Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Grandes questões ausentes

No Roda Viva da TV Cultura de segunda-feira (28/11), o secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, reafirmou implicitamente o maior mérito da política do governo do estado: tentar passar do “combate” ao policiamento, da concepção bélica a uma concepção mais afinada com o Estado democrático de direito. (Veja aqui mais informação sobre o programa.)

Como tudo que acontece nos meios de comunicação, o mais importante não foi dito. Por exemplo, e exatamente a propósito da mudança de rumo da atuação policial, não se discutiu a criação de um novo batalhão do Bope, agora na favela da Maré.

Outro ponto inexplorado é a percepção, manifestada pelo professor Michel Misse, da UFRJ, e por outros pesquisadores, de que o negócio da cocaína está em declínio no Rio.

Também não se discutiu a integração orgânica da polícia com as diferentes modalidades criminosas, embora se tenha mencionado o baixo salário dos policiais – que não é a explicação para o fenômeno − e Beltrame tenha dito que o crime organizado é o crime do colarinho branco.

Persistência da pobreza

A mais relevante das discussões ausentes desborda as atribuições do secretário Beltrame e do governador Sérgio Cabral Filho. É uma pergunta que a nação precisa fazer a si mesma: por que ainda existem favelas? Não só existem como cresceram desde a redemocratização de 1985.

Favelas, periferias, conjuntos habitacionais decrépitos estão em todas as grandes cidades do país. No discurso de posse que não pronunciou, Tancredo Neves constatava que elas já estavam nas cidades de porte médio. Existe uma territorialização, consequentemente uma segregação dos pobres.

A notícia é do dia 17 de novembro: segundo o IBGE, metade dos brasileiros tem rendimento domiciliar per capita de até R$ 375. E um quarto não passa de R$ 188.

Será a pacificação das favelas uma maneira aparentemente mais civilizada de controlar essa gente?       

Não se trata de evitar a discussão da criminalidade e da violência em nome de algum “sociologismo”. Ao contrário, essa discussão se torna mais profícua quando entra nela o maior número de fatores, quando se procura entender como vive, ou sobrevive, a massa de brasileiros pobres.