Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

E que obituário caprichado!

Só mesmo Roberto Marinho mereceu obituário tão longo e detalhado quanto o de José Dirceu no Jornal da Globo de 30/11 (bem, madrugada de 1º de dezembro). Segundo Franklin Martins, que sabe tudo, Dirceu perdeu a votação na noite de 30/11 no plenário da Câmara não porque houvesse provas taxativas contra ele, mas porque ‘a opinião pública o condenou’.

Tudo bem, não espanta que comentarista político experiente não opine sobre essa maluquice. Não espanta nem mesmo que comentarista político experiente não-adestrado pelo PSDB se associe à convicção generalizada, na imprensa e na oposição, de que Dirceu é o Satã do PT. Avezada por dois séculos de caudilhos e morubixabas, a imprensa, mesmo a mais esclarecida, precisa de heróis e bandidos, porque não entende nem é capaz de ajudar seu usuário a entender o PT, coletivo atribulado em luta ideológica permanente. Se o povo deseducado precisa de messias, a mídia despreparada precisa de demônios. E essa nossa academia, preguiçosa, pouco interfere na análise da contemporaneidade, dança conforme o ritmo da moda. Natural que nossa imprensa pé-de-valsa, coitada, fique no minueto. Não espanta.

Tliluliluli

O que espanta de fato, perplexidade, até mesmo estupor, é que um analista político experiente não-adestrado pelo PSDB e preparado tenha a coragem de usar a expressão ‘opinião pública’ num comentário. Opinião pública, colega? A opinião pública é quem mesmo? Ricardo Noblat, Diogo Mainardi? O povão não é. O Comitê Gestor da Internet, por exemplo, delimitou muito bem essa ‘opinião pública’: 68% dos brasileiros nunca acessaram a internet, 55% nunca usaram computador. Deprimente.

Portanto, colega, isso que se vê no Blog do Noblat não é a ‘opinião pública’. É a classe A/B, avezada não há 200, mas há 500 anos. Opinião pública não lê a ‘coluna’ do Mainardi, nem tem canal eletrônico para se expressar. Só mesmo a urna, que vai fazer tliluliluli no ano que vem.

Em tempo: sem trocadilhos, por favor, no tliluliluli; trata-se da onomatopéia possível daquele sonzinho da urna.