Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Queixa pública direta

João Ubaldo Ribeiro usou a arma que maneja com virtuosismo — o teclado — para fazer na sua coluna dominical (18/12), publicada em dezenas de jornais, entre eles O Estado de S. Paulo e O Globo, uma denúncia que já deveria ter aparecido como reportagem em editorias que tratam de saúde pública. E dá o que falar — o que não garante que tal fala se materialize em páginas impressas, ou digitalizadas, e tempo de televisão, ou de rádio.

O escritor e jornalista descreve sua antiga adesão a um plano de saúde individual do Bradesco e relata que durante muito tempo não teve queixas, salvo as relativas “aos aumentos nocauteantes que se sucedem em cascata, à medida que o segurado vai ficando mais velho”.

Mas diz que as coisas estão mudando: “Segundo eu soube, minha seguradora não quer mais saber de clientes individuais, só empresas e organizações”.

E descreve o que seria uma estratégia empresarial destinada a fazer os clientes individuais “desistirem de tudo o que já pagaram, praticamente ao longo de toda a vida adulta”.

A percepção não é nova. Alimenta conversas entre familiares, amigos e colegas há alguns anos. Aparece agora, talvez pela primeira vez, com grande exposição em veículos influentes.

Libelo na primeira pessoa

Ubaldo afirma que “não é campanha, nem nada, é a veiculação de uma queixa geral, não apenas dos bradesquistas”. No início do artigo, ele cita casos de pessoas desesperadas porque seus planos de saúde faliram e dá a informação de que, segundo reportagem que viu na televisão, de 2010 para cá cerca de oitenta planos faliram.

Duas reações a conferir: a dos diferentes canais de mídia, na maioria contemplados com farta publicidade do Bradesco, e a do próprio banco e sua seguradora.

O que também é provável é que se diga que Ubaldo não deveria escrever em causa própria, o que ele faz explicitamente. Se se tratasse de noticiário, é muito claro que não: seria uma “carteirada”. Mas o fato é que muita coisa, na imprensa brasileira, só é dita, ou só é dita com clareza, em crônicas ou colunas de opinião.

O noticiário às vezes não comporta a visão crítica, ou é feito por pessoas que não a têm, ou, validamente crítico, é suprimido por ser incômodo.