Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

O Estadão em impedimento

O Estado de S.Paulo deu como certa na sexta-feira (21/10) a demissão do ministro dos Esportes (“Dilma vai tirar Orlando e deve manter pasta com PC do B”). No dia seguinte, desmentiu-se: “Dilma ignora denúncias e Orlando fica”. É o preço a pagar por uma certa afoiteza na prática do esporte de “derrubar ministro”, que encanta, desde o episódio Palocci, repórteres e editores de política.

Essas métricas de sucesso profissional muitas vezes se sobrepõem a indagações mais consistentes, como “meu trabalho ajuda a sociedade a se informar e a se esclarecer?”

É como a busca de prêmios de jornalismo. Em várias redações surgiu há algum tempo a figura do “repórter-prêmio”, que só é escalado pela chefia para fazer matérias com as quais o jornal possa ambicionar alguma premiação que renda marketing para a empresa e prestígio interno para os editores. Pouco se questiona a qualidade e relevância das premiações.

Ainda sobre a dança do Estadão: já dizia uma regra antiga que “pode” ou “deve” no título significa que a informação da matéria escolhida como principal não se sustenta. No caso, uma das informações.

Uma cabeça, vários atiradores

Dos jornais mais importantes, a Folha de S. Paulo é a que menos tem especulado no noticiário a respeito da permanência ou queda de Orlando Silva. Na sexta-feira (21) publicou mais uma denúncia (“Entidade ligada a assessor de ministro recebeu R$ 9,4 milhões”) e no sábado, outra (“Esporte cobrou 10% de propina, afirma pastor”); na mesma edição, deu espaço para o ministro se defender. Mas abrigou também especulação, com a chamada “Fifa já ‘demitiu’ ministro, e Temer cita nome de Pelé”.

No mesmo sábado, as relações entre o governo brasileiro e a Fifa animaram o título do Correio Braziliense: “Dilma segura ministro ‘demitido’ pela Fifa”. E as relações internas do lulismo ditaram a sentença do Globo: “Lula manda PC do B resistir e Dilma mantém ministro”.

Quem lê vários jornais (quase sempre por obrigação profissional) tem ideia do emaranhado de relações causais envolvidas nesse tipo de tiroteio. Uma lista nada exaustiva de personagens e instituições: Dilma, Lula, Orlando Silva, Agnelo Queiroz, funcionários graduados do Ministério do Esporte, PC do B, PT, Fifa, Ricardo Teixeira, soldado da PM e outro denunciante, pastor batista…