Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Parar e pensar

Foi muito bom o debate no programa do Observatório da Imprensa na TV de terça-feira (8/11), de que participaram ao vivo Alberto Dines, Aziz Filho, Rangel Bandeira e Eurico Lima Figueiredo, além de profissionais cujos depoimentos foram gravados.

Dines, na abertura, sintetizou: hora de parar e pensar. Pensar se pautas jornalísticas irrigadas pelo sensacionalismo, com sua banalização da dor e da morte, fazem sentido, e se, fazendo sentido, a cobertura pode ser feita com os precários meios atuais. Precários para a própria polícia, que no domingo aparecia combatendo sem capacetes, que dirá para jornalistas.

Logo estarão nestas páginas uma reportagem sobre as falas e o vídeo completo da edição.

Coletes não evitaram morte e ferimento

Cabe observar, porém, em relação a um dos temas discutidos, que embora tenha sido um avanço jornalistas terem passado a usar colete “à prova de bala”, após intensa demanda do sindicato da categoria, não há notícia de que algum ferimento ou morte tenha sido evitado pelo uso do colete.

As pessoas que chegaram a ser alvejadas não ficaram imunes a balas.

No domingo (6/11), o cinegrafista Gelson Domingos foi assassinado por uma bala de fuzil que atravessou o colete e o próprio corpo do profissional. Nem foi encontrada para realização de prova de balística.

Em novembro de 2010, o fotógrafo da Reuters Paulo Whitaker, que trabalhava com colete e capacete, levou um tiro no ombro, parte descoberta. Ele participava da cobertura de um dos episódios mais sangrentos do uso da força pela polícia, quando 39 supostos bandidos foram mortos, uma mulher, um soldado do Exército, uma criança e um homem foram feridos no Morro do Alemão.

Num outro caso, não foi a insuficiência do colete a razão da tragédia. Em 2005, a repórter da TV Band Nadja Haddad não teve tempo de vestir o colete, ainda no carro em que chegava ao Morro Dona Marta, e teve o pulmão perfurado por uma bala e escapou, felizmente, de ficar tetraplégica. Dir-se-á que ela já deveria ter chegado com a proteção.

Rebate falso

Os participantes do programa deixaram escapar o fato que explica tanta participação de mídia na cobertura de uma operação na distante favela de Antares, em Santa Cruz, e possivelmente o nervosismo que tomou conta de policiais e jornalistas.

É que a mídia fora atraída pelo boato de que a operação seria na Rocinha. Foi um episódio em que imperou a confusão de uma ponta a outra. O Bope, que já não desfruta mais da imagem de corporação eficaz e livre de corrupção, embora sempre truculenta, deu ao Batalhão de Choque a informação errada de que a situação estava sob controle. Por isso os jornalistas seguiram os PMs do Choque. E, surpresos, policiais e jornalistas encontraram pesada resistência de traficantes.

A vez da Rocinha?

Resta dizer que o noticiário de terça-feira (8/11) trouxe indicações de que a invasão da Rocinha é iminente. A Record noticiou que o traficante Nem, Antônio Francisco Bonfim Lopes, chefe do tráfico da Rocinha, procurou, sob escolta de 40 capangas armados, uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) para se tratar de overdose contraída numa festa de despedida da favela.

O delegado da Gávea, Carlos Augusto Nogueira, disse à reportagem da Record que a data prevista – e informada aos traficantes − é 10 de novembro, quinta-feira. Isso explicaria a retração do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, que não apareceu em nenhum momento antes, durante ou depois da confusão operação de domingo. Preferiria aparecer em situação mais favorável. Na Veja com data de 9/11, a previsão é de invasão no dia 13, domingo.

É lícito desconfiar que algo no programado ataque à Rocinha falhou e uma guinada de última hora desviou policiais e seus seguidores jornalistas.

Para que uma ocupação da Rocinha tenha êxito, será preciso que a vantagem policial seja tão esmagadora que os traficantes prefiram fugir a reagir. Qualquer outra hipótese tende a ser desastrosa.