Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Por que os criminosos gostam de nós

Os narcotraficantes colombianos, informa a imprensa, escolheram o Brasil como país de refúgio. Nos filmes europeus e americanos, uma frase é recorrente: o criminoso diz que vai dar um grande golpe e depois fugir para o Brasil.

De vez em quando a polícia prende algum criminoso – como este supertraficante, apontado como sucessor de Pablo Escobar. Um grande repórter, Fernando Portela, faz as perguntas que os meios de comunicação deveriam estar fazendo:

1. Como compraram seus imóveis? Quem os vendeu? Qual foi a forma de pagamento? Em nome de quem estão as escrituras?

2. Como compraram os carros? Quem vendeu? Qual a forma de pagamento?

3. Como compraram os aviões e helicópteros? Em nome de quem? Quem vendeu? Qual a forma de pagamento? Como alugaram o hangar?

4. Com que bancos, financeiras ou factorings trabalhavam?

5. Aquele que exportava frutas com cocaína tinha guias da Cacex?

6. Que empresas eram responsáveis pelo embarque das frutas?

Se o caro colega já comprou um imóvel ou abriu uma empresa, sabe como é a chateação de conseguir tantas guias, certidões, declarações. Ou essa papelada é inútil (e os cidadãos comuns bem poderiam ser poupados dela) ou é útil, e nesse caso não se entende como os narcotraficantes se movem com tanta tranqüilidade.

Como dizia o lendário Deep Throat aos colegas Bob Woodward e Carl Bernstein, sigam o dinheiro. Os cúmplices automaticamente aparecerão.

Direitos em conflito

Nos Estados Unidos e na Inglaterra, países tão democráticos como o nosso, em que a liberdade de imprensa, embora com altos e baixos, é exercida há séculos, não é permitido tirar fotografias em tribunais. Lembre-se do sensacional julgamento do atleta campeão O. J. Simpson, acusado de matar sua mulher. O público teve de se contentar com desenhos – e olhe lá. O objetivo é evitar que um julgamento, um ato solene, de certa forma trágico, em que se joga a reputação e o futuro de seres humanos, seja transformado em espetáculo.

No Brasil, seguimos um caminho diverso. É permitido fotografar, filmar, televisionar. Criou-se até um canal de TV específico para a transmissão de atividades judiciárias. Se o espetáculo é livre, ninguém pode se queixar da imprensa: ao fotografar a tela dos computadores de dois ministros, o fotógrafo Roberto Stuckert Filho seguiu a lógica do que aqui é permitido. Não se escondeu atrás de cortinas, não ocultou sua câmera, não usou nariz postiço como disfarce: agiu abertamente, dentro das regras do jogo. Fez o que devia, e o fez muito bem.

Direitos? Que direitos?

Há uma questão que foi pouco abordada pela imprensa e que, considera este colunista, é a mais importante de todas. Quarenta pessoas estão sendo julgadas e têm em jogo seus bens, sua idoneidade, sua liberdade. Têm o direito de ser ouvidas; têm o direito de expor o caso de sua maneira. Seus advogados estudaram o caso, construíram a defesa, juntaram documentos. E para quê? Para que os ministros, em vez de ouvi-los antes de tomar uma decisão, fiquem proseando pela intranet e discutindo como será preenchida uma vaga no Tribunal?

Os acusados têm, no mínimo, o direito de ser julgados por juízes que prestem atenção naquilo que estão julgando.

As plumas ao vento

Já se fizeram todos os comentários, charges, piadas, ironias, até mesmo grosserias. Só que o estilista Ronaldo Ésper foi absolvido da acusação de furtar vasos de um cemitério em São Paulo.

Nos meios de comunicação, Ésper foi tratado quase como um vampiro, um saqueador de túmulos. Mas alguns detalhes não foram observados nas reportagens: por exemplo, de quem eram os vasos? O dono jamais apareceu (tanto que o juiz, na sentença, diz que os vasos foram retirados de um local abandonado). E, principalmente, os vasos não chegaram a ser retirados do cemitério.

Enfim, a discussão é outra: de acordo com a Justiça, Ésper é inocente. E como ficam os meios de comunicação que o consideraram culpado, sem admitir sequer a possibilidade de prova em contrário?

O famoso Land Rover

Marcelo, assíduo leitor desta coluna, consultou a tabela FIPE de preços de automóveis e complementa a notícia da semana passada sobre a Land Rover de Sílvio Pereira, na época em que era secretário-geral do PT:

‘Só para manter uma linha correta de pensamento, uma Land Rover Defender (que era a Land Rover do Silvio Pereira), se fosse comprada 0 km hoje (e pelo que eu sei a dele era 2003), custaria $ 94.930,00. Uma Toyota Fielder, também comprada 0 km, hoje custaria $ 83.244,00. Ambos são carros de classe média’.

OK, registrado. Só que a Land Rover era um presente e a Toyota, ao que se saiba, é dele. De qualquer forma, nenhuma das duas, ao contrário do que foi insinuado numa reportagem, demonstra que o proprietário é rico.

A opinião de Mônica

Mônica Veloso, mãe de uma filha de Renan Calheiros, assim define o resultado de suas fotos para Playboy: ‘Fashion e moderno’. Moderno? Pelo que dizem os velhos livros, nossa mãe Eva andava daquele jeitinho antes do pecado original, quando se vestiu com as folhas de parreira. E fashion? Fashion, no limitado vocabulário estrangeiro deste colunista, significa ‘na moda’. De certa forma, está certo. Mulher pelada, para uma minoria específica, está sempre na moda.

A opinião de Neil

Neil Ferreira, publicitário de primeiro time, viu na internet algumas fotos tiradas por Mônica Veloso para a Playboy. Sua opinião:

‘Cumpanherada di luta,

 ‘O UOL divulgou fotos da Mônica do Renan, que saem (ou sairão) na Playboy. Renan está perdoado.

‘Renan teve um enorme trabalho, e a um custo altíssimo, para recuperar a nossa auto-estima. A Mônica dele dá de dez na Monica do Bill Clinton (a Lewinsky, a do vestido manchado).

‘O que os encenadores estão fazendo com Renan não tem nada a ver com ‘defesa de decoro’ lá deles.

‘É pura dor de cotovelo.

‘Renan tem o meu apoio sincero.

‘Eu vaiava lulla e Renan. Agora vaio só o lulla.’

Salada completa

Está tudo no mesmo texto: um casal espanhol abandonou sua filha de cinco anos na rua, enquanto ia a uma festa. Segundo a notícia, uma vizinha alertou a polícia sobre o abandono. Dois parágrafos mais tarde, quem chamou a Polícia foi o outro filho do casal, um menino de 12 anos, quando viu que os pais chegaram bêbados e sem sua irmãzinha.

E eu com isso?

O evento ocorreu pouco menos de cinco séculos antes de Cristo. O exército persa, comandado pelo rei Dario, tentava tomar a cidade grega de Maratona. O soldado grego Fidípedes correu até Atenas, a pouco mais de 40 km, para pedir reforços. Mais dez mil soldados foram enviados à batalha, e os persas tiveram de recuar. O general grego Milcíades determinou então a Fidípedes que levasse a boa notícia a Atenas. Fidípedes correu de novo os mais de 40 km e, ao chegar a Atenas, disse só uma palavra: ‘Vencemos’. Em seguida, morreu.

Tempos duros, aqueles. Telecomunicações, só com sinais de fumaça, tambores, espelhos – ou corredores incansáveis como Fidípedes. Nunca poderíamos, nos velhos tempos, saber que

** ‘Cameron Dias e Jude Law poderiam realizar viagem romântica’

(A propósito, poderão ou não? ‘Poderiam’ é muito vago, não sacia nossa sede interminável por notícias relevantes!)

** ‘Letícia Birkheuer aproveita sol com namorado na praia’

** ‘Grazi e Cauã Reymond vão ao teatro no Rio’

** ‘Ex de Ivete troca beijos com empresária em boate’

O grande título

Um concorrente razoável é…

**Cão de Britney teria quebrado a pata e ficado sem tratamento’

Não há certeza nem de que o bicho tenha quebrado a pata. Quanto ao tratamento, há três versões:

a) O cachorro não quebrou pata nenhuma;

b) O cachorro quebrou a pata, mas foi tratado. A pata está engessada.

c) O cachorro quebrou a pata e ninguém deu bola para ele.

Mas o grande título está na área internacional:

** ‘Irã diz que usará `bomba inteligente´ apenas contra seus inimigos’

Ainda bem: os amigos estão a salvo da fúria dos aiatolás!

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Jornalista, diretor da Brickmann&Associados