Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Os lados da notícia

Os americanos dizem que notícia boa não é notícia. O mestre Ewaldo Dantas Ferreira me ensinou que as informações divulgadas pela imprensa se dividem em dois grandes grupos: as verdadeiras e as falsas. Os manuais nos informam que a notícia deve ter um quê inusitado – a história do homem que morde o cachorro.

Agora, o pessoal cujos candidatos estão perdendo a eleição inventou a notícia positiva e a negativa (a negativa é a que prejudica seu candidato).

Que tal voltar aos clássicos e verificar se a notícia, positiva ou negativa, é verdadeira ou falsa? A informação de que um candidato era suspeito de comandar assassínios, por exemplo, é negativa para o candidato – mas é verdadeira (e, a propósito, não o impediu de ganhar a eleição). A informação de que um empresário se masturbava na varanda de seu prédio é negativa. Que é que a imprensa deve fazer: deixar de publicar a verdade, por considerar que a verdade pode prejudicar o assassino e o empresário?

Vanderlei Luxemburgo, excelente técnico, tem o hábito de reclamar o tempo todo dos juízes – mesmo quando seu time ganha, mesmo quando a decisão é indiscutível. Ele procura manter a pressão, de maneira a que o árbitro pense duas vezes antes de decidir contra seu time. Aparentemente, é isso que criadores de moda jornalística querem: dar um viés ao noticiário em favor de seus favoritos. Cabe a nós, jornalistas, equilibrar-nos na linha.



Não é bem assim

Desde a histórica ocasião em que o jornal se corrigiu, informando que Jesus Cristo tinha sido crucificado, e não enforcado, não havia correção tão primorosa. Desta vez, informa-se que, ao contrário do que foi dito na reportagem, não é verdade que o uso do telefone celular cause câncer: na verdade, talvez aumente o risco de um tumor benigno – uma verruga, quem sabe.



O Ohio é aqui

Propaganda é comunicação, como o Jornalismo; e também tem compromisso com os fatos. O brilhante slogan da McCann Ericksson, a maior agência do mundo, é ‘A verdade, bem dita’. Mas o anúncio da urna eletrônica não segue este lema, quando diz que a tecnologia é integralmente brasileira. Quem fornece as urnas eletrônicas é uma subsidiária da Diebold, de Connecticut. E a plataforma é o Windows, da Microsoft.



Anúncio é cultura

O grande publicitário Washington Olivetto, certa vez, contratou um craque, o Telmo Martino, para dar uma última olhada em cada um de seus anúncios. Estava certo: um anúncio, em letras grandes, pode ser muito mais chamativo do que uma notícia. Um comercial de TV é visto e lembrado, não pode ter erros. Pois não é que, agora, a agência que faz os anúncios de show de Roberto Carlos diz que será no ‘Pacaembú’? Assim mesmo, com acento, ensinando errado. Gente: palavras oxítonas terminadas em ‘u’ não têm acento – por exemplo, ‘nu’. Aliás, o melhor exemplo nem é este.



Em nome do Mestre

O pior de tudo é o nome da loja: Einstein. Essa loja, Einstein, tem uma ‘ascessoria’ de imprensa. Está na foto – e quem a solicitar a este colunista irá recebê-la via internet.



Da imprensa

1. É atribuída a Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, a informação de que os investidores internacionais sugeriram, durante a reunião do FMI, o ‘aumento do déficit primário’ do Brasil. Tudo bem, a gente nem aprende mais Latim no ginásio, mas a diferença entre déficit e superávit basta ler o jornal para descobrir.

2. Num comentário sobre o debate americano: ‘Embora vestidos de maneira semelhante, suas opiniões divergiram’. Delícia: já imaginou os candidatos trocando de roupa sempre que as opiniões forem opostas? Na hora de defender a união gay, John Kerry colocaria uma gravata com as cores do arco-íris?



Por que não?

Como talvez alguns leitores já tenham percebido, este colunista é corinthiano e acompanha futebol. Então, vamos lá. Na Copa do Mundo de 2002, o meia Ricardinho foi convocado por Luís Felipe Scolari para substituir Émerson, machucado. Viajou para o Extremo Oriente, entrou direto no time e fez uma bela partida. E acabou: nunca mais foi escalado, nem convocado. Mudou o técnico da Seleção, ele mudou três vezes de time, e nunca mais se falou em seu nome para jogar com a camisa canarinho.

Este colunista lê todos os dias o noticiário de Esportes, ouve alguns programas esportivos no rádio, e jamais viu qualquer informação sobre este tema: que é que aconteceu para que Ricardinho não mais fosse lembrado. Não seria interessante se algum repórter nos contasse o que houve?

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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados Comunicação, e-mail (carlos@brickmann.com.br)