Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O caso das listas desaparecidas

O pouco espaço dedicado às votações no Congresso americano nas páginas do New York Times foi o tema da coluna desta semana [12/2/06] do editor-público do jornal, Byron Calame. Ele reclama especificamente da não-publicação de listas das votações indicando o voto de cada parlamentar. Há alguns anos, o diário nova-iorquino publicava as tais listas, mas elas foram perdendo espaço e hoje são raridade. Segundo Calame, até votações importantes deixam de ter suas listas de votos publicadas pelo jornal.

O Times não incluiu as listas, por exemplo, na cobertura da recente confirmação pelo Senado do juiz Samuel Alito para a Suprema Corte americana. O jornal não se deu nem ao trabalho de indicar aos leitores da versão impressa o caminho ao Guia Congressional disponível em seu sítio na internet, onde as votações poderiam ser encontradas com um pouco de esforço e paciência. ‘Os leitores perceberam’, afirma Calame.

O ombudsman conta que já recebeu reclamações a respeito. ‘Eu não pude encontrar no Times um box mostrando quem votou o que’, disse por e-mail um leitor da Virgínia. ‘Essa informação não seria essencial aos eleitores?’. Outro lamentou que agora os parlamentares ‘não precisam mais se preocupar em se explicar para o público quando ninguém – nem mesmo os leitores do New York Times – sabe como eles votaram’.

A justificativa do jornal para o fim das listas é falta de espaço. Calame concorda que espaço seja realmente um problema. É compreensível que sejam separados maiores espaços para assuntos de grande interesse, como a cobertura do furacão Katrina e a guerra do Iraque, mas o ombudsman ressalta que um jornal do tamanho e da importância do Times não pode esquecer que presta um serviço público.

E se no papel há a questão do espaço, o mesmo não acontece com a versão online do jornal. Ainda assim, a solução encontrada pelo Times para itens como as listas de votação do Congresso não é ideal. Algumas das listas até são divulgadas no sítio, mas o internauta deve passar por caminhos tortuosos e muitos cliques para – talvez – conseguir encontrá-las. Calame sugere que novas soluções sejam encontradas, como a transmissão em vídeo das votações e a criação de blogs para discutir o assunto.

Frilas e conflitos

Calame abordou um segundo tema esta semana: o uso de trabalho de jornalistas freelancers. Ele conta que, em agosto do ano passado, abordou pela primeira vez o assunto. O aumento do número de prestadores de serviço sem vínculo empregatício no Times poderia provocar conflitos de interesses. Na ocasião, não havia procedimentos formais para a checagem dos freelancers para possíveis conflitos, e o ombudsman deu exemplos de situações em que eles ocorreram dentro do jornal.

A solução encontrada pelos editores foi um sistema eletrônico que organizasse dados de contratos e pagamentos de freelancers, junto com um questionário que permitisse avaliar possíveis conflitos de interesse. Os editores envolvidos afirmaram, na época, que o novo sistema seria incorporado na redação em alguns meses.

Seis meses depois, Calame checou e descobriu que a questão ainda não foi resolvida. A confecção do sistema era, no fim, mais complicada do que todos pensavam, afirma um editor-assistente.