Tuesday, 19 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1279

Histórias que gostaríamos de conhecer

1 – A Polícia Federal desfechou uma série de operações, com muita gente presa. E com um comportamento novo (e elogiável): sem espetáculo. Não havia câmeras de TV, nem repórteres disfarçados de agentes, nem a humilhação pública de pessoas que, por enquanto, são apenas suspeitas; conforme a lei dos países civilizados, mantêm-se inocentes até prova em contrário. Mas que pena! Não houve repórteres para nos contar que mudou, o que mudou, por que mudou e como mudou.

2 – No dia 21, o Brasil joga com o Uruguai, em São Paulo. No dia 9, os 56 mil ingressos à venda se esgotaram em duas horas. Talvez o insopitável impulso de ver um jogo que ainda ninguém comenta e que por enquanto merece reduzido espaço nos meios de comunicação tenha feito com que nosso povo modificasse a tradicional mania de deixar tudo para a última hora e se precipitasse, à média de quase 500 pessoas por minuto, à compra antecipada de ingressos. Ou, quem sabe, pode ser que os ingressos tenham caído nas mãos de cambistas, que os revenderão, mais perto do jogo, a preços bem menos convidativos. Mas que pena! Não havia repórteres nas filas de ingresso, para ver quem compra, e quanto.

3 – Ricardo Teixeira, presidente da CBF, é um homem rico? Se não é, que outras atividades exerce que lhe permitem receber alguma remuneração? Se é, de que se compõe e como foi formada sua fortuna? Que pena! Este colunista não encontrou nada a respeito da vida financeira deste personagem, que comandará a Copa do Mundo de 2014, com investimentos de alguns bilhões de dólares.



Debaixo do sal

A descoberta do campo de Tupi, na Bacia de Santos, é uma das melhores notícias recebidas nos últimos tempos pelo Brasil. Mas não é uma notícia nova: há dois anos, a Gazeta Mercantil já descrevia o novo campo – sem números, mas prevendo que seria grande. Há quem diga que o presidente Lula optou por uma nova divulgação da notícia velha para contrabalançar as informações sobre problemas no abastecimento de gás. Mas, se isto tivesse ocorrido, o mercado não reagiria com tanta euforia, jogando dinheiro nas bolsas, aqui e no Exterior. Quem trabalha com dinheiro é, por definição, muito cauteloso.

Talvez a novidade, agora, seja a posse da tecnologia para buscar petróleo a tamanha profundidade – uma tecnologia que, quando se achou o campo, há alguns anos, não era ainda disponível. Pode ser também que a tecnologia já existisse, mas a tal custo que não compensaria explorar o novo campo. Hoje, com o petróleo no preço mais alto da história, já valeria a pena explorá-lo.

Que pena! O debate se partidarizou. Quem é contra o presidente Lula acha que é tudo uma farsa, quem é a seu favor festeja o petróleo farto. E os repórteres, que poderiam nos contar algo mais sobre o tema, quando trarão suas conclusões?



Pitada de sal

A imprensa noticiou amplamente que o presidente Lula, durante o Vôo da Alegria à Suíça, contou a várias autoridades que a Petrobras tinha descoberto um imenso campo de petróleo na Bacia de Santos. Mas – o que foi notado apenas por poucos colunistas – isso seria um crime: há regras rígidas e específicas para divulgar notícias que possam influenciar a cotação de empresas cotadas em Bolsa. Não é questão, apenas, de investigar burocraticamente a movimentação de compras e vendas de ações da Petrobras: é o caso de a CVM investigar especificamente os integrantes da nutrida comitiva que esteve na Suíça com o presidente, para evitar fofocas e comprovar que nenhum deles andou usando inside information para negociar Petrobras.



Óbvio em destaque

O secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, disse que o Brasil, se quiser mesmo um lugar permanente no Conselho de Segurança, precisa aumentar sua base de apoio. É óbvio: se o senador Renan Calheiros quiser ser presidente da República, precisa aumentar sua base de apoio. Se o Íbis quiser ter a maior torcida de futebol do país, precisa aumentar sua base de apoio. Óbvio – mas mereceu chamada de primeira página, e assinada. E nós, jornalistas, ainda criticamos os técnicos que dizem que para ganhar é preciso fazer mais gols que o adversário.



Inpório

A história é engraçada: uma quadrilha disfarçou um carro para entrar num condomínio de luxo e assaltá-lo. Mas fracassou porque, no adesivo com o nome de um tradicional empório paulistano, escreveram ‘impório’.

1 – A Polícia muito se vangloriou, e os meios de comunicação fizeram a gentileza de publicar o caso, com todos os detalhes. Agora os bandidos sabem que, se quiserem ter êxito em futuros assaltos, precisarão tomar cuidado com este tipo de detalhe.

2 – A imprensa ridicularizou a falha dos bandidos, mas chamou-a de ‘erro de ortografia’. Pois é: se é erro, não é ‘ortografia’, que significa ‘grafia correta’. Foi, isso sim, um erro de grafia. Coisa pequena – mas não pode acontecer com quem critica os outros exatamente por esse motivo.



Pagando o passe

A propósito, um grande jornal disse que os torcedores do Corinthians queriam ‘saldar’ o goleiro Felipe.



A grafia oficial

Esta é da Secom, a Secretaria de Comunicação do Governo Federal:

Brasil investi R$ 122 bilhões em petróleo e gás até 2012



Bi, tri, penta

Na discussão entre Flamengo e São Paulo para ver quem é pentacampeão brasileiro, ninguém tem razão: nenhum dos dois ganhou o título cinco vezes seguidas. Pode-se discutir qual dos dois foi o primeiro a ganhar o título por cinco vezes, o que lhe daria a posse definitiva de uma taça; mas pentacampeão nenhum dos dois é  (nem o Brasil, a propósito: o Brasil é bicampeão do mundo, com os títulos de 58 e 62, e no total foi cinco vezes campeão).

Apenas para efeito de demonstração: se ganhar cinco vezes, sem seqüência, atribuísse a um time o rótulo de pentacampeão, como se rotularia o Glorioso e Insuperável Corinthians, clube preferido deste colunista, dezenas de vezes Campeão Paulista? Além, é claro, de Campeão Mundial Interclubes da FIFA.



Destaque merecido

Todo mundo é contra o racismo, exceto na hora de agir. A repórter Maria Cristina Fernandes, do Valor, agiu: escreveu magnífica reportagem sobre a formatura da primeira turma da UniPalmares, a Universidade da Consciência Negra Zumbi dos Palmares, iniciativa da comunidade negra para garantir a formação superior de pessoas que, discriminadas, muitas vezes não conseguem espaço para se desenvolver academicamente. Detalhe: a jovem Unipalmares tem, em seus quadros, mais mestres e doutores do que o número exigido pelo Ministério da Educação.



Cristal voador

Está na grande imprensa: entre incidentes (menos graves) e acidentes, houve 75 ocorrências com aviões no Brasil, em 2007. Agora a grande pérola: A expectativa oficial da Aeronáutica é de mais dez acidentes no ano.

Ah, as estatísticas! Se, em cada grupo de cinco pessoas, uma é chinesa, seu quinto filho será obrigado a nascer de olhinhos puxados?



E eu com isso

Conrad Hilton, marido da belíssima estrela de cinema Zsa Zsa Gabor, criou a rede de hotéis Hilton. Mais do que isso, criou o conceito de hotel com padrões conhecidos, em que o tipo de acomodações e de serviço é o mesmo onde quer que o hotel se localize. Hilton é o pai de todas as grandes redes, como Sheraton, Marriot, Meliá, Sofitel; e bisavô de Paris Hilton.

E por que se notabiliza Paris Hilton?

Segundo a imprensa de fofocas, sua foto alivia a dor de ratos de laboratório.

Este colunista, que não passa sem notícias de Paris Hilton (até porque aparecem em tudo quanto é lugar) tem uma tese sobre o tema: os camundongos sabem que, se continuarem demonstrando sintomas de dor, correm o risco de ser submetidos a outras fotos de Paris Hilton.

E há mais noticias sem as quais não podemos passar

1 – Jennifer Lopez continua sem revelar suposta gravidez

2 – Namorada termina com o príncipe Harry

3 – Juliana Paes em balada eletrônica



O grande título

Semana muito rica, esta. Há títulos excelentes:

1 – Grupo Café realiza chá beneficente

2 – Menina com quatro pernas estranha a falta de membros

Há um título tranca-línguas muito interessante:

Deputado fala com Lula e diz que já não apóia re-reeleição

Mas o melhor, até por seu aspecto enigmático, é este:

Britânico é condenado por assédio com cenoura

Consta, nas lendas da categoria, a história de um jornalista famoso que certa vez precisou de auxílio para livrar-se de um incômodo pepino. Deve ser lenda, apenas. Mas resta uma pergunta: o uso de legumes e raízes configura assédio?

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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados