Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

Lula atribui violência
à programação da TV


Leia abaixo a seleção de domingo para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Domingo, 9 de março de 2008


MÍDIA & VIOLÊNCIA


Sergio Torres


Lula elogia polícia e culpa TV por violência


‘A programação das emissoras de televisão contribui para que o Brasil seja um país violento, disse ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em discurso na sede administrativa do governo do Estado do Rio, o Palácio Guanabara.


De acordo com o presidente, o ‘seio da família brasileira’ passa por ‘um processo de degradação da estrutura social’. Entre os motivos, citou ‘programas de televisão que não trazem nada que seja instrutivo para as pessoas’.


‘Se nós analisarmos o que aconteceu no Brasil nos últimos 30 anos, vamos chegar ao diagnóstico correto do por que temos tanta violência no Brasil. Digo sempre que, muito mais grave que a situação econômica, e possivelmente decorrente da situação econômica, é um processo de degradação da estrutura social a partir do seio da família brasileira’, afirmou ele.


‘Se as pessoas moram apinhadas em três metros quadrados onde comem, defecam e dormem; se as pessoas repartem os metros quadrados de sua área individual com baratas, com ratos; se as pessoas não têm rua sequer para passear, não têm área de lazer, não têm escola, não têm nem onde praticar um esporte; eu me pergunto: o que fez o Estado brasileiro nesses últimos 30 anos?’


O presidente falava para uma platéia de policiais civis e militares e políticos, como o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), e os ministros Tarso Genro (Justiça) e Márcio Fortes (Cidades). Ele disse que hoje a juventude está ‘desesperançada’, responsabilizou os governantes nas três últimas décadas e se eximiu de culpa.


‘Quando a gente vê imagens das pessoas presas, o que a gente percebe? A grande maioria são jovens entre 17 e 24 anos. A carreira de bandido está mais ou menos como jogador de futebol, ou seja, aos 33 anos já tem que sair porque não tem fôlego para agüentar a marimba. (…) Nunca perguntamos quem são os responsáveis por essa juventude estar tão desesperançada. Quem é que cuidou da economia desse país, quem gerou esses milhões de desesperados morando em situações degradantes? Certamente que não fui eu e não foram vocês.’


Lula atacou ainda os políticos e exaltou os policiais. ‘Muitas vezes a miséria é utilizada como cabide para levar gente a ter mandato nesse país. E depois todos nós ficamos cobrando da polícia. Como se o policial fosse um ser mágico, um Homem Aranha, que tivesse um poder superior ao poder dos outros. No Brasil, com raríssimas exceções, os policiais são seres humanos, pobres, moram mal, ganham pouco e não têm a formação correta para exercer um atividade tão precisa.’


Aos policiais presentes, Lula falou que a corrupção não é uma característica só da categoria. Segundo ele, há corruptos ‘em todos os segmentos da sociedade’.


O presidente lançou o programa Bolsa Formação, do Pronasci (Programa Nacional de Segurança com Cidadania), cuja proposta é qualificar profissionais da área de segurança pública por meio de uma remuneração extra-salarial de cursos de especialização.


No final da manhã, Lula e o presidente português, Aníbal Cavaco Silva, receberam medalhas comemorativas dos 170 anos da instituição. Cavaco Silva concedeu a Lula um diploma de gratidão. Em discurso, Lula citou o padre Antonio Vieira (nascido em Lisboa em 1608 e que morreu na Bahia em 1697) ‘como o mais brasileiro dos portugueses, e o mais português dos brasileiros’.


Colaborou LUIZ FERNANDO VIANNA , da Sucursal do Rio’


MÍDIA & POLÍTICA


José Alberto Bombig


Eleição à prefeitura paulista não deve ter duelo de ‘marqueteiros famosos’


‘Dois dos principais marqueteiros do Brasil -Luiz Gonzalez e Duda Mendonça- deverão, por razões distintas, ficar fora da mais importante eleição deste ano, a disputa pela Prefeitura de São Paulo. As ausências, se confirmadas, atrairão holofotes para nomes pouco conhecidos do eleitor.


Em 2004, Gonzalez, à frente do marketing do hoje governador José Serra (PSDB), e Duda, com a então prefeita, Marta Suplicy (PT), travaram um duelo à parte no segundo turno da eleição na capital paulista. O primeiro levou a melhor.


Segundo os coordenadores informais das campanhas dos pré-candidatos com mais chances até agora, ambos não têm demonstrado interesse na disputa paulistana.


Gonzalez, que tem a conta de publicidade da Prefeitura de São Paulo, mas é historicamente ligado ao tucano Geraldo Alckmin, já teria informado o PSDB e o DEM, do prefeito Gilberto Kassab, que não comandará nenhuma campanha caso os dois sejam candidatos, quadro mais provável atualmente.


Além disso, ele tenta receber do PSDB dívidas relativas à campanha presidencial de 2006, o que torna ainda mais remota a possibilidade de o marqueteiro e o ex-governador trabalharem juntos.


Duda, um dos pivôs do escândalo do mensalão em 2005 (transferência de recursos a parlamentares), quer se manter afastado dos holofotes enquanto se defende na Justiça.


Com isso, os quatro principais pré-candidatos -Marta, Alckmin, Kassab e Paulo Maluf (PP)- ainda não definiram quem comandará o marketing de suas prováveis campanhas.


A petista, segundo a Folha apurou, está próxima de um acerto com João Santana, uma das principais peças da vitória do presidente Lula no ano passado, justamente contra Geraldo Alckmin e Gonzalez. Se isso acontecer, ele deverá ser a única ‘estrela’ da campanha.


O PT paulistano nega o acerto, mas não descarta a possibilidade de ter Santana. ‘É muito cedo. Não sabemos nem se a Marta será candidata. O mais importante no quesito marketing é que neste ano o conteúdo deverá se sobrepor à forma. Nesse sentido, acho que teremos uma renovação’, afirmou José Américo Dias, presidente do partido na capital paulista.


Outro nome cotado entre os petistas é o de Augusto Fonseca, que já trabalhou com Marta e com Duda Mendonça. Agnello Pacheco corre por fora.


DEM-PSDB


Gonzalez esteve com Alckmin nas últimas seis campanhas que o tucano disputou. Ambos só foram derrotados duas vezes, em 2000 e 2006.


Com a possibilidade de reeditar a parceria cada vez mais distante, o ex-governador estuda contratar Rui Rodrigues, da MPM Propaganda, ou Oswaldo Martins, historicamente identificado com o governador Mario Covas (1930-2001) e que mantém um relação cordial com Gonzalez.


Uma das possibilidades aventadas pelo entorno de Alckmin era Paulo de Tarso Santos, mas o publicitário foi um dos vencedores da licitação que lhe deu o direito de continuar atendendo o governo federal petista.


Kassab está em negociação com José Maria Braga, responsável pela recente campanha de Guilherme Afif Domingos ao Senado, e outro que também já trabalhou com a empresa GW, de Gonzalez.


Maluf


O deputado federal e ex-governador Paulo Maluf, que teve Duda Mendonça como marqueteiro em 1992, quando venceu a prefeitura, chegou a procurar o publicitário, mas já descarta a possibilidade de contar com ele neste ano.


‘O certo é que teremos um marqueteiro de ponta’, disse Jesse Ribeiro, um dos coordenadores da pré-campanha. O nome mais cotado até agora é Marcelo Teixeira, que trabalhou com Maluf em 2004.’


INTERNET


Marco Aurélio Canônico


Personagem explica truques de vídeos da internet


‘A TV já apresentou Mr. M, que mostrava os truques dos mágicos, padre Quevedo, que desmascarava milagres, e os Mythbusters, que explicavam quase tudo que fosse científico.


Agora, é a vez da internet ter seu próprio ‘desmascarador’, um herói para impedir que você faça papel de bobo achando que aquele pingüim realmente jogou o outro na água com um tapa, como mostra um dos vídeos mais populares da rede.


O personagem atende pelo nome de Captain Disillusion (capitão desilusão) e seus programas, em que explica detalhadamente os truques de diversos vídeos populares da web, podem ser encontrados em canais no YouTube e no BlipTV (basta procurar por seu nome) ou espalhados on-line.


O criador e intérprete do personagem é Alan Melikdjanian, 27, um cineasta nascido na Letônia, que imigrou para os EUA com sua família aos 12 anos.


Como Captain Disillusion (ou CD, para os íntimos), ele aparece com metade do rosto (mais o pescoço) pintado de prata, com uma jaqueta amarela e luvas pretas.


‘O Captain Disillusion começou como um pequeno artigo sarcástico que eu coloquei no meu blog no MySpace’, afirmou o cineasta em entrevista à Folha, por e-mail.


‘Escrevi sobre o ‘Penguin Slap’ [o tapa do pingüim] e meus amigos gostaram do tom, então eu decidi adaptar aquilo para o formato de vídeo.’


Especialista e piadista


Trabalhando há oito anos com edição de vídeo e efeitos visuais, Melikdjanian está em seu terreno ao lidar com os vídeos fantásticos postados na internet (sobre fantasmas, discos voadores, aviões).


Ele utiliza as ‘armas dos inimigos’, por assim dizer -quase sempre algum truque de edição ou uso de efeitos criados em computador-, para mostrar detalhadamente como as partes ‘fantásticas’ são falsas.


Seus próprios vídeos são cheios de efeitos e de brincadeiras de edição (ele voa, por exemplo), mas o autor leva realmente a sério o que faz.


‘Estabeleci como objetivo ser bastante preciso e honesto. Uso minha experiência e minhas habilidades de observação para desconstruir cada vídeo, mas, se não sei a resposta, não invento’, disse Melikdjanian.


O tom debochado é outra das qualidades do personagem. Ele não apenas explica detalhadamente os truques (em inglês), mas o faz debochando dos autores dos vídeos e, não raro, do público que acreditou e deixou comentários deslumbrados.


Com patrocínio


Para fazer seus vídeos (já são nove disponíveis on-line), Melikdjanian criou uma operação de baixo custo, usando o material profissional que já tinha em casa. Com o sucesso do personagem, conseguiu patrocínio.


‘Quando comecei, não gastava quase nada, eu fazia todos os efeitos e a edição, com meu pai na câmera. Hoje, a produção se expandiu e já tenho uma pequena equipe, a série está sendo financiada por uma empresa privada, que está construindo um novo site de compartilhamento de vídeos.’’


TELEVISÃO


Daniel Castro


História de ‘Duas Caras’ é idêntica à de série americana


‘A história de Célia Mara, personagem de Renata Sorrah em ‘Duas Caras’, é parecidíssima com uma das tramas de ‘Brothers & Sisters’, seriado americano que está bombando no Universal Channel -já foi visto por 4,5 milhões de pessoas diferentes, segundo o canal.


Na série, Nora Walker (Sally Field) descobre que seu marido, que acabara de morrer, teve um caso durante mais de 20 anos com Holly Harper (Patricia Wettig). Na novela da Globo, Branca (Suzana Vieira) descobre no noticiário policial que seu marido morrera nos braços de Célia Mara, que fora amante dele durante duas décadas.


No seriado, Nora tem outra surpresa ao saber que o marido teve uma filha com a amante. Na novela, Branca fica sabendo em ato público que seu marido é o pai de Clarissa (Bárbara Borges), filha de Célia Mara. Em ambas, os maridos morrem sem saber que tiveram filhas com suas amantes. E as filhas não sabiam que suas mães foram amantes de seus pais.


Holly vira sócia de Tommy (Balthazar Getty), filho de Nora, e as duas vivem às turras. Branca e Célia Mara se estapeiam na Universidade Pessoa de Moraes, da qual são sócias.


Procurado por e-mail, Aguinaldo Silva, autor de ‘Duas Caras’, não comentou. A Globo informou que a trama de Célia Mara foi inspirada em um caso real ocorrido em 1996.


Para quem ainda não viu ‘Brothers & Sisters’, o Universal Channel reprisará a primeira temporada a partir do dia 23. A série estreou no Brasil em outubro de 2007, mesmo mês de ‘Duas Caras’. Está no ar nos EUA desde setembro de 2006.


ECOLINDA


Para se preparar para interpretar Carolina, protagonista da próxima novela da Record, ‘Chamas da Vida’, a atriz Juliana Silveira (foto), 27, acaba de comprar uma bicicleta. ‘Minha personagem é uma menina rica, independente, idealista, que tem opiniões fortes. É uma ecochata, e vai ao trabalho de bicicleta’, conta, agora exibindo um visual moderno. Silveira admite que só vai ao trabalho de carro. ‘Mas eu faço coleta seletiva, não deixo a torneira aberta quando escovo os dentes nem demoro no banho’, afirma. Na novela, ela pedalará uma magrela que imita uma Chanel -a Record não teve coragem de pagar quase 10 mil por uma autêntica.


FILOSOFIA POPULAR


Ex-apresentadora da MTV e do ‘Video Show’ (Globo), a atriz Chris Couto (foto), 47, voltará à função em abril, desta vez na Cultura. Ela assumirá o ‘Café Filosófico’, que entra em nova fase. Caberá a Couto ouvir as pessoas nas ruas sobre o que elas pensam sobre amor, sexo, drogas, educação, morte, trabalho, entre outros temas contemporâneos. ‘Estamos tentando aproximar mais a filosofia do dia-a-dia das pessoas. A idéia é traduzir conceitos para o público’, diz Couto, que continua atriz -nesta semana, entra em cartaz no teatro do Sesc Vila Mariana.


CASAL SEDUTOR


Recém-egressos de ‘Sete Pecados’, Gabriela Duarte e Juan Alba gravam nesta semana participação em ‘Dicas de Um Sedutor’. Ela será uma mulher inteligente e ele, um professor. Ela quer ser beijada por ele no cinema. Ele só quer comentar aspectos técnicos do filme.


DICAS SEDUTORAS


Uma das novidades da grade da Globo em abril, o seriado ‘Dicas de Um Sedutor’ responderá a dúvidas sentimentais de telespectadores. Ao fim de cada episódio, o protagonista Santiago (Luiz Fernando Guimarães) comentará um ou dois e-mails enviados pelo público.


TURISMO


A Globo grava desde a semana passada ‘Ciranda de Pedra’, próxima novela das seis. Amanhã, terça e quarta-feira, Cléo Pires, Bruno Gagliasso e Marcello Antony farão várias seqüências no centro de Santos (SP). Domingo que vem, Gagliasso gravará no parque da Luz.


VALE A PENA


Exibida em 2004, o remake de ‘Cabocla’ (original de 1979) voltará ao ar na Globo no início de abril. A novela de Benedito Ruy Barbosa, um clássico da faixa das 18h, foi escolhida na semana passada para substituir ‘Coração de Estudante’ na sessão ‘Vale a Pena Ver de Novo’.’


Cristina Fibe


Endinheirados se expõem em ‘Os Ricaços’, que estréia hoje


‘Frases como ‘o sucesso vicia’ e ‘quem diz que dinheiro não traz felicidade obviamente nunca teve dinheiro nenhum’ são algumas das pérolas que sairão de ‘Os Ricaços’, produção do Discovery Travel & Living que estréia hoje, às 21h.


O programa se propõe a mostrar, em oito episódios, a vida de 32 milionários/bilionários, selecionados entre as pessoas mais ricas do mundo. Iates, mansões, suítes presidenciais, ilhas, festas e jatos particulares estão aqui para demonstrar o poder dos nada discretos participantes.


Entre as personalidades que aceitaram expor suas contas bancárias (e o seu fluxo), a mais conhecida é o cantor espanhol Alejandro Sanz, 39, que dará as caras no quarto episódio, ao lado de um hoteleiro, um ‘designer de espetáculos de luxo’ e um ‘magnata’ dos celulares. Nenhum brasileiro entrou na lista da produção, que conta com apenas quatro mulheres dentre os 32 retratados.


O canadense Calvin Ayre, 47, ‘avaliado’ em US$ 2 bilhões (acumulados em seis anos, segundo ele), é um dos que impressionam pela falta de pudores ao posar para as câmeras.


O documentário acompanha a figura e seu casaco de couro fazendo compras, compras e mais compras -apesar de afirmar que a sua ‘motivação na vida hoje são as garotas’.


Em uma loja de relógios, mostra o seu Cartier para pedir ao vendedor algo ‘mais especial’. Alguns momentos para resolver a dúvida entre duas peças -masculinas- cravadas de diamantes, decide levar um Chopard de US$ 40 mil.


‘Eu de fato tenho que pensar no que visto. Não posso colocar uma roupa que já usei antes.’ Ah, tá.


OS RICAÇOS


Quando: estréia hoje, às 21h; reprise às quintas, às 20h


Onde: no Discovery Travel & Living’


Cássio Starling Carlos


Telas pensantes


‘Ninguém hoje põe muito em questão que os seriados de TV, em particular os norte-americanos, alcançaram um patamar de qualidade superior. Pelo menos desde a série ‘Twin Peaks’, sua dramaturgia se sofisticou e suas temáticas se tornaram ousadas.


Explicitamente apaixonado por essas formas narrativas, o professor de filosofia norte-americano Mark Rowlands se debruça sobre algumas delas no ensaio ‘Tudo O Que Sei Aprendi com a TV – A Filosofia nos Seriados de TV’ (Ediouro, trad. Elvira Serapicos, 224 págs., R$ 34,90).


Tal estratégia de aproximação entre o erudito e o pop não é novidade. Outros títulos disponíveis em português, como ‘Os Sopranos e a Filosofia’ e ‘Os Simpsons e a Filosofia’, já se arriscaram nesse terreno minado com resultados para lá de insatisfatórios.


O trabalho de Rowlands, professor da Universidade de Miami, propõe um pouco mais de rigor analítico e se cerca de alguns cuidados conceituais, mas o problema de sua abordagem decorre da própria definição de filosofia.


O que é filosofia? A questão guarda tantas respostas quanto o número de filósofos e de obras por eles escritas que passaram pela face da Terra.


Em todas elas, porém, sobressai um esforço nítido de distinguir a reflexão filosófica da mera reflexão.


A saber, desde os primórdios e até hoje, a indagação acerca das causas primeiras, a ontologia, o questionamento dos fundamentos da ética e da moral e das condições de possibilidade dos saberes em sua construção da verdade sempre adotaram, como ponto de partida, o que se chama ‘senso comum’, mas para ultrapassá-lo.


A essa sabedoria pragmática, útil no dia-a-dia, a filosofia contrapôs uma sabedoria especulativa, mais preocupada com o ser das coisas e das ações, com o que poderia e com o que deveria ser.


Sem certezas


Em sua tentativa de virar as costas às dificuldades especulativas na busca de um reconhecimento popular, as obras que se supõem divulgadoras da filosofia acabam se distanciando da indagação filosófica ao se aproximarem do terreno fácil e óbvio da auto-ajuda.


Ao contrário do que esta visa, o que distingue a filosofia é sua incapacidade de se ater a fórmulas, a certezas de uso imediato. E seu perigo, pelo menos desde Sócrates, é instaurar a dúvida como seu próprio motor, assumir o risco de pensar contra o estabelecido, ‘intempestivamente’, como define a fórmula insubstituível de Nietzsche.


Para Rowlands, ao contrário, ‘ser filósofo é fácil, e não temos muita escolha, de qualquer forma. Se você vive a vida e já pensou nela alguma vez, você é um filósofo’.


Ora, tal definição, ampla demais, é como uma rede de pesca de buracos tão grandes que até os peixões escapam dela.


É isso que leva o exame que o autor empreende das oito séries que escolhe a se converter em mero catálogo de temas e fórmulas prontas.


A sofisticação dessas produções, de fato, decorre em parte da habilidade dos roteiristas em incorporar, tornando contemporânea, toda uma tradição de temas, psicologias e habilidades narrativas num repertório acumulado há séculos em nossa cultura sob a forma das artes da representação.


Mas daí a afirmar que as séries produzem filosofia e ensinam filosofia equivale a crer que basta seguir as regras dos manuais de auto-ajuda para alcançar a felicidade.


Há quem acredite e caia recorrentemente nessa armadilha mercantil. Para esses, funcionará como promessa a frase cara-de-pau com que Rowlands encerra a obra: ‘Obrigado por comprar este livro. Se eu pudesse retribuir com um desejo, seria o de que você encontrasse em sua vida algo tão importante que sem isso você não seria a mesma pessoa. Se tiver sorte, já encontrou’.’


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O Estado de S. Paulo


Domingo, 9 de março de 2008


ELEIÇÕES / EUA


Patrícia Campos Mello


Chega ao fim lua-de-mel entre mídia e Obama


‘A lua-de-mel da imprensa com Barack Obama acabou. O senador começou a ser examinado mais de perto pelos veículos de comunicação depois que sua rival Hillary Clinton reclamou seguidamente que ele não estava sendo criticado. Daqui para frente, o escrutínio sobre Obama só deve aumentar, acreditam especialistas.


‘Faltam sete semanas para a próxima primária importante, a da Pensilvânia, em 22 de abril. Os jornalistas vão ter de cavar notícias – e terão muito tempo para investigar a vida de Obama’, diz Mark Jurkowitz, diretor do projeto para excelência em jornalismo do Pew Research Center.


Nos dias que antecederam as primárias em Ohio e no Texas, a cobertura da mídia sobre Obama tornou-se mais agressiva. Jornais começaram a abordar as ligações de Obama com seu doador de campanha Tony Rezko, acusado de extorsão.


O caso Nafta – Austan Goolsbee, assessor econômico de Obama, teria garantido a diplomatas canadenses que a retórica de Obama contra o acordo seria apenas manobra política – também rendeu algumas matérias.


Até seu relacionamento com Louis Farrakhan, ativista negro famoso por posições anti-semitas, foi destacado. Tudo isso veio depois de seguidas reclamações de Hillary sobre falta de equilíbrio na cobertura. Não se sabe se a carapuça serviu, mas o fato é que a imprensa tem batido mais forte em Obama.


Para Jurkowitz, o senador realmente estava recebendo uma cobertura mais positiva. ‘Isso não quer dizer que haja um viés pró-Obama ou que Hillary tenha sido injustiçada’, diz. ‘Na realidade, a campanha de Obama gerou mais fatos positivos. Ele era o outsider que, de repente, cresceu nas pesquisas, ganhou em Iowa e estava vencendo várias prévias.’


Jurkowitz diz que tudo é uma questão de ciclos de cobertura. O republicano John McCain é notoriamente popular entre jornalistas por ser bastante acessível e bem-humorado. ‘Mesmo McCain recebeu uma enxurrada de matérias negativas no meio do ano passado, quando sua campanha quase naufragou’, lembra.


Os Clintons têm uma relação historicamente tempestuosa com a imprensa. Jornalistas preferem a campanha de Obama porque os assessores são mais informais e menos defensivos.


A partir de agora, porém, haverá uma batalha por duas linhas de análise: a reviravolta de Hillary rumo à vitória ou como Hillary está estragando as chances do Partido Democrata vencer a eleição geral. A campanha de Obama diz que ele continua com grande vantagem em número de delegados, enquanto a de Hillary diz que só ela consegue vencer nos grandes Estados.


Enquanto isso, a guerra suja deve continuar. Os rumores – falsos – de que Obama é muçulmano voltaram à tona. Até Hillary alimentou o boato, em declaração muito criticada. Questionada no programa 60 Minutes se Obama era muçulmano, Hillary se limitou a dizer: ‘Não que eu saiba.’’


ELEIÇÕES / FRANÇA


Reali Júnior


Sarkozy, entre o desastre e a derrota


‘Dez meses após a nítida vitória de Nicolas Sarkozy, a direita francesa encontra-se numa situação delicada. No dia das eleições municipais, ela é levada a optar entre a derrota ou o desastre, segundo revelam de forma quase unânime os institutos de pesquisas de opinião.


Trata-se de uma derrota prevista, porém de conseqüências ainda desconhecidas, por ser uma eleição municipal com aspectos nacionais. A relação de forças atual favorece os socialistas, com 44% das intenções de votos, enquanto os conservadores têm 41%.


O próprio Sarkozy, para reduzir os efeitos de uma derrota, decidiu antecipar algumas das decisões previamente anunciadas, como desmentir que prepara um rigoroso plano econômico. Ele afirma também que acelerará seu programa de reformas para o país e promete levá-lo até o fim, seja qual for o resultado da votação municipal.


Esse é o primeiro teste eleitoral de Sarkozy, cuja popularidade está fortemente abalada não apenas por ele não ter cumprido suas principais promessas eleitorais, mas também por seu comportamento político e privado – com um casamento com a cantora Carla Bruni apenas três meses após divorciar-se de Cécilia. Esses episódios prejudicaram a imagem de Sarkozy e contribuíram para a inversão de posição em relação a seu premiê, François Fillon, que tem 55% de popularidade, enquanto o presidente não ultrapassa os 38%.


Se o resultado eleitoral se limitar a uma simples derrota, evitando o desastre anunciado , será justamente por causa da popularidade de Fillon. Nos últimos dias de campanha, o premiê parece ter se convencido da necessidade de uma mudança de comportamento, assumindo a função presidencial e deixando de lado a postura de um simples ministro.


Tudo isso , somado a uma queda inesperada no índice de desemprego – 7,9 %, a melhor taxa desses últimos 25 anos – pode evitar o desastre eleitoral, mas não a derrota já admitida pela própria maioria sarkozista.


Antecipando um eventual resultado negativo, Sarkozy deixou escapar uma frase preocupante na semana passada: ‘Afinal, não sou candidato às eleições municipais’, o que chocou os candidatos de seu partido e seu próprio eleitorado.


Já Fillon, responsável direto pela campanha , tem denunciado o Partido Socialista (PS) pelo clima político de quase ‘guerra civil’ que tomou conta conta da França – uma interpretação nitidamente exagerada. Isso porque a disputa ocorre como se a única dúvida fosse o tamanho dessa derrota, que na verdade pode ser limitada.


CONTROLE


A vitória do PS acontecerá tanto em Paris como nos principais centros urbanos do país. A maioria conservadora francesa encontra-se em dificuldade para manter o controle dos grandes centros urbanos e até mesmo de cidades com população acima de 20 mil habitantes. Para a direita, a reconquista da capital, governada durante mais de 10 anos por Jacques Chirac, parece impossível.


O atual prefeito, o socialista Bertrand Delanoé, deverá ser reeleito por uma margem ainda maior do que sua vitória anterior. Enquanto ele lidera as pesquisas com mais de 40% das intenções de voto, sua adversária do partido União por um Movimento Popular (UMP), Françoise de Panaffieu, tem apenas 32%.


A vitória de Delanoé pode funcionar como um trampolim político que lhe abriria as portas para futuras disputas nacionais entre os socialistas.


Tão logo encerrada essa disputa, Delanoé – que se declarou gay antes de ser eleito prefeito e é responsável por vários projetos vitoriosos, como a introdução da bicicleta como meio de transporte e a criação da praia artificial às margens do Sena – entra em uma nova disputa pelo controle da direção do PS, enfrentando a ex- candidata à presidência Ségolène Royal.


PRIORIDADE


Nas eleições de hoje, no entanto, prevalecem os aspectos locais e não nacionais, mesmo que muitos considerem a votação um teste nacional para Sarkozy. Uma pesquisa recente revelou que a prioridade para 66% dos eleitores são as questões locais.


Outro resultado a ser seguido de perto é o dos centristas do Movimento Democrático (Movem), liderado por François Bayrou. Sempre muito próximo da direita francesa, o partido poderá agora estabelecer alianças com candidatos da esquerda moderada em cidades do interior, complicando ainda mais a situação do UMP de Sarkozy.


Bayrou joga todas as suas fichas nessa eleição. Ou obtém um bom resultado e será o candidato centrista em 2012 ou joga a toalha por falta de adesão a seu nome. Agora, a preocupação da direita francesa se concentra em certos municípios que ela governa, mas que estão fortemente ameaçados, como Estrasburgo, Toulouse e Marselha.


Além de Paris, a esquerda terá também uma vitória tranqüila em Lyon, mas deve perder em Bordeaux para o ex-premiê Alain Juppé, que tem procurado se desassociar do ônus que Sarkozy representa neste momento.


Em 2001, os conservadores venceram em 40 cidades com população acima de 20 mil habitantes, mas, desta vez, a esquerda pretende recuperar pelo menos 30. A interpretação dos resultados, entretanto, não será fácil diante da mistura de candidaturas dos partidos de diversas tendências no interior.


Esse é o caso dos centristas do Modem, que têm 7% das intenções de voto. Já a Frente Nacional (FN), de Jean-Marie Le Pen, não deverá ter uma grande votação. A decepção dos franceses em relação a Sarkozy, porém, pode beneficiar a FN. A Liga Comunista Revolucionária (LCR) também deve perder terreno, já que tem apenas 3% das intenções de voto.’


PUBLICIDADE & MÍDIA


Ana Paula Lacerda e Renato Cruz


Comportamento da geração digital desafia empresas


‘Os jovens vivem em rede. A facilidade que eles têm de utilizar a tecnologia modifica seus hábitos de consumo. Quando vão às compras, são mais fiéis à indicação dos amigos do que a marcas ou redes de varejo. Pesquisa feita nos Estados Unidos mostrou que eles chegam a usar o celular para consultar os amigos até no momento da compra. Apesar da proximidade desses consumidores com a tecnologia, as empresas precisam tomar cuidado: jovens com perfis diferentes se relacionam de forma diversa com o mundo digital.


O estudante de fisioterapia Fernando Nascimento compra, quase que mensalmente, pela internet, miniaturas de plástico para montar. Não raro, compra também eletrônicos, DVDs ou livros em sites estrangeiros. ‘Em muitos casos, é mais barato importar do que comprar em lojas físicas aqui no Brasil, mesmo com todos os impostos absurdos.’


Mas Nascimento não compra nenhum tipo de comida pela internet. ‘Para a comida, sou meio conservador, não confio muito, não.’ Aliás, confiança é o requisito básico para fazer compras pela internet. ‘Um site bonitinho ajuda, um preço razoável e promoções, também. Mas se não rolar confiança na loja, desencana.’ O site preferido do estudante para comprar as miniaturas, por exemplo, faz a negociação por e-mail. ‘É muito tosco, mas sempre funcionou.’ O site foi indicado por amigos.


Existem alguns mitos sobre a relação dos jovens com a tecnologia. ‘As empresas tratam os jovens como se fossem um enigma’, afirmou Raquel Siqueira, diretora da Ipsos Gestão do Conhecimento. ‘Na verdade, os anseios, desejos e valores são muito parecidos com os de outras gerações. O invólucro é diferente, mas a essência é muito parecida.’


A internet comercial chegou ao Brasil em 1995. Para quem tem 13 anos, a rede mundial sempre existiu. Para o estudo Jovens na Era Go Global – Interatividade e Interconectividade, a Ipsos ouviu jovens de 13 a 24 anos em nove áreas metropolitanas do País.


Uma das visões que não se confirmaram é que o jovem entende de tudo sobre tecnologia. ‘Uma mãe chamava a filha quando o computador dava pau, mas a menina não sabia resolver’, exemplificou Raquel. ‘Não é por ter 15 ou 16 anos que ela saberia mexer no sistema operacional.’


Cada grupo se relaciona de um jeito diferente com os eletrônicos e a internet. ‘Alguns jovens são mais centrados, sabem até programar. Outros usam a tecnologia para continuar, com os amigos, a fofoca que começou na escola. Não adianta uma marca que quer atingir o jovem que gosta de balada fazer uma campanha no Second Life. Esse jovem vai para a balada, não para o Second Life.’


Rogério de Paula, gerente de Pesquisas Etnográficas da Intel, também destacou essa tendência. ‘Um blogueiro prefere um laptop porque quer estar conectado em qualquer lugar’, exemplificou. ‘O gamer (que gosta de jogos) está interessado em máquinas mais rápidas, com o melhor processador que houver. Uma criança, hoje, está mais próxima de um especialista e não deve ser tratada como iniciante.’


A nova geração é multitarefa. ‘Os jovens consomem vários tipos de mídia ao mesmo tempo, o que é um desafio para as agências’, disse Raquel. ‘O consumidor mais novo é supercrítico e, se a marca faz marketing viral errado, ele a detona.’’


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Opção de compra tem influência da rede social


‘Pesquisa feita pela IBM nos Estados Unidos mostrou que dois terços dos adolescentes, quando compram, enviam mensagens para os amigos. ‘A compra é muito influenciada pela rede social’, disse Alejandro Padron, consultor de Varejo da IBM. ‘As meninas chegam a tirar fotos do produto e mandar para as amigas, para saber o que elas acham. Esse consumidor pode conversar com um vendedor em uma loja e fechar a compra em outra, pela internet.’


No Brasil, ainda são poucos os jovens que fazem compras pela internet. Na faixa de 13 a 17 anos, nas classes A/B, somente 9% já haviam comprado alguma coisa pela internet, segundo levantamento da Ipsos Gestão de Conhecimento. ‘É uma idade complicada, porque eles querem, mas não têm dinheiro. Eles desejam o iPod, mas têm um tocador genérico. Mas isso indica que o comércio eletrônico vai estourar num futuro próximo’, afirmou Raquel Siqueira, da empresa de pesquisas. Na faixa de 18 a 24 anos, o número de jovens que compram pela internet sobe para 21%, nas classes A/B.


O analista de suporte tecnológico Márcio Linhares Marconi, de 23 anos, faz compras pela internet desde os 17. ‘Tem uma vantagem: preço mais baixo’, explicou. Sem o custo-loja, muitas empresas – mesmo as que têm lojas reais – conseguem oferecer preços menores via web. ‘E pela internet é fácil pesquisar preços.’ Outra vantagem é o conforto de não ter de sair de casa para fazer compras. ‘Acho que só não compro comida e roupa. Já os produtos que são iguais em todas as lojas, compro desde materiais para trabalho a eletrodomésticos, como TV.’’


TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO


Ethevaldo Siqueira


Um exemplo de universalização do celular


‘Pela primeira vez no Brasil, um Estado de grande porte consegue universalizar o celular, levando a telefonia móvel a todos os seus municípios. Numa parceria entre três operadoras – Telemig Celular (hoje adquirida pela Vivo), Claro e Oi – e o governo estadual, Minas Gerais completa ainda neste trimestre a cobertura de seus 853 municípios, 412 dos quais não dispunham praticamente de nenhum sinal de telefonia móvel até o final de 2007.


O projeto, denominado Minas Comunica, com investimentos totais de R$ 282 milhões, é um bom exemplo de parceria público-privada em âmbito estadual, pois permitirá antecipar em alguns anos a cobertura de todos os municípios mineiros pelo sinal celular.


A determinação do valor do investimento decorreu de uma licitação reversa, ou seja, de uma concorrência em que foram selecionadas as operadoras que se dispunham a implantar a telefonia celular no maior número de cidades pelo menor custo. O governo de Minas adquiriu, então, debêntures dessas operadoras no valor do investimento necessitado para cada uma delas atender às cidades de seu lote. Essas debêntures serão resgatadas num prazo de 14 anos. Os recursos aplicados pelo Estado no projeto, por sua vez, são financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).


Para o governador Aécio Neves, o projeto Minas Comunica ‘é uma experiência nova e um marco nas parcerias público-privadas na área das comunicações’. E explica que, ‘diante do pouco interesse das operadoras do País em investir nas menores cidades e regiões mais pobres – como o Vale do Jequitinhonha, por exemplo – em virtude do baixo retorno do investimento, o governo do Estado de Minas se dispôs a participar com R$ 282 milhões da implantação do sinal de telefonia em 412 municípios mineiros que ainda não contavam com a telefonia celular’. O grande retorno das telecomunicações, em sua avaliação, vem, inexoravelmente, do desenvolvimento econômico dessas regiões e, sobretudo, dos avanços sociais proporcionados pela nova infra-estrutura.


‘A telefonia celular, que no passado parecia ser um privilégio de poucos – relembra o governador – se tornou recurso essencial tanto para o desenvolvimento da economia local, como para a saúde, para a segurança pública e bem-estar e para o desenvolvimento de uma comunidade.’


O projeto de universalização do celular no Estado começou na gestão do ex-secretário do Desenvolvimento Econômico de Minas Wilson Brumer. Seu sucessor, Márcio de Araújo Lacerda, que está concluindo o projeto, recorda que, até aqui, apenas São Paulo, Rio de Janeiro e o Distrito Federal haviam conseguido cobrir todos os seus municípios com a telefonia celular sem apoio governamental. ‘Mas isso só foi possível porque são unidades da Federação com maior renda per capita e muito menor extensão territorial do que Minas Gerais.’


A velha Telebrás considerava a simples instalação de um orelhão ou de um posto de serviço, como suficiente para a inclusão de um município entre os servidos pela telefonia fixa. Com base nesse critério, a telefonia fixa chegou a todos os municípios brasileiros, em 1982. Naquele ano, no entanto, o País tinha apenas 9 milhões de linhas e uma densidade de apenas 8 linhas por 100 habitantes.


Hoje, o Brasil conta com 40 milhões de linhas fixas e 123 milhões de celulares, o que perfaz um total de 163 milhões de acessos telefônicos e uma taxa de penetração de 89 telefones por 100 habitantes. Introduzida em 1990 no País, a telefonia celular cobre hoje 57% dos municípios, onde vivem 82% dos brasileiros. Sua densidade atual é de 64 celulares por 100 habitantes.


O BRASIL NO MUNDO


O mundo encerrou o ano de 2007 com 3,3 bilhões de celulares, número equivalente à metade da população do planeta ou a uma taxa de penetração de 50 por cento (50 celulares por 100 habitantes), segundo a União Internacional de Telecomunicações (UIT) e as consultorias Teleco, Wireless Intelligence e GSA/Informa Telecom.


Com uma base de mais de 121 milhões de celulares em serviço em dezembro de 2007, o Brasil ocupava o quinto lugar no mundo em número de telefones móveis, atrás da China (547 milhões), Estados Unidos (253 milhões), Índia (234 milhões) e Rússia (170 milhões).


No final de fevereiro, o País tinha 122,9 milhões de celulares em serviço e uma densidade de 64,5 telefones móveis por 100 habitantes, conforme dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). O percentual de telefones celulares pré-pagos é de 80%.


As 10 unidades da Federação com maior densidade de celulares em fevereiro de 2008 eram as seguintes:


1) Distrito Federal, com 119,15 celulares por 100 habitantes;


2) Rio de Janeiro (80,54)


3) Mato Grosso do Sul (78,69);


4) Rio Grande do Sul (76,79)


5) Goiás (71,96)


6) Santa Catarina (70,86)


7) São Paulo (70,50)


8) Minas Gerais (68,96)


9) Mato Grosso (68,28)


10) Espírito Santo (64,73)


Note, leitor: o Distrito Federal é primeira unidade da Federação a dispor de mais celulares em serviço do que gente: 119 por 100 habitantes.’


TELEVISÃO


Keila Jimenez


O peso de uma recusa


‘Juvenal Antena foi feito sob medida para Antonio Fagundes. Camila Pitanga nasceu para ser a desavergonhada Bebel, assim como Gabriela não poderia ter sua jambice em outra pessoa que não fosse Sônia Braga. Epa, epa, epa, como diz o líder da Portelinha.


Por mais que seja impossível imaginar outro ator dando vida a esses papéis, seus verdadeiros donos eram outros. Juvenal, de Duas Caras, foi oferecido primeiramente para José Mayer, a musa de ‘catiguria’ de Paraíso Tropical era para ter os olhos azuis de Mariana Ximenes e quem deveria ter subido no telhado para entrar para a história da teledramaturgia era Gal Costa. Sim, a personagem de Jorge Amado foi oferecida na TV antes à cantora. E eles disseram ‘não’.


Entre as desculpas para os ‘nãos’ dos atores estão o excesso de exposição, convites para teatro e cinema, fuga de personagens similares, férias ou simplesmente rusgas com elenco, diretores…


‘É complicado recusar um personagem como Juvenal, mas toda decisão artística tem grande coeficiente de intuição. Portanto nunca há segurança’, fala José Mayer, que abriu mão do rei da favela das 9 para fazer teatro. ‘Mas o Fagundes está fazendo um trabalho brilhante, talvez completamente diferente do que eu faria’, reverencia o ator, sem esconder a pontinha de arrependimento.


Mais difícil ainda foram os ‘nãos’ dados por Mariana Ximenes. Recusas, no plural, pois a bela dispensou três papéis de destaque, na seqüência: além de Bebel, a atriz passou adiante a protagonista e a antagonista de Duas Caras, Silvia e Maria Paula.


‘Se você toma decisões, faz renúncias.Não dá tempo de se arrepender’, justifica Mariana, que alegou excesso de exposição e necessidade de férias para os autores. ‘O Gilberto (Braga, autor de Paraíso) é a pessoa com quem mais quero trabalhar na vida. Mas pensei que se pegasse esse trabalho (Bebel), que era importante, talvez não conseguisse render tanto quanto poderia. Foi a pior decisão da minha vida’, admite a atriz, que aceitou agora voltar ao ar como a protagonista da próxima trama das 9, Juízo Final.


PERDÃO


Para os autores, a rejeição nem sempre é fácil de aceitar. Mas eles garantem que costumam perdoar.


Lauro César Muniz vai mais longe e conta que perdoou a mais dura das rejeições. ‘Quando assumi a novela O Bofe, José Wilker me pediu para afastá-lo porque julgou que a novela perderia na minha mão o tom fantástico’, diz. ‘Mas não guardo rancor, tanto que trabalhei com ele outras vezes.’


Já Alexandre Machado, autor de Os Normais, diz que, se o motivo para a recusa soar falso, as portas estarão fechadas para sempre. ‘Se é uma recusa cretina, nunca mais vou querer trabalhar com aquela pessoa na vida. Já um ‘não’ elegante tem seu valor.’’


***


Perderam a vez na TV…


‘José Mayer: O ator vacilou e recusou Juvenal Antena, de Duas Caras. Diz que o enfoque dado por Fagundes é outro.


Letícia Spiller: Rainha dos ‘nãos’, já recusou Jade, de O Clone, e Hilda Furacão, que caíram no colo de Giovanna Antonelli e Ana Paula Arósio.


Andréa Beltrão: A amalucada Vani (Os Normais), foi criada pensando nela, mas a atriz não pôde aceitar. Fernanda Torres sim.


Marília Pêra: A atriz iria viver a Nenê de A Grande Família. A negociação não deu certo e Marieta Severo ficou com o papel.


Sônia Braga: Não topou fazer Cabocla, que ficou para Glória Pires, mas abocanhou Gabriela, que seria de Gal Costa, a cantora.


No cinema…


Tom Selleck: O Magnum abriu mão de ninguém mais que Indiana Jones, que caiu nas graças do mundo com Harrison Ford.


Julia Roberts: A atriz recusou o papel principal do filme Instinto Selvagem, que revelou a famosa cruzada de pernas de Sharon Stone.


Gene Hackman- O ator deu um fora no canibal serial killer Hannibal Lecter, que ganhou vida, então, com Anthony Hopkins.


Laurence Olivier: Doente, o ator teve de dizer ‘não’ ao poderoso chefão Dom Corleone, imortalizado na telona por Marlon Brando.


Bette Davis: Dispensou Scarlet O’Hara de E O Vento Levou por achar que contracenaria com Errol Flyn. Sorte de Vivien Leigh.’


***


Ela queria ter sido a viúva


‘Se arrependimento matasse, Betty Faria não estaria mais por aqui. Colecionadora de personagens de sucesso, fez algumas recusas que lhe custaram muito. A atriz fala delas com sinceridade e ressentimento, coisa rara no meio.


De qual recusa mais se arrependeu até hoje?


Dizer ‘não’ é sempre muito difícil, já fiz isso algumas vezes e sofri. Mas algumas doeram mais. Fiquei morrendo de raiva por ter recusado a Viúva Porcina, de Roque Santeiro. Aquela desgraçada – no bom sentido ( a atriz ressalta ) – da Regina Duarte arrasou no papel que era para ser meu. Não pude aceitar na época por causa do meu lado emocional. Ele sempre me atrapalhou muito.


Como assim?


Recusei papéis por estar apaixonada na época, tentando salvar casamentos, indo atrás dos amores, ou por ter acabado uma relação e não poder mais ver a pessoa.


No caso, o diretor Daniel Filho, seu ex-marido?


É sim. Não pude fazer a Júlia Mattos de Dacing’ Days (que sobrou para Sônia Braga) porque ele seria o diretor e estávamos separados.


Você acha que faria uma Viúva Porcina diferente?


Com certeza. A minha Porcina teria uma leitura diferente, ela seria mais p…, mais safada. Iria explorar mais a relação dela com os homens…


E por que não pode aceitar?


Eu estava apaixonada pelo Dennis Hopper (ator americano) na época. Foi o namoro mais caro da minha vida (risos). Mas me arrependi, pois o romance acabou e não tive nada para fazer na TV na época. Mas tudo serve para a gente aprender e mudar.


Você mudou muito?


A vida me bateu e eu mudei. Deixei de lado um pouco o emocional. Preciso trabalhar, sustento muita gente e tenho muita lenha para queimar ainda (risos). Tem gente que acha que quando se fica velha tem que embarangar. Eu não, eu sou uma velha jeitosinha, não sou?’


Mário Vianna


Sem medo de ser malvado


‘Receita de novela, hoje em dia, tem de ter a mocinha determinada; o mocinho meio tonto, mas de bom coração; o vilão capaz das piores torpezas (com pequenas derrotas ao longo da trama); um núcleo pobre e, obviamente, cômico, porque de amarga, basta a vida – e o amigo gay. Presença anunciada com certo espalhafato há alguns anos, o amigo gay conquista espaço a cada trama. Antigamente restrito à copa das mansões, porque todo mordomo era afetado e especialista em filme antigo, o gay chegou aos outros cômodos da casa. Dramaturgicamente, o amigo gay é aparentado dos criados das comédias de Molière (1622-1673) e do bobo da corte de Shakespeare (1564-1616). Tem sempre resposta na ponta da língua, é sarcástico e atrai a simpatia do público. Em geral, os gays das novelas atuais seguem esse modelito, desde o DJ sem vida pessoal da novela da Band até o mordaz editor Benny, vivido por Guilherme Weber, em Queridos Amigos. Adequadíssimo ao figurino também está o amigo gay de Beleza Pura, o boa praça Betão (Rodrigo López), de quem parece não se esperar muito além de frases espirituosas e ações edificantes.


Talvez por conta da patrulha politicamente correta, o problema é exatamente esse. Gay precisa ser sempre bonzinho? Será possível que não tenha uma bicha má nos arredores? Salvo engano, antes do nasalado e viperino Jojô (Wilson de Santos) de Duas Caras, os últimos gays do mal foram Mário Liberato (Cecil Thiré) e seu escudeiro Jacinto (Cláudio Curi), em Roda de Fogo (1986). Na trama de Lauro César Muniz, a dupla – um advogado inescrupuloso e um ex-torturador da polícia – sequer podiam ser chamados de homossexuais, por ordem da censura. Hoje em dia, o termo biba-gay, no jargão gay – já circula até na novela das 7. Os outros gays do momento são bonzinhos. Danilo (Cláudio Heinrich) pouco acrescenta ao mutantódromo de Caminhos do Coração. Benny, o mordaz de Queridos Amigos, não é do mal, mas agressivo para esconder a própria fragilidade. Nem suas amigas travestis são barraqueiras. No fim, Bernardinho (Thiago Mendonça), de Duas Caras, sempre a bordo do leque, surpreende. Bonzinho, ele vive a relação mais sapeca e bissexual da TV – e ainda conta com o apoio do público. Ponto pra ele.’


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