Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Um soco na boca do estômago

Diploma de jornalismo agora é desnecessário. Um retrocesso em uma conquista.

Foi assim que me senti ao receber uma notícia na noite de ontem (17/6), no intervalo das bancas de monografia da faculdade de Jornalismo onde trabalho. Paramos cinco minutos para um café e qual não foi a minha surpresa ao receber um telefonema com a bela novidade: o Supremo Tribunal Federal brasileiro votou por 8 votos a 1 o fim da regulamentação da profissão de jornalista no Brasil. Não será mais exigido o diploma para o exercício legal da profissão.

Veio um filme em minha cabeça. Lembrei-me daquela turma do último ano de comunicação social quatro anos atrás e os associei ao momento presente quando passamos horas maravilhosas discutindo a comunicação, suas origens, responsabilidades, respeito ao povo brasileiro e compromisso com a ética. Os alunos deram um ‘banho’ de seriedade ao apresentarem temas complexos do jornalismo atual. Algumas questões geraram reflexões profundas e nos fizeram pensar sobre essa decisão insensata.

O presidente do Supremo, ministro Gilmar Mendes, relator do projeto, se baseou em uma discussão de que a obrigatoriedade do diploma fere a liberdade de expressão, garantida pela Constituição. Falar o que quer, escrever sobre o que deseja é possível. Estamos na democracia. Mas para isso não precisa ser jornalista. A profissão pode continuar a ser regulamentada e as pessoas se pronunciarem. A questão é o retrocesso da conquista de uma categoria que sofreu muito, sendo perseguida no período da ditadura militar e que agora terá que se justificar muito para continuar a trabalhar com dignidade.

Agora é erguer a cabeça

É claro que a criatividade, a seriedade e a competência de quem passa quatro anos na faculdade refletindo sobre o país e o mundo não se discute. Nos Estados Unidos e na Europa, o diploma não é exigido. No entanto, as empresas buscam aqueles que têm o curso de Jornalismo para não correrem o risco de serem processadas por danos morais, sendo obrigadas a pagar indenizações enormes. Jornalistas também erram e são processados. Porém, em toda profissão há bons e maus profissionais. Existem pessoas muito competentes que trabalham com comunicação. Ninguém aqui tira o mérito delas. A questão é que para isso não seria necessário acabar com a regulamentação.

Os interesses por trás dessa decisão é que assustam. O que virá com ela nas grandes empresas? Esse dia ficará marcado na história do nosso país. Podem anotar.

O ânimo, a vontade de acertar e a responsabilidade para com a profissão passam a ser ainda maiores, porque vale a pena ser jornalista. Tenham certeza disso. Agora é erguer a cabeça, lembrar dos maravilhosos textos lidos no período de estudo. Relembrar as discussões geradas pelos estudiosos da área. E esperar que as consequências para o nosso país não sejam tão drásticas.

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Jornalista e professora universitária do curso de Jornalismo, Ubá, MG