Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Por que a Folha deixou
Lula fora da pesquisa

A Folha de S.Paulo é um jornal maroto. No domingo (2/12), publicou uma seqüência de matérias com base nas três pesquisas de seu instituto Datafolha: a primeira, sobre apoio à tese da reeleição ilimitada, mostrava que 65% dos entrevistados rejeitam a possibilidade; a segunda, sobre a popularidade ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, revelou que subiu em 2 pontos percentuais em relação ao último levantamento (de 48% para 50%) o número de entrevistados que aprova a gestão Lula; a terceira foi a tradicional pesquisa de intenção de votos entre os pré-candidatos à presidência da República – e o governador de São Paulo, José Serra (PSDB) apareceu na liderança na maior parte dos cenários.


O problema está justamente na última pesquisa. Por que motivo não foi apresentado nenhum cenário em que Lula pudesse disputar a eleição, já que o jornal pesquisou justamente esta possibilidade? O Datafolha descartou o candidato Lula ou fez a pesquisa e não apresentou o resultado? O atento ombudsman do jornal, Mário Magalhães, escreveu sobre o assunto em sua Crítica Interna:




Datafolha e reportagem


‘O que incomoda na manchete dominical da Folha, `65% rejeitam 3º mandato para Lula´, não é o seu destaque: quem tem alimentado a discussão sobre a possibilidade de renovação do mandato de Lula são aliados do presidente.


‘O problema é que o jornal se limita a reproduzir os números da pesquisa.


‘Era fundamental apurar quais são as intenções de Lula e dos seus círculos mais ou menos próximos em relação ao terceiro mandato. Mais uma vez, o Datafolha virou bengala do jornal.


‘Reportagens sobre articulações pró e contra Lula 3 e a respeito dos bastidores das disputas entre pré-candidaturas presidenciais teriam enriquecido jornalisticamente o levantamento do instituto.


‘Nada disso se viu.


‘Dois pitacos: a pesquisa sobre intenção de voto para 2010 parece importar mais a partidos e políticos que aos leitores; o nome de Lula deveria constar nos cenários apresentados aos eleitores para 2010 – há inegável interesse jornalístico nessa informação.’


Favor aos leitores


O ombudsman poderia ter ido além: por que razão o Datafolha não realizou nenhum cenário com a presença do também tucano ex-governador Geraldo Alckmin, candidato derrotado por Lula em 2006? Ele de fato diz que não é candidato a nada, mas este critério deixaria de fora vários dos nomes que foram incluídos, como os das petistas Marta Suplicy (candidata assumida ao governo paulista) e Dilma Rousseff. Alckmin, se disputar e vencer a eleição municipal em São Paulo, pode perfeitamente se tornar uma nova pedra no sapato de José Serra.


Nos bastidores, correu a informação de que quando Lula entra na disputa com Serra, bate o tucano pela grandeza de 40% a 20%. Ao deixar de publicar este cenário, se é que o pesquisou, a Folha prestou um desserviço aos seus leitores, animou os partidários da candidatura de Serra e deu margem a toda sorte de especulações sobre a performance do atual presidente.


O ombudsman Mário Magalhães certamente tem condições de saber detalhadamente o que o Datafolha fez ou não fez. Se tornar pública esta informação, terá prestado um grande favor aos leitores do jornal, que de outra forma têm todos os motivos do mundo para desconfiar de uma certa preferência da Folha pela pré-candidatura de seu ex-colunista e hoje governador de São Paulo.

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Blog do Autor: Entrelinhas