Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Muro de silêncio

O escritor Deonísio da Silva, no Jornal do Brasil (30/11), fez uma pergunta que até hoje não recebeu resposta: por que todo o restante da imprensa brasileira se manteve em silêncio quando a Folha de S.Paulo revelou como o criminoso de guerra nazista Josef Mengele passou seus últimos 19 anos no Brasil?

E há material, gente. Há os arquivos da Polícia Federal (e há uma reportagem aí: por que este material não foi entregue a historiadores?). Há muita pauta na Folha: por exemplo, quem foram os protetores de Mengele no Brasil? Por que o protegeram, sabendo que estava ilegalmente no país e que havia contra ele uma ordem internacional de prisão? Haverá alguma empresa, entre as que o empregaram, que soubesse de quem se tratava? Quais as ligações dessas pessoas, ou empresas, com o nazismo, ou com a Organização Odessa, que protegia os criminosos de guerra?

Jornais estrangeiros – o Independent, o Clarín, o Miami Herald, o Bild – foram atrás da Folha. Por que nossa imprensa silenciou? Preguiça? Medo de prestigiar o concorrente? Falta de percepção da importância do tema?

A própria Folha poderia ter ido mais fundo no assunto. Poderia ter ouvido, por exemplo, seu antigo repórter Ewaldo Dantas Ferreira, que escreveu um livro sobre outro criminoso de guerra escondido na América Latina, Klaus Barbie. Poderia ter relacionado a época de permanência de Mengele no Brasil com o período de ditadura militar. Quem sabe não encontraria a resposta para a pergunta a respeito de quem o protegeu?



Um dia…

Na sexta-feira (3/12), o empresário Oscar Maroni, dono do Bahamas, caríssima casa noturna para homens, foi preso por exploração de lenocínio, venda de alimentos vencidos (alguns haviam perdido a validade há mais de um ano!) e porte ilegal de arma.



…depois do outro

Ninguém, em nossa imprensa, nem os jornais que às vésperas haviam dado a notícia, lembrou que dois dias antes da prisão, na quarta-feira (1/12), Maroni tinha comandado uma manifestação pela paz – uma manifestação até bonita, com centenas de cruzes, coisas desse tipo. Seria um belo contraponto à prisão por porte ilegal de arma. Ninguém lembrou, também, alguns fatos mais antigos: Maroni foi capa de uma revista de negócios, em setembro, na qualidade de empresário bem-sucedido (título: ‘Oscar Maroni, muito prazer’). E cansou de anunciar que Dercy Gonçalves iria posar nua para sua revista Penthouse. Dercy não posou nua. E Penthouse nunca mais circulou depois da divulgação deste factóide.



Lenocínio

A propósito, uma questão ética: exploração do lenocínio é crime. Deve a imprensa, conscientemente, aceitar anúncios de prostitutas ou de casas de prostituição? Será isso lícito e ético?



Sous le ciel de Paris

A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, viajou numa sexta-feira, na primeira classe da TAM, para Paris. A imprensa só percebeu o fato na segunda, três dias depois. E se limitou a divulgar uma informação da assessoria de imprensa da prefeita, segundo a qual ela tinha viajado às suas custas, com licença sem vencimentos, e a esbravejar contra a viagem bem na época em que as enchentes castigam São Paulo. Nos tempos em que o prefeito era Celso Pitta, a imprensa era mais vigilante. E queria saber, por exemplo, como é que Pitta conseguia pagar suas despesas com o salário que ganhava.



Investiguemos!

A propósito, tem muita gente na praça que poderia explicar como é que vive, sem fontes suficientes de renda conhecida. Quem sabe poderiam nos ensinar a viver muito bem com salários que nem são tão bons?



Vamos fazer contas?

Tudo muito bom, tudo muito bem, os bancos são grandes anunciantes e, em certas ocasiões, estar próximo de um banco pode salvar um veículo de comunicação. Mas notícia é notícia e o leitor (ou ouvinte, ou telespectador) não pode ser esquecido.

Um grande banco acaba de elevar a TED, taxa de Transferência Eletrônica de Dinheiro, de 5,40 reais para 8 reais. É um aumento levemente superior a 48%, se não me falha a calculadora. Qual o salário, ou produto, que teve aumento sequer próximo deste? E, no entanto, este colunista não teve o prazer de encontrar a notícia em nenhum veículo.

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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados Comunicação