Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Os mais iguais que os outros

A revista Veja publicou pesadas acusações contra o promotor José Carlos Blat, que até há pouco tempo foi a estrela máxima do Gaeco, grupo de ação contra o crime organizado. Ficou só na Veja: os outros veículos não entraram no caso. É um erro grave. Se as denúncias parecem fundamentadas, cabe à mídia avançar no caso, sempre lembrando quem iniciou a investigação; se as denúncias parecem pouco fundamentadas, cabe aos meios de comunicação dar essa informação ao público. O que a imprensa não deve fazer – nem pode – é silenciar.

A Associação Paulista do Ministério Público protestou contra a idéia de que os investigados estejam sendo tratados desigualmente. Provavelmente tem razão, em termos de investigação. Ninguém dirá que as investigações sobre um promotor foram menos severas que as habituais.

Mas o tratamento, em termos de comunicação, é diferente, sim. As investigações em torno do promotor Blat não tiveram o volume de publicidade que normalmente as acompanha. Não houve, ao contrário do que ocorreu em Ribeirão Preto, com o amigo do ministro, nenhum promotor suado, correndo escadas para cima e para baixo, mantendo a imprensa informada em real time. Não houve aparato policial, como nas investigações sobre a Daslu e a Schincariol, em que só faltaram encouraçados e torpedeiros no rio Tietê. A TV não foi chamada, ao contrário do que aconteceu quando o próprio Blat apreendeu computadores na prefeitura paulistana. Não houve vazamentos de notícias sigilosas, não é mesmo?

Faltou empenho da imprensa no caso. Nem houve cobrança para que as mesmas técnicas de jogar a opinião pública contra os acusados fossem usadas aqui.



Artilharia da imprensa

O crítico Jacob Klintowitz comenta uma informação da semana passada, a respeito do noticiário que colocava o então presidente Juscelino Kubitschek como a sétima fortuna do mundo. Foi uma campanha maciça, que teve apoio da imprensa, que moldou a opinião pública; e, mais tarde, viu-se que era besteira. Juscelino vivia bem mas estava longe de figurar entre os homens mais ricos do Brasil, quem dera do mundo. Klintowitz lembra outro caso, da mesma época (e também de um personagem retratado na minissérie JK): Israel Pinheiro.

Israel Pinheiro foi o grande executivo da construção de Brasília. Criou e dirigiu a Novacap, que gerenciou todo o trabalho da nova capital. Dizia-se que, no cargo, fez fortuna. Mais tarde, foi governador de Minas, em oposição ao regime militar. Um homem importante; a opinião pública estava convencida de que era muito rico. Não era: há alguns anos, Jacob Klintowitz visitou sua viúva, para selecionar algumas obras de arte que figurariam num livro. As palavras de Klintowitz:

‘A viúva morava num bom apartamento de classe média. Só isto. O que é muito pouco, dado os cargos elevados que Israel Pinheiro teve. A coleção de arte era pequena e de pouco valor mercadológico (…) Saí pensando na calúnia e no rumor, costumes do qual todos nós, figuras públicas, já fomos vítimas’.

As histórias sobre a riqueza de Israel Pinheiro foram esquecidas – mas, como no caso de Juscelino, sem que ninguém se retratasse, sem que ninguém admitisse o erro, sem que a verdade fosse reposta. A dúvida é a mesma que surgiu no caso JK: e os acusados de hoje, se tiverem razão, quem os reabilitará?



Números em queda

O jornal de maior circulação no país é a Folha de S.Paulo, com média diária de 307.900 exemplares. Não faz muito tempo, Folha e Estado ultrapassavam o milhão de exemplares aos domingos (a Folha chegava a um milhão e meio). A redução não se resume à Folha e ao Estado: Globo, Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil também tiveram de encolher.

Responda depressa:

1. Se o conteúdo dos jornais estivesse interessando a seus leitores, a circulação teria caído tanto?

2. Imagine uma empresa cotada em Bolsa. Se sua produção e vendas caíssem como a circulação dos jornais, que aconteceria com suas ações?



Números em debate

A Rede Record comemorou os picos de audiência de seu principal telejornal. Mas não é bem assim: o grande pico do telejornal é herança da novela e, à medida que o tempo passa, a audiência vai caindo. Tudo bem: jornal de TV não é atração para o público à altura das novelas. Ruim é proclamar que o jornal tem audiência quando, na verdade, quem tem audiência é a novela.



Maravilha da internet

Um jornalista dos mais competentes, leitor habitual desta coluna, envia-nos uma pérola de texto – o título de um site português: ‘Libertação de gases prejudica a saúde’.

Não se escandalize: a matéria é sobre a briga da comunidade contra um lixão que espalha o mau-cheiro por toda a redondeza.



A força da imagem

É incrível. Já se falou tanto a respeito das charges e dos tumultos muçulmanos e ninguém tocou num ponto que, para este observador, é o que mais interessa à imprensa: a força das charges. Não é sempre que uma imagem vale mil palavras, mas, associada ao humor, torna-se devastadora.

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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados