Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A anacrônica luta pelo controle da internet


O controle da internet é o tema dominante na reunião mundial que começou hoje (16/11) em Tunis e que promete reviver algumas das mais obtusas discusssões da época da guerra fria. É uma volta ao passado num momento em que uma parcela crescente da sociedade mundial procura explorar as potencialidades de uma nova ferramenta de comunicação.


Governos como os dos Estados Unidos que pretendem controlar a internet com o pretexto de impedir que ela caia nas mãos de terroristas e governos como os do Irã, Coréia do Norte, Cuba e Venezuela, considerados anti-democráticos pela Casa Branca.


No lado oposto, estão países como Índia, Brasil, Africa do Sul e China, apoiados pela grande maioria das nações pobres que defendem a criação de uma governança internacional para a internet, onde ninguém tenha a hegemonia e nem a possibilidade de controlar o sistema. A União Europeia pode ser o fiel da balança.


A chegada da velha politica à internet mostra como a rede se tornou importante no mundo atual, mas revela também o grau de atraso da maioria dos dirigentes mundiais em relação à nova cultura digital.


A internet é tudo o que é hoje justamente porque nunca ninguém teve a chance de controla-la. Aliás o sistema foi desenvolvido pelo Pentágono para não depender de ninguém e poder sobreviver a uma hecatombe nuclear.


Mas a rede mundial de computadores extrapolou seus propósitos iniciais e ganhou vida própria. O fato de não ter tido nenhum dono, até agora, não transforma a internet num paradigma de democracia. Longe disto, temos ai as mega empresas como Microsoft, Google, Oracle, IBM, Yahoo ao lado de bilhões de pessoas que estão totalmente marginalizadas da comunicação dogital.


O que estamos assistindo em Tunis é na verdade um confronto entre uma velha e uma nova forma de fazer política. De um lado os caciques tradicionais, especialistas em acordos secretos e em decisões verticais. No outro, uma comunidade informal de mais de um bilhão de pessoas, sem líderes institucionalizados e que decide com base no consenso horizontal.


Estou simplificando para poder minimamente contextualizar a questão. De um lado a cultura política que se estruturou ao longo de séculos no poder centralizado. Do outro, uma cultura que tem pouco mais de duas décadas e que está sendo construida através da Web (a interface gráfica da internet) com base da valorização do livre fluxo de conhecimentos.


A velha política acha que a internet e a web podem ser manipuladas como os governos controlavam a imprensa, ignorando o fato de que ambas liberaram forças econômicas e sociais que são essenciais para a sobrevivência do sistema no qual vivemos hoje.


A internet não seria o que é hoje sem a política de código aberto, cujo principio basico é a colaboração. O conceito de controle vai na contra mão desta idéia, e isto todos os gurus digitais sabe de cor.


O problema atual da internet não é falta de controle mas sim a exclusão digital de quase 3/4 partes da humanidade. O fim desta exclusão não é uma meta filantrópica e sim uma exigência do crescimento da Web. Teorias digitais como a dos sistemas de reputação, que servem para parâmetro de credibilidade, mostram que a eficiência da rêde aumenta na proporção direta do número de pessoas incluidas na comunidade online.


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