, em quantidade e velocidade, para pôr em alerta grupos que defendem os direitos autorais.


Sem pesquisas relativas à quantidade de arquivos disponíveis na rede, a Associação Brasileira de Direitos Reprográficos mede o problema pelo número de denúncias de autores e editoras. O aumento foi de 140% em menos de três anos -de 13 denúncias mensais recebidas em 2007, a ABDR recebe hoje cerca de uma por dia. Cada denúncia envolve a pirataria de, em média, cinco livros.


O aumento levou o Snel e a ABDR a optarem por um combate mais ‘sistemático’. O departamento jurídico da associação, que em 2006 tinha um advogado, terá cinco até agosto -dois serão responsáveis unicamente por vasculhar sites e pedir a retirada de textos.


‘O combate permanente é difícil porque os piratas mudam de endereço o tempo todo’, diz Roberto Feith, diretor-presidente da editora Objetiva. Entre os endereços mais visados, estão o Viciados em Livros -que oferece livros em DOC, TXT e PDF, com capa, sinopse e até crédito de quem ‘preparou’ o arquivo- e o Esnips.


Livros científicos e técnicos são alguns dos mais baixados, mas best-sellers e volumes de autoajuda também estão no topo das buscas. O site Rei do E-Book, com 500 títulos, tem uma lista de ‘mais baixados’ na qual aparecem ‘O Vendedor de Sonhos’, de Augusto Cury, ‘O Pequeno Príncipe’ e outros.


Leitura na tela


A iminência da chegada dos dispositivos de leitura de livros eletrônicos, os chamados leitores de e-book, é outra preocupação. Os mais famosos -o Kindle, da Amazon, e o Sony Reader- ainda não têm previsão de lançamento no Brasil. No mês passado, no entanto, a Braview anunciou o lançamento do ‘primeiro leitor de e-books do país’ -um modelo mais simples que o Kindle, previsto para chegar às lojas em outubro, a cerca de R$ 400.


Independentemente disso, as novas gerações não veem tanto problema em ler em telas. Na comunidade Livros para Download, do Orkut, boa parte dos usuários diz que lê os textos no computador, no celular ou em aparelhos de MP4. ‘Se um texto tiver mais de dez páginas, eu preciso imprimir para ler. Mas um adolescente pode ler no computador sem problema’, avalia Dalton Morato, diretor jurídico da ABDR.


Ele afirma que o download ilegal ainda não é o maior meio de pirataria de livros no país -em primeiro ainda está a xerox usada em universidades; a estimativa ‘conservadora’ da ABDR é que sejam realizadas três bilhões de fotocópias por ano. ‘Mas a pirataria digital tende a superar a física em não muito tempo’, avalia.


O diretor geral da Planeta no Brasil, César González, afirma que o download ilegal de livros ainda não causa prejuízo direto nas vendas. Da editora, o livro ‘Roberto Carlos em Detalhes’, de Paulo César de Araujo, continua disponível na rede mesmo após o acordo judicial com o biografado, que interrompeu a comercialização da obra.


A editora Sextante, que tem livros entre os baixados, não havia tomado iniciativa em relação à questão até ser contatada pela reportagem da Folha. Sua assessoria de imprensa informou que irá ‘encaminhar as informações recebidas para o jurídico para que eles avaliem e tomem as medidas cabíveis’.


Legislação


Na maior parte das vezes, segundo a ABDR e o Snel, os sites respeitam as notificações recebidas e retiram os arquivos ilegais -nesse caso, não precisam pagar multa nem tirar o endereço do ar. Neste ano, em quatro ocasiões as entidades precisaram recorrer à Justiça para conseguir tirar textos da rede.


Em junho, foi apresentado um projeto de lei para regulamentar o download de arquivos eletrônicos na internet. A Lei de Direitos Autorais, porém, já protege os autores tanto contra a reprodução física quanto contra a digital, justamente por não especificar que tipo de reprodução é proibida.


‘Muitas vezes, os piratas nem têm noção de que estão cometendo um crime’, diz Fabiana Fontoura, advogada da editora Globo, que já teve de pedir a retirada de livros do ar.’


 


 


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‘Se tivesse como comprar, não baixaria’, diz usuário


‘‘Meu objetivo não é prejudicar os autores e sim compartilhar [os livros] com leitores do meu blog’, diz Alexandre Chahoud, 21, ‘administrador e dono’ do site Rei do E-Book.


Ele afirma que resolveu criar a página depois de amigos comentarem sobre a dificuldade de encontrar determinados títulos no país. ‘Mas o crescimento foi tão grande que se tornou uma coisa pública.’


Nos seis meses de existência do site, diz, já aconteceu de ‘autores se sentirem constrangidos e pedirem para que suas obras fossem removidas’. Foi o caso de André Vianco, que ‘pediu gentilmente via Twitter e e-mail que fossem retiradas duas de suas obras’. Elas não aparecem atualmente no site.


Com cerca de 3.000 arquivos disponíveis, o blog SSRJ Book Download é coordenado por uma aposentada de 55 anos, que se indentifica como Sonia SSRJ. Com ‘clássicos’ entre os mais baixados -em primeiro lugar, estão obras de Agatha Christie, com mais de 4.000 downloads já feitos-, Sonia diz que evita escritores brasileiros. ‘Sempre dá problema..’


Ela defende o que chama de ‘leitura democraticamente livre’ e afirma que a maioria dos usuários de seu site são ‘pessoas que não têm acesso a bibliotecas ou que não têm como comprar livros’.


Samuel Pinheiro, 24, que faz especialização em literatura em São Paulo, diz que não teria conseguido definir seu projeto de monografia sem a ajuda do Esnips. Ele procurava um texto do japonês Haruki Murakami, ‘The Girl from Ipanema, 1963/1982’, e achou no site uma tradução para o inglês. ‘Se tivesse como comprar aqui, não teria baixado’, diz.’


 


 


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Autores lamentam casos, mas não veem solução


‘No ano passado, o escritor Marcelo Rubens Paiva cadastrou o próprio nome no Google Alert -serviço que envia ao internauta links sobre assuntos selecionados que caem na rede- para ficar ciente quando grupos de teatro montassem peças a partir de textos seus.


Logo recebeu um aviso de que seu livro ‘Feliz Ano Velho’ (Objetiva) estava disponível para download, em formato DOC, no Esnips. Escreveu pedindo a retirada do texto, e o título saiu do ar. Uma semana depois, um novo aviso -agora o livro aparecia também no formato PDF. Na sequência, entrou o romance ‘Blecaute’. ‘Desisti. Não tem mais o que fazer’, lamenta o escritor.


Paiva vê uma diferença entre a pirataria na música e na literatura: ‘Na música, por mais nociva que seja, a pirataria pode até aquecer o mercado de shows. Agora, na literatura, a gente não tem outra fonte de renda que não seja o livro’.


O escritor e colunista da Folha Ruy Castro também deparou, há alguns anos, com um arquivo com o texto de ‘Chega de Saudade’ (Companhia das Letras) disponível na internet. Não pensa em tentar brigar com os novos tempos. ‘Seria só uma fonte total de aborrecimento para mim’, imagina.


O que mais o incomoda, na verdade, é outra questão. ‘O texto que vi inteiro lá está na rede de uma maneira absurda: não tem parágrafo nem nada. O cidadão [o próprio Ruy] toma o maior cuidado para separar tudo em parágrafos, vem um imbecil e joga tudo lá como se fosse uma coisa só’, reclama. ‘Quero crer que o leitor vai preferir sempre o livro original, com ilustrações e a revisão impecável da editora’, ele diz.’


 


 


REVISTA
Marcos Augusto Gonçalves


Jovens criam controvérsia com revista


‘Tudo começou com um grupo de estudos de filosofia, no início de 2004, formado por amigos que não eram exatamente do ramo -basta dizer que Guilherme Malzoni Rabello, 25, um dos idealizadores dos encontros, estudava engenharia naval. Aos poucos, o núcleo se expandiu e surgiu a ideia da criação de um instituto cultural, que daria seus primeiros passos apoiado numa revista semestral de ensaios.


No mês passado, a ‘Dicta&Contradicta’ chegou a seu terceiro número reunindo um elenco de jovens desconhecidos, autores estrangeiros pouco divulgados no país, medalhões da direita, como Olavo de Carvalho, e expoentes da recente safra conservadora, caso de João Pereira Coutinho, colunista da Ilustrada.


Por ora, o Instituto de Formação e Educação, que Guilherme preside, não é mais do que um telefone com prefixo paulistano e caixa postal -mas se depender da ambição dos rapazes será muito mais.


‘Estamos apenas começando um projeto que pretendemos consolidar no futuro, um projeto de vida’, diz Guilherme, já satisfeito com os primeiros resultados da publicação, que tem um site no endereço www.dicta.com.br.


Para uma revista que chegou às livrarias como uma espécie de objeto não identificado, vender 1.000 exemplares seria ótimo, mas 500, segundo Guilherme, ainda daria para começar. Surpreendentemente, o primeiro número, lançado em junho do ano passado, já chegou à casa dos 2.000.


O êxito parece ter estufado a autoestima do grupo. Na edição mais recente, a ‘Dicta’ endereçou uma irônica mensagem de boas vindas à revista ‘Serrote’, do Instituto Moreira Salles, chamando-a de ‘irmã mais nova’: ‘É uma alegria ver que atingimos o nosso ideal de estimular o debate de ideias no país… ainda que seja à custa de um certo grau de imitação’.


Para o jornalista Flávio Pinheiro, superintendente executivo do IMS e um dos responsáveis pela ‘Serrote’, não é possível ‘nem remotamente’ falar em imitação.


‘Alimento a ideia de uma revista de ensaios como a ‘Serrote’ há anos. Nessa área ninguém vai inventar a roda. Revistas de ensaio já existiram aqui há décadas e há inúmeros exemplos em diversos países.’


Pinheiro vê na ‘Dicta’ uma representante do ‘pensamento conservador, liberal, que é preciso existir’. Mas não contrapõe a ‘Serrote’ -que já atingiu cerca de 4.000 exemplares desde o início de abril- a esta linha. ‘A Serrote quer ser inteligente, quer contribuir para a divulgação do ensaio fora da tradição acadêmica, como um gênero que mistura erudição, clareza e audácia de opinião.’


Para Guilherme e o coeditor editor Martim Vazques da Cunha, as duas revistas são concorrentes e isso é estimulante. ‘Sabemos que a ‘Serrote’ pode trazer coisas interessantes, o que aumenta nossa exigência.’


Pinheiro preferiu ao comentar a revista evitar a classificação de ‘direita’ -termo que Guilherme repele: ‘O que significa isso exatamente? Eu, com toda sinceridade, não sei. O nosso objetivo com a ‘Dicta’ é justamente questionar esses critérios’.


Mesmo a qualificação de ‘conservadora’ não é bem vista, embora a preferência por temas e angulações dessa orientação seja evidente na revista, que publica, por exemplo, ensaio atacando o modernismo e demonstra simpatia por autores como Edmund Burke e Ortega e Gasset.


‘A cultura deveria ser o que julga as ideologias. Tratá-la a partir de conceitos como ‘conservadorismo’ ou ‘progressismo’ leva à consequência de se criar um esquema reducionista, ou seja, falso’, argumenta Guilherme.


A publicação, segundo ele tem ‘interesses e valores comuns’. Cita entre eles ‘a convicção de que qualquer resultado intelectual de peso só se consegue atingir pelo estudo e pelo trabalho sério e a primazia da pessoa diante do Estado ou grupos ideológicos’.


Mas esses valores, diz ele, ‘não são uma causa, e sim uma diretriz.’’


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 16 de julho de 2009


 


CENSURA
Reuters


Abbas proíbe Al-Jazira de atuar na Cisjordânia


‘A Autoridade Palestina (AP) proibiu ontem a emissora de TV Al-Jazira de trabalhar na Cisjordânia sob alegação de que o canal árabe incita seus telespectadores contra o presidente palestino, Mahmoud Abbas, e apoia o grupo radical islâmico Hamas contra o secular Fatah.


A decisão foi tomada depois que a emissora levou ao ar um programa de 30 minutos em que acusava Abbas de ter participado, cinco anos atrás, de um complô para matar seu antecessor na AP, Yasser Arafat, morto em 2004 em Paris.


A acusação, veiculada na terça-feira, foi atribuída pela TV a um dos principais rivais de Abbas no Fatah, Farouq al-Kadoumi, que vive fora dos territórios palestinos. ‘Apesar de nossos repetidos apelos para que a Al-Jazira mantivesse a objetividade na cobertura das questões palestinas e assumisse uma posição equilibrada sobre a situação, o canal continua incitando a população’, disse o comunicado emitido pelo Ministério da Informação.


Agentes de segurança da AP foram à sede da emissora, em Ramallah, para entregar a ordem do ministério. ‘Os funcionários da Al-Jazira não estão autorizados a trabalhar, transmitir ou sair a campo enquanto o Judiciário não der o veredicto’, disse o porta-voz do serviço de segurança da AP, Adnan Damiri. As relações entre a Al-Jazira e a AP começaram a se deteriorar depois que o Hamas assumiu o controle da Faixa de Gaza, há dois anos, expulsando o rival Fatah. Na época, correspondentes da emissora disseram ter sofrido pressão das forças de segurança subordinadas a Abbas.’


 


 


RÚSSIA
AP, AFP e Reuters


Ativista é encontrada morta na Chechênia


‘Natalia Estemirova, importante ativista dos direitos humanos na Chechênia, foi encontrada morta ontem horas depois de ter sido sequestrada em Grozni. O corpo foi achado em um bosque perto da cidade de Nazran, na Ingushetia, na fronteira oeste da Chechênia.


Natalia – que era amiga da jornalista russa Anna Politkovskaya, assassinada em 2006 – era colaboradora da organização de direitos humanos Memorial e denunciou diversos abusos das agências policiais chechenas.


Segundo testemunhas, quatro homens aproximaram-se de Natalia perto de sua casa em Grozni e a obrigaram a entrar em um carro branco. Enquanto o carro fugia, Natalia gritou que estava sendo sequestrada. Horas depois, seu corpo foi encontrado com dois ferimentos de bala na cabeça.


O presidente russo, Dmitri Medvedev, pronunciou-se contra o assassinato da ativista, que causou revolta na comunidade internacional, e ordenou uma investigação.


‘A notícia foi dada ao presidente, que ficou indignado com o caso e deu as ordens necessárias para o chefe do comitê de investigação, Alexander Bastrykin’, afirmou Natalya Timakova, porta-voz do Kremlin. ‘É evidente que esse assassinato pode estar relacionado às atividades de direitos humanos de Natalia.’


A Casa Branca disse ter ficado perturbada com o assassinato de Natalia e pediu a Moscou que leve os culpados à Justiça.


A ativista havia denunciado recentemente execuções arbitrárias na Chechênia, irritando as autoridades pró-Moscou no país. Alexander Cherkasov, que trabalha na sede da Memorial em Moscou, afirmou que as investigações de Natalia atraíram uma atenção negativa por parte do governo.


‘Sei que isso provocou, em uma maneira gentil de se dizer, uma ?reação nervosa? das autoridades chechenas’, disse Cherkasov. O gabinete do presidente checheno, Ramzan Kadyrov, não quis comentar as acusações. ‘Ela documentou as violações mais horríveis, execuções em massa, e era o principal contato de jornalistas estrangeiros e organizações internacionais’, ressaltou Tatyana Lokshina, da Human Rights Watch (HRW). ‘Ela fez coisas que nenhuma outra pessoa ousou fazer.’ Fluente em checheno e mãe solteira, Natalia trabalhou como intérprete de Politkovskaya durante o tempo que a jornalista passou na Chechênia (mais informações nesta página).


SÉRIE DE VIOLAÇÕES


A morte de Natalia é a mais recente em uma série de assassinatos de jornalistas e militantes dos direitos humanos na Rússia. Em janeiro, o advogado russo Stanislav Markelov, defensor dos direitos humanos, foi morto a tiros em Moscou por um homem mascarado, quando saía de uma entrevista coletiva.


A jornalista Anastasia Baburova, que o acompanhava, também foi atingida e morreu horas depois. Markelov, que também trabalhou com Natalia, lutava contra a libertação do general russo Yuri Budanov, acusado de ter matado uma jovem chechena em 2000, que se tornou símbolo dos abusos aos direitos humanos no país.


Desde o colapso da União Soviética, a Chechênia tem sido uma dor de cabeça para a Rússia, contabilizando duas guerras e milhares de mortos. Kadyrov foi apontado pelo então presidente e agora premiê Vladimir Putin para tentar pôr um fim à resistência rebelde. Organizações de direitos humanos e jornalistas acusam o governo de Kadyrov de sequestro, tortura e execuções extrajudiciais para conseguir atingir suas metas.


MORTES SUSPEITAS


Stanislav Markelov – Advogado russo, defensor dos direitos humanos, foi morto a tiros em janeiro quando saía de uma entrevista coletiva em Moscou


Anastasia Baburova – Jornalista que acompanhava Markelov, também foi atingida por tiros e morreu horas depois dele


Ivan Safronov – Repórter especializado na área militar de um dos principais jornais russos, morreu em março de 2007 ao cair da janela de seu apartamento em Moscou. Tinha sido interrogado várias vezes pelo serviço secreto a respeito de suas reportagens


Anna Politkovskaya – Jornalista, uma das principais críticas de Vladimir Putin; seu assassinato em 2006 continua sem solução


Zelimkham Yandarbiyev – Ex-presidente da Chechênia e inimigo do Kremlin, foi assassinado em fevereiro de 2004, numa explosão que destruiu seu automóvel


Karinna Moskalenko – Advogada de adversários do Kremlin, foi envenenada por mercúrio em novembro, mas sobreviveu’


 


 


Morte de repórter segue impune


‘O caso da jornalista russa Anna Politkovskaya permanece sem solução. No mês passado, o Supremo Tribunal da Rússia anulou a absolvição de três suspeitos do assassinato da jornalista, encontrada morta no prédio onde morava em 2006. A corte ainda ordenou a abertura de novo julgamento sobre o caso.


Politkovskaya era uma das maiores críticas do governo do ex-presidente Vladimir Putin e trabalhava, desde 1999, para o jornal ‘Novaya Gazeta’. Ela chegou a pedir que o presidente checheno, Ramzan Kadyrov, fosse julgado por crimes de guerra. Filha de diplomatas soviéticos de origem ucraniana, que trabalhavam na sede da ONU, ela nasceu em Nova York, mas se mudou para Moscou ainda criança, onde estudou jornalismo.’


 


 


POLÍTICA CULTURAL
Jotabê Medeiros


Tíquete para a cultura


‘A gente não quer só comida, a gente quer bebida, diversão e arte, dizia a letra da música dos Titãs. Na próxima quinta-feira, às 18 horas, no Teatro Raul Cortez, na Federação do Comércio (Bela Vista), em São Paulo, começa a se estruturar um dos tripés dessa pequena utopia. Será assinado, com a presença do presidente Lula, o projeto de lei que cria o Vale Cultura.


Será o segundo projeto de criação do Vale Cultura a ser encaminhado ao Congresso. O primeiro tramita há três anos na Câmara e já passou por todas as instâncias (foi aprovado nas comissões por unanimidade). Mas o problema do Vale Cultura dos deputados é de verba, já que ele pediria a criação de uma despesa orçamentária extra, o que é proibido pela Lei de Responsabilidade Fiscal.


O Vale Cultura do governo Lula, por seu turno, pretende abraçar a proposta do Congresso e dar-lhe efetividade. O tíquete será subsidiado pela renúncia fiscal. O mecanismo consiste na adoção de um bônus mensal de R$ 50 para que o trabalhador gaste com consumo cultural – cinema, artes cênicas, literatura, artes visuais, audiovisual, música e patrimônio cultural. É uma variação de outras modalidades de bônus, como os vales refeição e transporte.


O ‘tíquete plateia’ poderá atingir até 14 milhões de trabalhadores no País e injetar, de forma direta, cerca de R$ 600 milhões por mês no mercado cultural – uma inoculação anual de mais de R$ 7 bilhões no mercado (sete vezes mais do que a Lei Rouanet inteira anualmente).


Funciona assim: do valor mensal unitário de R$ 50, o governo entra com 30%; o empregador pagará 50% (terá renúncia fiscal de até 1% do Imposto de Renda devido); e o trabalhador, 20% (ou R$ 10). Apenas empresas que pagam impostos com base no lucro real poderão disponibilizar o vale-cultura aos trabalhadores.


‘É um instrumento de acessibilidade’, considerou recentemente o ministro da Cultura, Juca Ferreira, em entrevista a uma emissora estatal. ‘Porque toda empresa que paga imposto, de lucro real, vai poder disponibilizar (o vale) para os seus trabalhadores e, evidentemente, os trabalhadores vão reivindicar isso por meio dos seus sindicatos e centrais sindicais. Tende a se generalizar, como o vale-refeição.’


O Vale Cultura do Congresso foi proposto em 2006 pelo então deputado (hoje ministro) José Múcio Monteiro (PTB/PE), e enfrentou diversas etapas de aprimoramento. Atualmente, repousa na mesa do relator da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC), o deputado Augusto Farias (PTB-AL) esperando assinatura.


O governo pediu autorização ao ministro José Múcio para encampar sua proposta e incorporar mecanismo concreto de financiamento do projeto.. ‘A gente não quer a autoria, quer apenas que o Vale Cultura aconteça. Vamos aproveitar o que a Câmara já fez ‘, disse Alfredo Manevy, secretário executivo do Ministério da Cultura. Segundo Manevy, pelo ‘grande consenso’ em torno da ideia, a expectativa é que a lei tenha tramitação rápida e entre em ação ainda este ano.


De fato, o Vale Cultura tem reunido apoios importantes. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo apoia o mecanismo, assim como as centrais sindicais. Na sexta-feira, durante o XI Fórum de Governadores do Nordeste, em João Pessoa, Paraíba, todos os governadores da região divulgaram uma carta, que diz: ‘A atual proposta contém medidas inovadoras para a política brasileira da área, com efeitos positivos para o desenvolvimento do Nordeste. Promove a desconcentração regional e setorial do acesso aos recursos de fomento; amplia mecanismos de financiamento, indo além da renúncia fiscal; e democratiza o consumo cultural, através do Vale Cultura.’


Em São Paulo, o governo do Estado já desenvolve ações do tipo, como a distribuição de 2,5 milhões de bilhetes de cinema por ano para alunos da rede pública de ensino. João Sayad, secretário de Estado da Cultura, vê com bons olhos e apoia a chegada do novo Vale Cultura.


‘A política cultural do País apoia artistas e criadores através de gastos orçamentários e renúncias fiscais em todos os níveis da federação. Entretanto, não há nenhum apoio financeiro para o público. Num país de ricos e pobres, há um grande contingente de brasileiros que não tem renda suficiente para ir ao cinema, ao teatro ou a outro tipo de evento cultural’, ele pondera. ‘O projeto de lei que institui o vale cultura, análogo ao vale transporte ou ao vale refeição, corrige e preenche uma lacuna importante das políticas culturais do País. Assim como o vale-transporte ou refeição, criará um mercado importante para a cultura no País’, afirmou Sayad.


Há ainda diversas dúvidas sobre o funcionamento do sistema (por exemplo: as empresas terão de ser credenciadas?). O governo promete responder a elas a partir de segunda-feira.


CINCO DÚVIDAS


1. O vale-cultura não poderá ser usado em outros fins, como por exemplo para comprar cigarro, em vez de para consumir cultura?


O governo acredita que a troca (ou escambo) do vale por produtos é um efeito ‘marginal’ do uso, e equivale a uma perda pequena, da mesma forma que o Vale Refeição. Não vai prejudicar o uso essencial.


2. Esse valor não é irrisório, face ao déficit cultural do brasileiro?


O valor baixo, segundo o projeto, é para desestimular fraudes tributárias (pagamento de verba salarial por meio do vale).


3. O vale-cultura poderia ser usado para consumir produtos informais, como os CDs do tecnobrega paraense?


Não é recomendado. O espírito do projeto de lei é aumentar a arrecadação de tributos, além de gerar mais empregos e criar um círculo virtuoso. A produção citada não tem taxação.


4. O vale-cultura poderá ser usado por qualquer trabalhador, desde aquele que ganha salário mínimo quanto o executivo que ganha R$ 60 mil?


Não. Apenas por trabalhadores de baixa renda. A ideia é democratizar o acesso à cultura (o trabalhador que ganha bem já pode consumir cultura).


5. O trabalhador pode levar a mulher ou algum filho ao cinema com o vale-cultura?


Pode. O problema é que vai gastar seu tíquete muito rápido, mas é permitido.’


 


 


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MinC sai à caça de pareceristas remunerados


‘Desde ontem e até o dia 28 de agosto, o Ministério da Cultura seleciona especialistas para montar um Banco de Pareceristas habilitados a examinar projetos que postulem verbas da Lei Rouanet. O primeiro edital de pareceristas foi publicado na segunda-feira, 13, e revela intenção de expandir as formas de análise dos projetos do Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), hoje considerado um dos pontos fracos do Ministério da Cultura.


O parecerista será avaliado por meio de seu currículo, da formação acadêmica, experiência profissional e da habilitação que demonstrar em determinada área. Receberá pontos por cada item. Selecionado, ele fica à disposição num banco de dados durante 12 meses, e pode ser acionado para examinar determinados projetos. Receberá de R$ 122 a R$ 1,6 mil pela colaboração, de acordo com a complexidade do projeto.


‘O objetivo é a celeridade, a transparência e a qualificação’, diz nota oficial do ministério. Nos últimos cinco anos, informou o MinC, a quantidade de propostas apresentadas à Lei Rouanet aumentou em 40% e os recursos da renúncia fiscal foram de R$ 300 milhões para R$ 1,2 bilhões. São 18 mil processos pedindo o benefício por ano (eram 3 mil em média no ano de 2003).


No ano passado, uma das instituições responsáveis por grande parte dos pareceres técnicos da Lei Rouanet, a Funarte, chegou a atrasar 4 mil projetos em poucos meses. O atraso foi atribuído à greve de servidores do Ministério da Cultura, que paralisou os serviços por 100 dias.


O ministro Juca Ferreira, recentemente, criticou o sistema atual de pareceres dizendo que usam de subjetivismo, e ele prefere que haja ‘critérios objetivos pré-definidos’. Ele interviu em situações que tiveram pareceres contrários da Lei Rouanet, como os apoios a Fernanda Montenegro, Caetano Veloso e Maria Bethânia.


Na seleção (www.cultura.gov.br), as pessoas físicas que tiverem a solicitação de credenciamento indeferida poderão interpor recurso, em 5 dias úteis, a partir da publicação no Diário Oficial da União. Os candidatos serão avaliados por uma Comissão de Credenciamento e o perito credenciado deverá firmar um termo de compromisso com o MinC. ‘O Sistema de Credenciamento de peritos no âmbito do Sistema MinC não visa a contratar profissionais para suprir mão de obra na Administração Pública Federal ou que venham a atuar na esfera de atribuição dos servidores’, adverte o anúncio.’


 


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez


O Aprendiz no SBT


‘Vem aí a próxima edição de O Aprendiz. Onde? Esse é o problema. Assim como Roberto Justus, apresentador, até então, da versão nacional, o reality show também tinha contrato por edição com a Record. Em tese, com Justus agora no SBT, qualquer emissora pode comprar o formato da Fremantle. É justamente aí que entra o SBT.


Além da Record, que já declarou a intenção de prosseguir com O Aprendiz, Silvio Santos também estaria interessado no formato, e sim, Justus também estaria pessoalmente engajado em trazer a atração para sua nova emissora. O empresário, por meio de sua assessoria, confirma o interesse em O Aprendiz no SBT, mas diz só depois que a Record abrir mão.


Já a Record propôs à Fremantle a continuação do projeto com novo apresentador. João Dória Jr. foi o nome sugerido. Essa mudança depende da aprovação do criador do original, o britânico Mark Burnett, que sempre se mostrou muito impressionado com a atuação de Justus na versão brasileira.


O cabo de guerra pelo O Aprendiz deve ser decidido até o fim do mês.


Procurada, a Fremantle não se manifestou até o fechamento da coluna.’


 


 


 


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