Wednesday, 01 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Maré negativa, nenhuma objetividade

À força de se multiplicarem e repetirem, as acusações anti-Lula vão formando uma onda que se auto-alimenta. A partir de algumas justas como a compra de votos nas votações da Câmara, conseguindo difundir pela imprensa a idéia de ineditismo no procedimento condenável, a maré denunciante encorpa e espalha-se.

Todos os atos do presidente ganham implicância. Na semana passada, Barbara Gancia, em sua coluna na Folha, atacava os filhos de Marisa pelo desejo de obter um passaporte italiano. Ora, isso em que os meninos estariam empenhados é apenas o sonho de talvez a metade da população do planeta. A América Latina quase toda baba diante da fartura de empregos nos Estados Unidos, e a África arrisca-se em verdadeiras pirogas para cruzar o Mediterrâneo e tocar a costa espanhola e italiana.

Maior distorção da verdade conseguiu-a, parece-me, Carlos Heitor Cony em sua inserção de sábado 3/12/05 à pág. A2, também na Folha. Vê-se a que ponto chega, na pena de um grande escritor, o raciocínio que parte de uma premissa falsa. Tendo assistido pela TV ao discurso de Luciana Genro e Babá pouco antes da votação que cassaria Dirceu, Cony imagina o filete de água do que chama injusta expulsão da dupla dos quadros do PT, bem antes do rio caudaloso dos escândalos Delúbio.

Ora, Cony, saia do limbo de suas análises teóricas e indique uma solução alternativa para a direção do PT em 2003 que convivesse – no governo, não na oposição – com a postura da turma da deputada Heloisa Helena, que insistia (e ainda insiste) em ignorar a bomba atuarial e fatal da Previdência no Brasil.

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Dirigente de ONG, Bahia